22 de abril de 2016

Primeira Impressão

I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful yet So Unaware of It
The 1975


Até o presente momento que escrevo essas linhas, o melhor álbum pop do ano não é de nenhuma diva de primeiro escalão ou de algum medalhão da música em seu retorno triunfal. Na verdade, o melhor álbum do pop do ano até agora é de uma banda inglesa que está apenas no seu segundo trabalho. A banda que me refiro é o The 1975 e o álbum é o ótimo I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful yet So Unaware of It. (Uma curiosidade: o nome do álbum é o maior para um álbum que chegou no topo da Billboard até hoje.)

Tentar classificar o álbum em um ou dois gêneros seria um trabalho complicado, na verdade, quase impossível, pois a produção navega em tantas águas sem, em nenhum momento, lançar âncoras fixas em um determinado local. Existem tantas influências, tantas viagens sonoras por vários estilos e/ou épocas, tantas nuances ao longo das dezessete faixas que compõem o álbum que o resultado final é igual a uma colcha de retalhos pop. Entretanto, não acredite que essa colcha seja de má qualidade ou costurada de maneira a transformar o álbum em um produto sem personalidade. Ao contrário disso, I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful yet So Unaware of It é o álbum mais cheio de personalidade dos últimos tempos graças a competente e sofisticada produção encabeçada pelo vocalista Matty Healy e pelo baterista George Dani ao lado de Mike Crossey (Arctic Monkeys e Keane).  Para compreender melhor a estrutura do álbum é necessário dividi-lo em partes.

A primeira é composta das cinco primeiras faixas do álbum. Esse inicio é uma deliciosa e nostálgica volta ao synthpop/pop rock dos anos oitenta com a sua atmosfera clean, leve e descontraída. As canções nessa parte parecem terem sido feitas exatamente para fazer parte de gravações feitas através de fitas cassetes que depois serão usadas para tocar nas matinês de adolescentes seja para dançar livremente ou juntinho com a "paquera". Os rifes de guitarra e o uso da batida dos 808's são hipnóticos e eletrizantes, até mesmo nas baladas. Então, como em uma mudança de maré aparece a poderosa If I Believe You em que grupo questiona a existência de Deus. Lindamente escrita, pois parte das reflexões pessoais e, não, de preconceitos sobre a religião ou em quem acredita. Ao flertar com o gospel e o soul music, a produção adiciona ao pop do The 1975 uma profundidade que ajuda a criar a segunda parte do álbum. 

Abrindo com duas faixas apenas instrumentais, a segunda parte mostra a sonoridade do grupo em uma busca de experiências sonoras e de uma consolidação estética que eleve o grupo ao patamar de "adultos". A mistura de rock com pop/art pop gera um hibrido interessante e promissor, mesmo que não seja novidade. As experiências feitas pela produção ajudaram a entregam faixas longas, o que pode deixar a impressão que o trabalho se arraste no seu meio. Quem conseguir deixar essa impressão irá notar que essa parte consegue arrematar o inicio e o final de maneira perfeita, pois nunca se perde o fio da meada devido as escolhas de uma produção impecável. A parte final começa com a faixa The Sound em que o grupo retoma a batida mais animada, mas com uma atmosfera mais madura. Assim como músicas feitas para trilhas de filmes sobre amadurecimento daqueles adolescentes, os famosos filmes coming of age. É nesse momento que podemos ouvir os fantasmas do passado retornarem quando surge as canções Nana (sobre a perda da avó) e She Lays Down (sobre os problemas de relacionamento entre mãe e filho). Essa última foge da atmosfera do álbum devido ser acústica. Assim sendo, I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful yet So Unaware of It torna-se uma jornada incrível com todas as suas reviravoltas e surpresas, mas que não seria a mesma caso não tivesse um trabalho lirico tão competente como é apresentado.

Liderado pelos devaneios deliciosos do vocalista Matty Healy, as composições que incorporam o álbum podem até ter um apelo comercial e pop, mas escondem um primoroso sabor ácido, critico e, muitas vezes, debochado em reflexões sobre a sociedade atual, assim como as relações amorosas e interpessoais. Sempre muito inteligentes, as letras mostram que existe vida pensante no mundo pop. Conduzido vocalmente de maneira exemplar por Matty ao mostra versatilidade em todos os momentos, I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful yet So Unaware of It é um trabalho marcante, mesmo que apareça outros trabalhos com o mesmo nível. Entretanto, nenhum deles será tão verdadeiramente pop como o The 1975 mostra aqui.

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