13 de fevereiro de 2022

Primeira Impressão

The Gods We Can Touch
AURORA





Devo admitir que não tinha a menor esperança a cantora Aurora depois do meu primeiro encontro com a cantora em 2015 com o EP Running with the Wolves. E por causa disso, nem prestei atenção a carreira da jovem até 2020 com o lançamento do ótimo single Exist For Love. Redescobrir a cantora foi no melhor momento possível, pois a cantora entrega em The Gods We Can Touch, o seu terceiro álbum, um trabalho realmente irresistível.

A melhor definição para o resultado de The Gods We Can Touch é mágico. Produzido pela própria cantora e seu colaborador de longa data Magnus Skylstad e algumas poucas coproduções, o álbum é o tipo de trabalho que mostra que a artista tem uma definição própria sobre o que é o pop. E, principalmente, como a mesma deve construir canções que essencialmente apresentam bases conhecidas. Teoricamente, o álbum é uma mistura delicada, etérea, angelical e celestial de indie pop, folk pop e toques de electropop, mas essa definição é usada apenas para dar uma “cara” para o álbum já que a produção explora os limites desses gêneros para entregar um trabalho maduro e original. Essa característica já tinha sido mostrada com o lançamento dos singles, especialmente o ótimo Giving In to the Love ao ser “uma mistura refinada e complexa de art pop com indie pop que consegue ser complexa devido a seu bem construído e substância arranjo. Sem medo de criar uma canção que não seja exatamente comercialmente viável, a produção encontra o equilíbrio em saber referenciar sem soar como uma cópia ou pretensiosamente artístico”. Esse resultado mostra muito bem a maturidade que Aurora se encontra em The Gods We Can Touch.

Para aqueles que nunca ouviram a cantora nesse momento da carreira é necessária uma comparação que ajuda a muito bem explicar a sua persona artista: uma cria da Björk devido a sua peculiar personalidade com o lado experimental da Kate Bush, somando a atmosfera épica da Florence and the Machine e delicadeza misteriosa da Enya. Uma mistura que parece não fazer sentido, mas que parece desabrochar na Aurora. O mais importante, porém, é que a cantora encontra o seu equilíbrio e, principalmente, a sua personalidade como demostra cada momento de The Gods We Can Touch. Essa capacidade de remeter a tantas artistas únicas e, ao mesmo tempo, soar completamente original é o que dá para o tempero necessário para o álbum funcionar do começo ao fim. A roupagem dos anos 1980 para You Keep Me Crawling é um atalho fácil para esse indie pop, mas a construção instrumental que usa de percussão para dar corpo dá para a canção o poder necessário para que a canção alcance o tom perfeito para a composição sobre se humilhar no amor. A delicadeza tocante da já citada Exist for Love “remete a sonoridade dos anos cinquenta de cantoras da época e, principalmente, canções feitas para os filmes da década, especialmente Moon River”. Outro ponto interessante que a produção apresenta é as transições sonoras que as canções apresentam que começam de uma maneira e se apresentam até o seu final de maneira bem opostas devido a inclusão de quebras surpreendentes.

A Temporary High poderia muito bem se destoar do resto do álbum ao parecer ser uma synthpop oitentista com influência do The Weeknd. Todavia, a delicada voz de Aurora e a sua performance ajuda a faixa a ter fortes resíduos de singer-songwriter que transforma a canção em algo mais profundo e interessante. E é devido a presença vocal da cantora que boa parte do funcionar do resultado de The Gods We Can Touch surge. Com uma voz de cristal e angelical, a cantora consegue se moldar de maneira rara nas canções, pois, ao não perder o seu estilo próprio, consegue criar bolhas luminosas que conseguem criar a fricção exata para criar a sensação de nada fazer sentido, mas funcionar como a mais perfeita engrenagem. Em Exhale, Inhale, a cantora incorpora a sua influencia folk para dar uma atmosfera de conto de fadas sombrio. A épica Blood in the Wine mostra o lado mais épico da cantora em uma performance madura. Todavia, o melhor momento vocal do álbum é exatamente na melhor canção do trabalho: Everything Matters é uma emocionante, bela e tocante balada pop/folk que conta com a ótima participação da cantora francesa Pomme. Outros momentos de destaque ficam para da synthpop cristalina HeathensA Dangerous Thing e a sua belíssima instrumentalização e, por fim, a surpreendente Artemis e o seu toque de tango no arranjo. O The Gods We Can Touch é um aviso que nunca devemos julgar de maneira decisiva um artista, pois se fosse assim estaria perdendo essa magnifica evolução da Aurora.


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