14 de junho de 2016

Primeira Impressão

The Heart Speaks In Whispers
Corinne Bailey Rae




Enquanto ainda muitos estão falando de Lemonade da Beyoncé, Corinne Bailey Rae lança o seu terceiro álbum após um hiato de cinco que tem a mesma verne: o empoderamento feminino. Mesmo que não tenha a mesma ousadia de Bey, a cantora faz de The Heart Speaks In Whispers a sua carta sobre encontrar a alegria de viver e amar, depois de enfrentar a dor e o sofrimento.

Para quem não saiba, Corinne Bailey Rae ganhou notoriedade com o seu debut homônimo Corinne Bailey Rae de 2006 que teve como carros-chefe os sucessos Put Your Records On e Like A Star, uma das melhores músicas da década passada. Além de ter vendido quatro milhões de cópias mundialmente, a cantora foi indicada a quatro Grammys entre 2007 e 2008. Entretanto, Corinne sofreu um grande baque quando em 2008 seu marido, o músico Jason Rae, morreu de overdose. Dessa tristeza, a cantora lançou o lindo, maduro e melancólico The Sea em 2010 em que era visível toda a dor da sua perda. Três anos mais tarde, Corinne se casou com o produtor Steve Brown. Desse recomeço surge The Heart Speaks In Whispers.


Mesmo que não tenha essa proposta exatamente delimitada, isto é, The Heart Speaks In Whispers não é um álbum conceitual, mas é bem clara a existência de linha dorsal que rege as belíssimas composições. Com uma carga poética inspiradíssima e uma delicadeza tocante em sua escrita, Corinne e uma seleta e pequena lista de colaboradores entregam um viagem hipnotizante sobre reaprender a amar. Sobre voltar a sentir o coração batendo. Sobre sentir as borboletas furiosas se debatendo no estomago quando ver a pessoa amada. Sobre sofre por amor, mas um sofrimento quase banal em relação ao perder para sempre quem se ama. The Heart Speaks In Whispers é sobre redescobrir como ser feliz. O trabalho primoroso feito no álbum também ajuda a mostrar o quanto madura esta a cantora em seu oficio, conseguindo navegar em águas tão turvas que é falar sobre amor sem esbarrar no melodramático exagerado ou no brega explicito. O trabalho é conduzido de maneira com uma elegância simples e edificante. Nada dito parece fora do lugar ou feito apenas para encher linguiça. Cada palavra, verso e estrofe estão cirurgicamente postas nos seus devidos lugares, criando a atmosfera perfeita para a construção da sonoridade de Corinne.


The Heart Speaks In Whispers é uma mistura entre as sonoridades do seu primeiro trabalho e o seu sucessor, isto é, uma fusão de R&B/pop mais tradicional e neo-soul com forte influência de jazz e blues. Dessa maneira, o álbum caminha com eficiência e inteligência em não deixar Corinne sem a sua personalidade encantadora, mas, também, com a responsabilidade de mostrar a evolução da cantora. Nesse último quesito, a produção guarda algumas surpresas ao longo das dezesseis faixas que compõem o álbum como é o caso da viagem emocional da linda Caramel ou a sensual Taken By Dreams com as suas surpreendentes construções e introduções de batidas interessantes, O único erro em The Heart Speaks In Whispers talvez seja a longa duração da maioria das canções, pois a sua maioria ultrapassa a casa dos quatro minutos. Une-se a isso o fato do álbum ter dezesseis faixas e a sua duração ultrapassa uma hora. Um pequena problema para quem tem o privilegio de ouvir Corinne entregar as suas melhores performances vocais carregadas de uma ternura e emoção contagiantes, além de mostrar uma versatilidade incrível sem perder, porém, a sua individualidade vocal. Entre os momentos já citados, The Heart Speaks In Whispers ainda tem momentos maravilhosos como em Do You Ever Think Of Me?, Night, High, Push On For The Dawn e a melhor do álbum Hey, I Won't Break Your Heart. Mesmo sem o mesmo destaque e sucesso comercial de outros álbuns, Corinne Bailey Rae faz de The Heart Speaks In Whispers um trabalho para ser lembrando por quem ouvi-lo.

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