23 de junho de 2022

Antes Tarde do Que Nunca

Judy
Judy Garland




A história da arte está cheia de famílias que fizeram sucesso pelos seus dotes em trabalhos juntos ou separadas. Na música, existem alguns poucos casos de sucesso com a mesma força ou equivalente que podem ser citados. Acredito que um dos casos mais conhecidos do grande mainstream é o da família Jackson, especialmente Michael e Janet. E mesmo nessa família, o sucesso foi completamente desnivelado entre os integrantes. Todavia, existe um caso que, apesar de histórias basicamente diferentes mesmo que com vários pontos semelhantes, dois pessoas relacionadas por sangues alcançaram um nível de importância equivalentes: Judy Garland e Liza Minnelli. Mãe e filha, ambas marcaram a suas maneiras o cinema e a música de maneira inesquecível devido aos seus talentos inigualáveis, suas vidas entre glórias e tragédias e legados que fazem parte da base da história da arte moderna. Então, irei falar sobre dois álbuns lançados por ambas ao longo de suas carreiras que mostram bem o motivos de serem monstros sagrados da música que deveria ser ainda mais respeitados: de um lado, uma joia esquecida chamada de apenas Judy de 1956 e, do outro lado, um renascimento que merece ser considerado com um dos melhores da história em Results de 1989.

Nascida Frances Ethel Gumm em 1922, Judy Garland começou a sua carreira muito cedo quanto tinha apenas seis anos de idade ao lado da irmã em shows de vaudeville. Logo o seu talento começou a chamar a atenção dos grandes nomes do cinema, especialmente de Louis B. Mayer fundador do Metro-Goldwyn-Mayer. Devido a sonorização do cinema e a criação dos musicais, o cinema carecia de novas estrelas que pudessem usar a voz para se expressarem e não apenas expressões físicas. E, queridos leitores, não havia ninguém parecido como Judy. Com apenas treze anos, a jovem cantava de uma maneira que não havia comparação até para os mais treinados e habilidosos artísticas da época. Assinado o contrato, Judy começou a sua trajetória pelo cinema, mas não a custa de muito sofrimento.

Irei resumir de maneira bem sintética o que fez a história na frete e por trás da câmera tão trágica. Apesar do imenso talento, a jovem não era conhecida como um modelo de beleza para época, especialmente comparada com nomes como Ava Gardner e Elizabeth Taylor. E por isso, a adolescente foi submetida a uma serie de cirurgias e procedimentos estéticos para se tornar mais “atraente”. A cantora foi submetida a uma serie de agressões psicológicas e físicas como, por exemplo, ter que tomar estimulantes para se manter acordada para trabalhar para depois ter que tomar calmantes para dormir. E isso é uma parte do que aconteceu com a cantora que devido a isso ficou marcada para o resto da vida ao enfrentar problemas com álcool, depressão e outros problemas. Apesar de todo o sucesso inicial quando jovem, Judy enfrentou uma verdadeira montanha russa de altos e baixos até a sua morte a sua morte em 1969 aos quarenta e sete anos de overdose. E um desses momentos de glória foi o lançamento de Judy em 1956.

A carreira de Judy é marcada por vários momentos históricos quando se olhado em perspectiva, pois durante a sua vida foi sucessos ligados a participações em filmes, especialmente com o O Mágico de OZ em 1939, Agora Seremos Felizes (Meet Me in St. Louis) e a segunda versão de Nasce uma Estrela em 1955. Apenas um álbum de Judy alcançou um grande sucesso comercial na época de seu lançamento: Judy at Carnegie Hall de 1961. A gravação histórica da sua apresentação do prestigiado Carnegie Hall cantando as principais canções da sua carreira, o álbum é considerado um dos melhores “ao vivo” da história, rendendo para a artista o primeiro de Album of The Year em 1962, torando a primeira mulher a ser indicada e vencer a categoria. Os outros álbuns de Judy, porém, não tiveram a mesma sorte e meio que foram esquecidos pelo grande público, mas é preciso revistar o que é o seu melhor álbum de estúdio para entender a grandiosidade de Judy em todos os estados do seu estrelato e genialidade.

