17 de abril de 2022

Primeira Impressão

Versions of Me
Anitta





Uma verdade que preciso compartilhar com vocês: dá para criticar a Anitta artista sem diminuir as suas incríveis conquistas. Obviamente, essa onda de criticas ao seu sucesso comercial mundialmente vem também depois da artista se posicionar firmemente em questões politicas e, também, de uma parte do fato cultural de brasileiros adoram falar mal de quem se destaque fora do país. É algo que vem desde os tempos da Carmem Miranda. Felizmente, o destaque da carreira de dona Larissa é para ser louvado e celebrado, especialmente ao notarmos que boa parte da estratégia vem da menta da cantora aos longos dos últimos anos. E, por essa minha capacidade de saber dar o que é de Cesar, preciso afirma que Versions of Me é o completo oposto do que a Anitta deveria estar fazendo sonoramente.

Esquecível, dispensável, confuso e, principalmente, sem um pingo de originalidade, Versions of Me é uma metralhadora de canções que servem mais como possíveis virais do que propriamente como um álbum. Devo admitir que na questão técnica, o trabalho apresenta essa sensação de completude de ser um álbum com começo ao fim, deixando de lado essa sensação de incompletude que ainda afeta vários artistas pop nacionais. O problema é o lado da produção artística que erra ao dar para a Anitta a mesma embalagem que qualquer artista mediana latina com intenções de estrelato mundial consegue ter. Uma mistura de latin pop, pop, reggaetton e electropop batida, repetitivo, nada original e com uma fluidez entre canções nada sutil. Resumidamente, Anitta é uma artística massificada que não faz jus ao seu incrível staff e marketing por trás. Em termos comerciais mais superficiais não é exatamente um grande problema, mas esse é o momento da cantora ficar os dois pés no imaginário pop ao entregar algo que seja realmente marcante e não apenas na onda do momento. E isso fica ainda mais claro quando em questões de semanas de diferença temos uma não latina como a Rosalía entrega uma obra de exaltação a música latina em MOTOMAMI. A principal razão para esse álbum não ser o deveria realmente ser é que Anitta não parece realmente acreditar no que canta.

Apesar de estar presente em quase todas canções de Versions of Me como coautora não consigo sentir verdade em boa parte do que a Anitta canta, especialmente nas canções em inglês. Falta aquela sensação de quando escutamos os versos de qualquer canção que a mesma entoa seja um trabalho com a sua marca pessoal. Genéricas, pouco inspiradas e, alguns vezes, simplesmente gringes, as composições do álbum servem apenas para preencheram espaço e não serem um selo da personalidade artística da cantora. Acredito que a única canção que pode ser considerada um trabalho reconhecível da Anitta é a legalzinha Girl from Rio que deixa a gente ver um pouco sobre quem a pessoal por trás, mesmo não sendo “exatamente fã, especialmente em alguns momentos de pura vergonha alheia, mas no contexto geral funciona no que parece ser a sua proposta”. Outro problema é falta de Brasil no álbum. Claramente, Anitta quer expandir seus territórios musicais, mas isso poderia ser feito com uma dose bem maior de música realmente brasileira na mistura. Tirando o sample do clássico de Garota de Ipanema na canção já citada, o álbum apenas tem dois momentos que mostram de onde vem Anitta: a mediana Faking Love com a Saweetie que “na teoria funciona ao ser uma mistura de electropop, hip hop e funk que deveria equilibrar as raízes da brasileira com a sua pretensão de ser uma diva pop internacional, mas na prática tem uma batida minguada, repetitiva e sem muita inspiração” e na funk/pop/hip hop Que Rabão que perde uma imensa oportunidade de usar a presença póstuma do Mr. Catra em uma sample que poderia ser o ponto alto do álbum se feito da maneira correta. Para não dizer que não falei das flores, o álbum tem três bons momentos: Boys Don't Cry ao ser “um rápido, carismático, divertido e grudento synth-pop com toques de electropop e vibe oitentista que realmente é um trabalho com sensação de completude”, a faixa que dá nome ao trabalho Versions of Me e a sua vibe de Ava Max e, por fim, Me Gusta que “funciona melhor que o esperado, principalmente devido a ótima participação da Cardi B. Arrematando a canção, a rapper dá a liga necessária para a canção ganhar corpo”. Versions of Me não irá fazer nenhuma diferença para a discografia da Anitta em questão de construção artística, mas a dona Larissa é rainha de fazer de pouca coisa algo realmente de sucesso. Então, imagina quando a mesma tiver algo bom em mãos.


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