15 de janeiro de 2023

Primeira Impressão

SOS
SZA




A trajetória da carreira da SZA é algo realmente impressionante e bastante única. O sucesso do seu debut Ctrl de 2017 foi crescendo aos poucos com o publico que foi descobrindo a obra aos longos dos anos. Aliando-se a isso, a cantora foi criando uma áurea sobre a sua persona que parece emoldurar o que a Frank Ocean construiu. Lançando aperitivos desde o final de 2020, a cantora finalmente lança o seu segundo álbum intitulado SOS, conseguindo se estabelecer como um dos principais nomes do mainstream com um verdadeiro arraso quarteirão. Entretanto, artisticamente é ainda um passo seguro na carreira da SZA, longe ainda da total consagração plena.

Com vinte e três faixas e mais de uma hora de duração, SOS é épico, grandioso, longo, inflado e carismático trabalho que entrega o suprassumo do R&B contemporâneo com toque leves de pop, indie, hip hop, alternativo e rock que consegue estabelecer a SZA como uma força poderosa de criar quase um jukebox de possíveis hits um após o outro. Todavia, a produção deixa a desejar no instante que esse escopo todo falta uma carga de exploração das possibilidades que a sonoridade ouvida é capaz de chegar. Não estou querendo que a SZA vire a Björk do R&B, mas sinto que SOS seria ainda mais poderoso se a produção pudesse “brincar” em quebrar expectativas ao adicionar camadas e texturas reluzentes que tirassem essa sensação de todo muito bom, todo muito bonito, tudo muito mais do mesmo. E isso aliando-se ao grande número de faixas criar a famosa coleção de fillers que dá uma baqueada no resultado final, especialmente devido a fato de deixar parte da experiência arrastada. Essa sensação aumento quando começa a tocar faixas que mostram de clara o que SOS poderia terminar com um pouco mais ousadia: a ótima e inusitada parceria com Phoebe Bridgers em Ghost in the Machine. Revigorante, esquisita na melhor definição da palavra e marcante, a faixa é a perfeita quebra ao entregar uma refinada R&B/indie que apresenta uma produção ousada sem fazer nenhuma das envolvidas perderem personalidades. Outro momento realmente interessante dentro desse aspecto é a Open Arms com a presença do rapper Travis Scott, entregando uma envolvente e aveludada mistura de R&B, rap, pop e que tem o seu ponto a adição de um sample de música afro que eleva a canção de forma notória. Quero deixar bem claro que esses pontos levantados se referem ao fato do que SOS faltou para ser um álbum genial, pois estamos diante de trabalho sensacional.

Trabalhando com vários nomes distintos como, por exemplo, Darkchild, Babyface, Jeff Bhasker, Benny Blanco, Shellback, entre outros, SZA entrega um trabalho que apesar da falha já citada é extremamente coeso do começo ao fim, deixando a experiência bastante harmônica e agradável. E isso é feito difícil devido ao tamanho e duração do álbum. Outro ponto importante é percebermos que todos produtores envolvidos souberam muito bem expressar o que a artista apresenta como a sua personalidade artística, consolidando a SZA como uma diva R&B que volta a fazer o gênero ser comercial. E isso é algo que realmente precisa ser louvável, especialmente em uma época que esse R&B parecia renegado ao segundo escalão. Uma das melhores que representam essa face da cantora é a sensacional Good Days: “um trabalho complexo, inteligente e com uma personalidade poética que sabe tirar de um tema “banal” algo realmente edificante. Além disso, a produção é outro grande acerto, pois, sem sair longe do R&B contemporâneo que a fez a cantora estourar, consegue entregar uma instrumentalização forte, rica, inspirada e com estufo primoroso, especial na parte final que o arranjo toma conta com adição de nuances muito bem vindas”. O que realmente faz de SOS um grande trabalho é a lírica de SZA.

Em resumo bem simples, o álbum é um grande desabafo da cantora sobre estar triste e, ao mesmo tempo, com tesão. Tem canções que falam sobre a tristeza (a ótima Love Language), tem canções que fala sobre estar com tesão (Seek & Destroy) e tem canções que combinam os dois temas em apenas uma faixa (o hit Kill Bill). Claro, os subtemas que a SZA explora são diversos, mas é basicamente dentro desse universo que SOS navega em suas composições. E mesmo ficam levemente repetitivo, o resultado é excepcional devido a imensa habilidade da cantora em escrever letras com um apelo emocional na medida ao mesmo tempo que equilibra com pitadas eficientes, divertidas e ousadas de referencias pop. Escrevendo boa parte das canções sozinha e quando tem uma parceria é apenas uma pessoa, a completude do trabalho lírico aqui é realmente impressionante, complexo e profundo e que deixa a SZA entre uma das melhores compositoras da atualidade. E fechando o pacote está a presença radiante, melodia e emocional das performances da artista que sem precisar mostra nada de novo e ter apenas alguns usos de efeitos vocais desnecessários aqui e ali, mostrando todo o seu alcance como uma verdadeira diva R&B. Outros momentos que precisam ser citados como destaque de SOS ficam por conta do single Shirt que “apresenta uma suculenta atmosfera da sonoridade feita para o R&B no começo dos anos dois ao ter uma batida cadenciada e bem demarcada com a base de percussão que dá para a canção uma vibe sensual e bastante envolvente”, o ótimo uso do sample da performance do rapper já falecido Ol' Dirty Bastard em Forgiveless, a delicada Blind e a sua influência indie, a aveludada Gone GirlNobody Gets Me e a sua atmosfera de abertura de Big Little Liars e a crônica sobre autoestima em SpecialSOS não é exatamente o trabalho que irá fazer SZA entregar o seu ápice, mas é certeza que irá fazer a mesma alcançar um novo e altíssimo pico da sua carreira.


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