Como já dito anteriormente, Judy Garland era dona de uma voz incomparável e uma perona artística maior que qualquer outra estrela de Hollywood. E isso se deixa revelar em cada segundo do álbum. Sonoramente, Judy é um trabalho padrão para o mainstream da década de cinquenta: uma cinematográfica e grandiosa adaptação de grandes canções populares que transitavam entre o jazz e os temas de musicais das décadas anteriores. Comandado pelo maestro Nelson Riddle, a orquestra impecável entrega um trabalho de um refinamento perfeito em todos os sentidos, elevando cada faixa para um nível que as transformam em peças atemporais e de finalizações sublimes. Não se fazem mais álbuns com essa fineza e requinte, pois a tecnologia ajuda a acelerar o processo de gravação que nessa época precisava de talentos com anos de dedicação aos seus ofícios. A escolha das canções também é outro fator importante para o resultado do álbum ao ser uma coleção ideal de canções que ecoam justamente no “hall” de trabalho e conhecimento de Judy durante os mais de trinta anos de experiência que tinha quando gravou o álbum. Entre grandes baladas românticas/melancólicas e canções vibrantes e encantadoras, a artistas está em casa e completamente confortável para fazer de maneira genial o que nasceu para fazer: cantar.

Não simplesmente cantar, mas, sim, extrapolar as barreiras do genial para alcançar um lugar quase acima do bem e do mal. Judy tinha um dom quase sobrenatural ao cantar de transformação cada momento de qualquer canção em um momento de sublime força. Dona de um timbre inimitável, incomparável e inesquecível, a artista era capaz de pegar uma música já conhecida e a transformada em um trabalho completamente único que a transformava na sua interprete definitiva, mesmo que tinham sido gravadas outras vezes anteriormente. E quando as canções pareciam que encontravam um lugar ainda mais especial no coração de Judy é que ouvimos a toda a potencia em plenitude. Co-escrita pelo autor de Over the Rainbow, a extraordinária Last Night When We Were Young é uma canção sobre relembrar um jovem amor que se perdeu durante os anos e agora resta apenas lembranças. Na voz de Judy, a canção se transforma em um momento fascinante, devastador e de uma beleza melancólica quase possível de ser tocada. A interpretação que Judy dá vai além de atingir as grandes notas perfeitamente e, sim, ser capaz de expressar cada palavra com uma profundidade real. Em Just Imagine, o passado é deixado de lado e entre o desejo, pois de maneira sonhadora e tocante Judy sonha em finalmente ser amada por aquele que tem o seu afeto. De maneira contida, a interpretação da cantora encontra o tom perfeito para expressar todo esse sentimento perfeitamente sem deixar faltar emoção, mas nunca se exagerar. Apesar de expor toda a magnitude da voz de Judy, o álbum também explorar a sua grandiosidade como uma das maiores crooners de todos os tempos com a gravação definitiva de Come Rain or Come Shine.

Retirada do musical St. Louis Woman de 1946, a canção que abre o álbum é algo que pode apenas ser definido como showstopper, ou seja, aquele momento em um musical em que a plateia simplesmente ovaciona devido a qualidade da canção ou/e a interpretação da atriz/ator. A canção em si é uma eletrizante, única e grandiosa explosão sonora que exala uma energia que mistura Broadway, caos, alegria pura, excitação, felicidade genuína e quase uma ingenuidade infantil ao fazer uma épica e perfeita declaração de amor. E como a canção é construída ao imitar o processo de uma tempestade (o começo suave e delicado como os primeiros ventos para chegar ao seu final estrondoso como o olho do furacão) casa perfeitamente com a potência e o domínio de Judy que preenche todos os momentos da canção com uma força elementar que transforma a canção em um trabalho que parece que foi escrito apenas para si e qualquer gravação após nunca será tão genial. Esse é uma das qualidades da artista ao fazer de suas performances momentos que parecem que serão esquecidos e sempre imitados, mas nunca chegaram aos pés do original. No clássico April Showers, Judy empresta a sua delicadeza melancólica que contrasta com a vivida e brincalhona performance de Life Is Just a Bowl of Cherries. O álbum termina com uma rendição impressionante Any Place I Hang My Hat Is Home que também foi retirada do musical St. Louis Woman. Apesar de ser um álbum restritamente reflexo do seu tempo e da sua artista, o trabalho transcende tempo devido a genialidade de uma das maiores artistas de todos os tempos que, infelizmente, poderia ter entregado ainda mais se a vida tivesse sido um pouco mais gentil. Com esse peso nas costas, a sua filha Liza Minnelli precisou construir a sua carreira. No próximo Antes Tarde do Que Nunca irei discutir sobre um pouco da carreira da vencedora do Oscar e como a mesma reinventou parcialmente a sua carreira com um dos melhores álbuns pop da década.




Nenhum comentário: