Reneé Rapp
Em BITE ME, segundo álbum da carreira da cantora Reneé Rapp, o mesmo problema do álbum do Benson Boone: o talento, especialmente o vocal, da artista não está no mesmo nível da produção entregue. Felizmente, o resultado aqui tem lapsos verdadeiros do potencial da artista, criando um álbum verdadeiramente bom.
Como já apontado, o grande destaque do álbum é a presença imensa e marcante da Reneé, que consegue injetar doses cavalares de carisma e personalidade, sendo ajudada pelo domínio total da sua poderosa e mutável voz. A cantora, que também tem grande experiência no teatro musical, consegue não apenas moldar a sua voz para se encaixar perfeitamente em todas as vertentes do álbum, mas também tem um total domínio de como interpretar cada canção, adicionando nuances, humor, texturas e uma distinta personalidade que se beneficia da sua bagagem. Todavia, a cantora usa essa experiência para criar uma consistente e interessante persona que é, indiscutivelmente, uma cantora pop do começo ao fim. E é isso que dá toda a sensação de que BITE ME é um álbum que tem por trás um talento com um potencial imenso, mas que não recebe em troca um material exatamente à mesma altura.
Sonoramente, o álbum é uma divertida, sólida e nostálgica coleção de pop/pop rock que busca em influências dos anos noventa e dois mil uma base que faça a Reneé soar diferente de nomes contemporâneos e, ao mesmo tempo, ser um trabalho milimetricamente comercial. Isso não é problema nenhum, mas, infelizmente, a produção, capitaneada principalmente por Omer Fedi, não é consistente o suficiente para manter o nível e/ou a pegada de alguns dos melhores momentos, fazendo o álbum transitar entre o excitante, o seguro e o dispensável, o que acaba por deixá-lo menos impactante do que poderia ser. É como ver uma atriz entregar a performance de uma vida estando em um filme que seja apenas aceitável. Essa discrepância entre o que Reneé entrega e o que é entregue pela produção é o que deixa BITE ME um trabalho meio excitante, meio decepcionante. E quando o álbum realmente entrega o que deveria entregar, é um momento inspirado, como é o single Leave Me Alone.
“A canção é um sopro interessante de criatividade, por ser um pop que não segue uma cartilha delimitada ao entregar uma fusão de pop com rock, com pinceladas de garage e punk. (...) A entrega performática da cantora é outro ponto alto, com a medida perfeita entre uma pop diva e uma diva roqueira, especialmente ao lembrar Courtney Love, captando e expressando toda a essência da canção.” Outro ponto importante do álbum é a sua temática nada “escondida” e orgulhosamente queer, partindo do ponto de vista de uma artista que, felizmente, não precisa mais esconder sua orientação sexual, deixando as composições do álbum com uma aura de sinceridade pura, indo do coração quebrado ao romance sensual. Outro grande momento do álbum é a divertidíssima pop rock/dance rock Kiss It Kiss It, em que a cantora dispara sem pudor e de maneira hilária:
I told her I'm from Carolina (Yeehaw)
I know a thing or two about rodeo (Woo)
I think we almost made a baby
I mean, we can't, but we came so close
Outros momentos que precisam ser citados são a pegada pop punk da raivosa Mad, a baladinha pop rock Why Is She Still Here? e a delicinha batida oitentista de Good Girl. BITE ME é um veículo modesto para a carreira da cantora Reneé Rapp, mas é também o veículo ideal para mostrar o quanto a artista pode render com o material certo.


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