19 de junho de 2022

Primeira Impressão

Harry's House
Harry Styles





Ao contrario de outros integrantes de boy/girl bands que já tinham um claro destaque quando estavam ao lado dos outros integrantes, o Harry Styles não tinha todos os holofotes quando era parte do One Direction. Resumidamente: Harry não era a Beyoncé do 1D. E é por isso que a sua carreira solo é ainda mais louvável, pois o cantor se tornou por méritos próprios e qualidades únicas não apenas o maior na carreira solo ente os seus colegas de banda, mas, também, um dos principais artistas contemporâneos dentro do mainstream. Ao chegar no terceiro álbum, Harry entrega em Harry's House o seu trabalho mais maduro sonoramente, mas que, infelizmente, ainda comete os mesmos erros dos trabalhos anteriores.

Ao escrever a resenha do álbum anterior apontei que “o que falta para Harry Styles alcançar outro nível é se deixar levar pela sua própria coragem ao mergulhar sem medo nas ideias vistas em Fine Line”. E é exatamente o que falta em Harry's House, especialmente na parte lírica. Principal motivo de puxar o resultado final do álbum, as composições vista no álbum são trabalhos sólidos, bem intencionados e de um apuro pop bastante refinado, mas que quase nunca chega realmente ao ponto de profundidade emocional que as canções parecem querem expressar. Harry e o seu time de colaboradores querem discutir tema adultos como, por exemplo, depressão, sexualidade, ansiedade e romances adultos, mas o resultado final ainda parece soar como um jovem adulto querendo soar como um homem experiente com uma bagagem imensa de vida que ainda está amarrado aos sonhos de um adolescente a frente do seu tempo. É necessário dizer que isso não é um problema sem solução ou que não tenha bons momentos. O problema é que nesses momentos da sua carreira já eram para a maior parte das letras que o Harry Styles entoa realmente ser de um homem maduro e completamente ciente da sua capacidade lírica. Por isso, boa parte das letras em Harry's House termina sendo um belo sonho de padaria que não tem recheio, deixando essa sensação que a estética fala mais alto que a substancia. Isso não quer dizer que o álbum não tenha momentos que o cantor está realmente se mostra no caminho certo. O melhor deles é na tocante balada Matilda que o artista se usa de inspiração a personagem criado pelo escritor Roald Dahl e parte da cultura pop devido ao filme de mesmo nome que virou um clássico da Sessão da Tarde para contar a história de uma garota desprezada pela família que merece encontrar o seu lugar no mundo. Sonoramente, Harry's House é uma nova faceta do artista sem perder a sua visão inicial.

Consolidado como uma força única do pop, Styles mergulha no pop rock/soul leve, delicado, sensível e cadenciado que não quebra barreiras, mas adiciona novas cores para a discografia do cantor. E o momento álbum aqui é o primeiro single As It Was, “mostrando que não tem a menor vontade de ficar parado em um lugar, a canção mostra o cantor explorando com a sua sonoridade ao entregar uma deliciosa, aveludada e inteligente synth-pop/new wave/indie rock com uma batida nostálgica e quase contemplativa’. Todavia, o não ir além do que é proposto pela ótima equipe de produção é o calcanhar de Aquiles do álbum, pois nunca é explorado o total potencial da musicalidade de Harry. Falta um ponto de quebra de expectativas para balançar toda a estrutura da sonoridade para que se possa dar esse passo na diferença da grandeza. E isso é responsável por gerar os momentos morros de Harry's House que é bem recheado de bons fillers, mas que poderiam ser obras memoráveis com a ousadia certa. Com uma produção vocal até ousada, o artista entrega contidas, sólidas e com personalidade performances que são responsáveis por dar certo vigor para as canções quando tudo parece morno demais. Existe algumas decisões dessa produção que não são tão acertadas, mas o carisma de Harry é tão grande que até consegue apagar alguns tropeços menores. Outros bons momentos que merecem destaque é a elétrica abertura em Music for a Sushi Restaurant, a sexy Little Freak, a dançante Cinema e, por fim, a batida deliciosa de Daydreaming. Acredito que Harry's House quando for olhado daqui alguns anos deve ser provavelmente visto como um álbum de transição do Harry Styles, abrindo o caminho para a sua derradeira consagração.

Nenhum comentário: