18 de junho de 2020

Rewind

Primeira Impressão

Dona de Mim
IZA



Muitas pessoas reclamam que atual música brasileira popular passa por um sério problema de falta de qualidade que assombra vários gêneros, mas principalmente aqueles com apelo mais comercial. O problema na verdade é os gêneros serem populares, pois a historia da música brasileira é construída principalmente pelos gêneros que foram considerados do povão, indo do samba até o tropicalismo e chegando ao funk carioca. O que acontece hoje é a massificação dos gêneros mais populares, prezando mais pela quantidade do que a qualidade. Todavia, existem bolsões de ar fresco aqui e ali para lembrarmos que ainda existem vários artistas que conseguem fazer dos limões, uma deliciosa limonada. Uma desses artistas é a maravilhosa IZA que comprova o seu talento ao entregar um estupendo álbum debut em Dona de Mim.

Desde que começou a sua carreira profissional após ser contratada pela gravadora Warner, Isabela Lima, nome de nascimento de IZA, vem mostrando que não é apenas mais uma cantora que queria aproveitar o embalo do sucesso de outras. Longe disso, pois, ao contrário de algumas não tão sortudas contemporâneas, a carioca de 27 anos tem um pacote completo como poucas vezes o meio "pop" brasileiro já tinha visto: dona de uma ótima voz, influenciada por vários grandes nomes femininos do soul/pop/R&B/MPB, possuidora de um senso estético refinado e diferenciado e de uma beleza de tirar o folêgo. A cantora começou lançando músicas soltas desde 2016, mostrando uma prévia bem robusta do que estava vindo pela frente como, por exemplo, nas ótimas Quem Sabe Sou Eu e Te Pegar. Esses atributos aliado com uma ótima gerencia da sua carreira que está seguindo o estilo "comendo pelas beiradas" vem criando uma diva pop que pode até não ter o impacto tão abrangente como a Anitta ou a Pablo Vittar, mas está conquistando o seu merecido espaço aos poucos. O lançamento de Dona de Mim ajuda a ampliar o terreno, resultando no melhor álbum pop brasileiro desde o lançamento do primeiro trabalho do Rouge.

É bem clichê dizer que com o lançamento do álbum IZA comprova que é "dona de si", mas não seria uma inverdade de afirmar que Dona de Mim mostra que a cantora é completamente proprietária da sua carreira artística. O álbum deixa claro isso ao ser uma cruza sensacional de pop brasileiro com pop estadunidense, isto é, ritmos nacionais como samba, hip hop nacional, funk com ritmos importados como dance pop, R&B, hip hop e outros. Toda essa mistura poderia resultar em algo artificial e forçado, mas, felizmente, Dona de Mim tem uma sonoridade fluida, divertida, madura, bem pensada e com uma execução primorosa ao saber como juntar todas essas influências em uma unidade coesa. Não estamos diante da revolução pop no Brasil, mas, sim, diante de um trabalho muito acima da média e, principalmente, que soa completo do começo ao fim. Mesmo com algumas canções que tem uma áurea de filler, Dona de Mim é quase inteiramente feito de canções prontas para serem singles, deixando claro a qualidade artística da produção bem cuidada. Entretanto, Dona de Mim não seria o mesmo sem a presença da IZA.

Longe de qualquer comparação com as suas contemporâneas, IZA não é só dona de uma voz maravilhosa, mas, também, de uma presença enérgica e de um carisma ímpar. Ela é a responsável por dar vida canções com as mais diversas pegadas com a sua personalidade. Versátil, IZA transita de forma perfeita entre todos os ritmos e batidas em Dona de Mim com a mesma classe que canta uma funk pop de Rebola (com Carlinhos Brown e a drag Gloria Groove) ou entoa a blues/pop No Ponto. Sexy sem ser vulgar, a cantora é capaz de segurar uma canção a sensacional Saudade Daquilo que fala exatamente "daquilo" sem cair na obscenidade ou sem soar desesperada para ser sensual. Madura sem soar datada, IZA está no mesmo nível de grandes nomes, segurando bem a onda ao lado de Ivete Sangalo na divertida Corda Bamba. Diva pop de primeira, IZA é a alma e a força por trás de outros ótimos momentos no álbum como a poderosa Pesadão, a viciante Ginga, a balada R&B Você Não Vive Sem e a divertida Linha de Frente. Dona de Mim é um começo que soa mais como um presságio sobre o que o futuro guarda para a IZA e, queridos leitores, o futuro do pop brasileiro está em ótimas mãos. Que assim seja!


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