5 de junho de 2015

Primeira Impressão

How Big, How Blue, How Beautiful
Florence + The Machine




Com o lançamento do terceiro álbum, o Florence + The Machine estabelece o seu terceiro ciclo musical: Lungs, o álbum debut de 2009, era arte renascentista; Ceremonials, de 2011, era arte barroca; How Big, How Blue, How Beautiful, o novo álbum, é arte de vanguarda moderna. Parece complicado para quem não entende desses períodos na história da arte e da humanidade, mas não é necessário muito conhecimento teórico para entender já que a música do Florence + The Machine fala por si em How Big, How Blue, How Beautiful.

How Big, How Blue, How Beautiful é o trabalho mais atual do Florence + The Machine, pois a sua sonoridade se aproxima de uma musicalidade ainda "viva". Em Lungs ouvimos uma banda crua, elementar e ainda criando formas e conteúdos. Suas construções instrumentais ainda eram rudes e emanavam uma sensação de urgência. Em Ceremonials ouvimos uma banda milimetricamente construída para soar pomposa, grandiosa, extravagante e exagerada. Um refinamento, porém, pode-se notado no tratamento em que a banda dispensa, não só apenas para a sua sonoridade, mas, principalmente, na maneira em que lida os temas das composições: no álbum fica clara inclinação da Florence em temas que podem ser ligados a água como em What the Water Gave MeNever Let Me Go. Em 2015, o lançamento de How Big, How Blue, How Beautiful coloca a banda em uma ligação estreita com o contemporâneo, isto é, em todas as suas características o Florence + The Machine modernizou em vários sentidos a sua sonoridade buscando a evolução artística. O resultado é o que ouvimos em um álbum espetacular, inspirador e ousado como pouco visto nos últimos anos.

How Big, How Blue, How Beautiful se beneficia da parceria da banda com o produtor Markus Dravs ,responsável por álbuns do Coldplay (Viva la Vida or Death and All His Friends e Mylo Xyloto), Björk (Homogenic), Mumford & Sons (Sigh No More), Arcade Fire (The Suburbs) e outros, pois p seu estilo ajuda a reformular e modernizar a sonoridade do banda. Não ache, porém, que Florence + The Machine tinha uma sonoridade datada, mas, na verdade, uma sonoridade propositalmente "vintage". No novo álbum há uma atmosfera diferente, pois é bem mais fácil perceber influências contemporâneas que ajudaram a construir o álbum. Essa mudança traz para o Florence + The Machine uma urgência nova que exala uma sensação inesperada de austeridade e certa tristeza enraizada. How Big, How Blue, How Beautiful é direto, seco em vários momentos e, principalmente, atual. Dravs usa a sua técnica para "limpar" a sonoridade da banda, mas sem retirar o que faz do Florence + The Machine ser um dos nomes mais geniais surgidos nos últimos vintes anos na música mundial.

Assim como qualquer período de arte, How Big, How Blue, How Beautiful também bebe da fonte dos seus antepassados. Assim sendo, o álbum ainda ressoar como sendo um trabalho do Florence + The Machine, mas em sua nova fase artística. O impecável trabalho instrumental sempre presente nos canções da banda não foi alterado, mas reformulado para captar as mudanças trazidas pelas novas produção. Mais contidas, mas sem perder as sólidas bases de instrumentos que ajudam a fazer de cada canção da banda um acontecimento musical. Até mesmo a única produção do álbum que não tem a assinatura de Dravs (Mother), mas do colaborador de longa data Paul Epworth também assimilha essas mudanças ajudando a criar a coesa necessária para que How Big, How Blue, How Beautiful resulte nessa obra tão revigorante.

Apesar da qualidade, o álbum tem os seus problemas (caso podemos chamar assim): as composições não estão exatamente no mesmo nível que antes. Sim, How Big, How Blue, How Beautiful é formado por coleção de avassaladoras e estraçalhadoras letras em que são elaborados belas metáforas sobre a vida. Porém, um sentimento mais tocante acaba faltando deixando, no geral, o álbum de difícil absorção emocional talvez refletindo o caminho tomando pela produção. Florence e seus colaboradores, porém, mantém a mesma riqueza linguística e construções perfeitas e inteligentes. -Demora um pouco para "sentir" as canções, mas, com algum tempo, o público consegue se identificar plenamente com How Big, How Blue, How Beautiful.

O que continua exatamente o mesmo é a presença impecável de Florence Welsh. A vocalista e líder da banda é uma força da natureza que cada vez mais sabe utilizar seu poder. Fazendo uma comparação estranha, mas válida, Florence é como a Feiticeira Escarlate do universal Marvel nos quadrinhos: uma bruxa capaz de mudar o passado, o presente e o futuro apenas com o pronunciar de algumas palavras. Em performances que apenas posso classificar como geniais em todos os sentidos, a vocalista da banda se coloca no topo do mundo como a melhor voz feminina da atualidade e sem concorrentes à quilômetros de distância. A performance de Florence na visceral What Kind of Man, a épica Queen of Peace, as melancólicas Various Storms & SaintsSt Jude, a pragmática Delilah Which Witch (disponível na versão deluxe e como uma demo que poderia ter sido produzida completamente, pois poderia se tornar "A" canção da banda) são os exemplos de tudo o que eu disse. Com How Big, How Blue, How Beautiful, o Florence + The Machine eleva ainda mais o seu nome entre os maiores dessa era. Porém, eles vão além: constroem uma era em sua própria história. Uma era de ouro sem dúvidas.

4 comentários:

lucas lopes disse...

Esse álbum é uma obra de arte! Maravilhoso.

João disse...

Qual a melhor e a pior do álbum na sua opinião, Jota?

Jota disse...

Melhor: Queen of Peace
Pior: Caught


Valeu e voltem sempre!

christine blog disse...

Ouvi a música Crystals do of Monsters and Men e achei bem parecido com o estilo do album anterior da Florence.