24 de janeiro de 2020

Primeira Impressão

Manic
Halsey



Acredito que para alguém poder se chamar de crítico musical é, necessário, gostar de música em primeiro lugar. Qual o gênero ou gêneros que a pessoa em questão mais gosta não é tão importante, mas, na minha visão, uma mente aberta é muito bem-vinda e saber um pouco de história da música também acredito ser importa. Todavia, tudo isso pode ser "aliviado" quando, por exemplo, o crítico é especializado em nicho, por exemplo. Só que gostar de música é algo que não tem como deixar de lado. Então, aí aparece a questão: como separar o fã do crítico? Essa linha tênue é difícil de navegar, mas espero que sempre tenha conseguido caminhar de maneira mais isenta possível ao longo dos anos ao mostrar o máximo de imparcialidade possível. E para a resenha do terceiro álbum da Halsey nunca tive tão perto de cair em um dos dois lados da linha entre o fã de música e o crítico de música. 

É necessário dizer que não sou exatamente fã da Halsey, mas sou fã de música e, por isso, ouvir Manic é uma experiência que acende algo bom em mim. Isso acontece porque consigo ver que existe um álbum realmente muito bom aqui, conseguindo acertar em quase todos os quesitos para um ótimo álbum pop comercial. Entretanto, o meu lado crítico percebe que o álbum tem uma coleção de erros que não permite a Halsey poder entregar um trabalho realmente inspirado e inspirador. O grande problema é que essas duas facetas brigam entre si de forma muito abrasiva ao analisar o álbum, contrariando o meio termo cordial que sempre alcancei. Por isso, tentei o máximo chegar ao um meio termo entre o fã e o crítico em pé de guerra para alcançar a melhor imparcialidade possível. Isso é devido ao fato de Manic precisa ser elogiado no mesmo tanto que criticado.

A grande qualidade do álbum é saber o que quer ser e aonde quer chegar ao ser um interessante, bem estruturado e coeso trabalho pop/indie pop. Saber o que quer ser é bem fácil de descobrir, pois o público está diante de um álbum que apresenta uma sonoridade multifacetada e cheia de influências, querendo expandir as noções do que é o pop/indie pop ao flertar pesadamente com gêneros como electropop, country pop, hip hop e pop rock. A melhor comparação que posso fazer é com o Stripped da Aguilera, pois ambos trazem uma coleção diversa em que cada música soa como sendo parte de seu próprio universo e, mesmo assim, soar coeso com a fluidez do todo. É isso fica claro em Manic do começo ao fim, pois é possível perceber que cada música tem a sua própria identidade sonora. Acontece, porém, que o resultado final fica mais como uma tentativa do que como algo realizado concretamente. 

Mesmo com uma lista de nomes talentosos na produção como, por exemplo, Benny Blanco, FINNEAS, Greg Kurstin e da própria Halsey, entre outros, Manic não consegue se aprofundar sonoramente nas suas próprias ideias, deixando toda essa aparência de querer ser esse turbilhão de sonoridades bem superficial. É como se a produção fizesse várias tortas que a base fosse de feita de pop puramente, mas que a cobertura fossem de sabores diferentes como, por exemplo, country pop, pop rock e até mesmo confeites de k-pop. Na teoria, cada torta é diferente, mas, na prática, o sabor só muda de levemente. O lado bom é que essas coberturas são bem feitas e conseguem incrementar de alguma forma as canções a ponto de criar personalidade suficiente. Um bom exemplo é a indie pop clementine e a sua estética art pop que funciona quando não pensamos que a canção não é tão profunda como quer parecer. E ser profundo é algo que Manic quer ser, mas bate de cara na porta.

O álbum é sem nenhuma dúvida o mais pessoal da carreira da Halsey. Do começo ao fim, Manic o álbum é um desfile de letras sobre relacionamentos complicados, conflitos internos e epifanias sobre a vida que mostram inteligencia e com uma habilidade refinada de criar bons momentos pop como é o caso dos singles Without Me Graveyard. Acontece que os trabalhos querem mostrar mais robustez lirica e temática do que realmente é de verdade, deixando certa pretensiosidade explicita aqui e ali que não desce tão bem. Felizmente, o resultado final consegue ser acima da média não apenas pelos momentos de destaque e, também, pela sinceridade que a cantora deixa a mostra em todas as faixas. Dona de uma voz delicada e melódica, Halsey transita entre performances boas e com personalidade bem definidas para momentos quase genéricos em que sua voz poderia ser confundida com uma dezena de outras cantoras. Ainda falta constância vocal, mas quando a cantora acerta surge momentos inspirados como em  Forever ... (is a long time) e em Finally // beautiful stranger. Entre o fã e o crítico, acredito que posso dizer que Manic que não foi feito para agradar a gregos e a troianos, mas deve alcançar um grupo maior do que muitos estavam esperando.


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