6 de junho de 2021

Primeira Impressão

Little Oblivions
Julien Baker




Algumas vezes um álbum sofre uma perda de impacto não por decisões erradas e, sim, por ter sido lançado na época errada. Em Little Oblivions, terceiro álbum da Julien Baker, é esse tipo de caso, pois o resultado parece estar deslocado do seu tempo e espaço de gloria. E não é por dias, messes ou alguns anos, mas por no mínimo duas décadas já que o trabalho poderia encontrar um imenso sucesso no final dos anos noventa/começo dos anos dois mil.

Bem longe de ser ruim, Little Oblivions parece fora de época ao ser um trabalho que encontraria um público gigantesco há uns vinte anos atrás. Apesar de misturar influências que vão do emo a música eletrônica, o álbum tem como sonoridade base o indie rock que soa muito parecido com o feito por nomes Sheryl Crow, a banda Indigo Girls e Joan Osborne nos meados dos anos noventa. Julien Baker não soa, porém, parecida com nenhum nome especifico, mas, sim, com a mesma vibe que essa sonoridade exala na sua essência. Resumidamente, a cantora é uma verdadeira roqueira que entrega um álbum rock de forma corajosa e eficiente. Os problemas em Little Oblivions são verdadeiramente de construção e, não, de intenção.

Sem querer agradar a todos e sabendo muito bem do seu nicho atual de alcance, Julien Baker tem a qualidade de ter produzido e escrito o álbum sozinha, tendo apenas algumas colaborações para instrumentalizar. Verdadeiramente autoral, Little Oblivions tem o seu principal problema em certa frieza que corrói os primeiros momentos do álbum, tirando a sua magistral abertura em Hardline que é “uma poderosa e de tirar o fôlego indie rock com pitadas de rock pesado e art rock que vai entrando debaixo da pele de quem escuta de maneira lenta”. Esse distanciamento da artista e o público é provavelmente devido as suas composições que recorrem a uma simplicidade sintática que parece não conseguir expressar exatamente toda a força emocional que a cantora quer realmente expressar. Para muitos artistas essa é uma tática que funciona, pois segue a linha de menos é mais. Todavia, Julian não tem a mesma capacidade já que os melhores momentos do álbum é quando existe uma maior substância nas construções. Além disso, sonoramente, o álbum soa levemente off, especialmente depois do começo extremamente auspicioso. Entretanto, quando o álbum começa a entrar em um eixo, Julien Baker entrega o que pode fazer de melhor com a suas ideias.

Ao acertar com os dois pés a emoção, Julien Baker entrega a poderosa balada indie rock Crying Wolf que relata de maneira devastadora os altos e baixos de alguém que vive o ciclo de ser viciada em drogas. Tocante e, ao mesmo tempo, completamente crua, a canção deixa a mostra as possibilidades que a artista possui quando tudo está no seu lugar certo. Bloodshot mostra a maturidade da cantora ao assumir a culpa pelos seus erros. Entretanto, a composição ainda também deixa claro outro ciclo: o relacionamento tóxico. Ao que parece, a pessoa com quem Julien se relaciona parece tentar fazer a mesma não apenas admitir seus erros, mas, sim, agradecer o sofrimento por suas escolhas como forma de redenção, conseguindo transmitir tamanha complexidade de uma maneira descomplicada e direta. Fechando essa trinca de canções que aparecem em Little Oblivions uma atrás da outra surge a depressiva Ringside. Soando como uma versão menos densa de algum trabalho do começo do Radiohead, a canção é um verdadeiro chute nas partes baixas ao retratar uma pessoa autodestruitiva com uma riqueza de detalhes honestos. Apesar de não fazer parte dessa trinca, a delicada balada indie rock a base de piano Song in E é o tipo de canção que quebra todas as expectativas e revela o alcance de Julien. A crescente de qualidade que essas quatro faixas impõem ao álbum muda totalmente o seu destino. Outros momentos de destaque são o single Favor e o flerte com art rock em RepeatLittle Oblivions não é um álbum para todos e até para aqueles que são o seu público deverão achar uma experiência um pouco difícil de se apreciar. Entretanto, no instante que Julien Baker começa a acertar, a experiência se torna uma verdadeiro deleite emocional.

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