12 de junho de 2022

Primeira Impressão

Dance Fever
Florence + The Machine



Para quem acompanha o blog algum tempo é possível notar que tenho o Florence + The Machine na mais alta conta, desde o álbum debut Lungs em 2009. Com uma discografia praticamente impecável em que até mesmo o falho High As Hope é possível de tirar bons momentos, a banda liderada pela Florence Welch volta aos trilhos do brilhantismo com o lançamento do sensacional Dance Fever.

O quinto álbum da banda é o seu mais coeso até o momento. Não exatamente o melhor, mas o trabalho que consegue melhor mantem o mesmo nível do começo ao fim. Dance Fever não apresenta pontas soltas devido a sua brilhante condução pela produção, capitaneada primordialmente pela Welch ao lado de Jack Antonoff, Kid Harpoon e Dave Bayley. Cada momento tem a sua importância para o grande resultado final. Cada passagem fluida e interligada de faixas produz essa sensação ainda maior de completude. Cada mudança nítida ou sutil de gêneros ou/estilos se faz necessária para a história que a banda quer narrar. E até mesmo faixas intros possuem função muito bem definida ao se mostrarem apêndices intocáveis de uma visão maior e mais profunda. Por isso, Heaven Is Here faz sentido pleno ao ouvir as canções que fazem parte da sua trindade. Começa pela rápida e sombria intro Prayer Factory que abre alas para a genial Cassandra em toda a sua glória e suntuosidade ao tomar o posto de melhor entre as melhores faixas do Dance Fever. O final é com Heaven Is Here e a sua “atmosfera sombria, cortante e sufocante que consegue impressionar desde a primeira nota até o último segundo”. Quando escutadas separadas de seu corpo que é Cassandra, as duas canções soam como trabalhos sensacionais, mas que carecem de um fio condutor. E isso, sinceramente, não termina sendo um erro para o álbum, pois o trabalho é o tipo de que demanda a gente escutar do começo ao fim várias vezes sem saltar uma faixa apenas.

Com uma espetacular, meticulosa e madura conduz instrumental que coloca Dance Fever em outro nível, a sonoridade do álbum é, ao mesmo tempo, familiar e com toques de experimentos em que a banda volta novamente a fazer esse indie/art/baroque pop suntuoso, denso, sombrio e celestial com pinceladas de gêneros como art rock, dance, disco, indie rock/folk e eletropop retirados de influencias diversas como, por exemplo, Iggy Pop, Emmylou Harris e Lucinda Williams. E isso fica ainda evidente em Free ao ser “uma incrível mistura de indie pop, indie rock e toques de electropop embalados em uma camada experimental que consegue soar como um trabalho da banda e, ao mesmo tempo, se diferenciar com os toques de sonoridade de artistas como Bruce Springsteen e The Killers. E é nesse momento que a canção se torna o trabalho mais indie dos últimos tempos da banda”. Todavia, isso é salpicado por todo o Dance Fever em momentos de uma inspiração invejável. “King apresenta os traços marcantes da banda como, por exemplo, o complexo instrumental, a atmosfera grandiosa e força emocional impressionante, mas aqui tudo é envolvido em uma nevoa contida que transforma a canção em uma slow burn impactante que vai entrando cada vez mais fundo na nossa pele a cada nova audição. O estilo de Antonoff é percebido ao notar que King é uma indie rock com inspiração dos anos setenta e, felizmente, essa decisão parece fundir com perfeição com o estilo da banda de maneira a criar uma canção que tem a personalidade única deles do começo ao fim”. Em Dream Girl Evil, a banda pega um atalho pelo indie rock em trabalho áspero, sombrio e brilhantemente finalizado. E tudo isso é sustentado pelos vocais sobre-humanos de Florence Welch.

Se existe alguém que não ache a Florence uma das maiores vozes contemporâneas é necessário revisitar os seus conceitos sobre o que é cantar. E novamente, a cantora entrega trabalhos espetaculares que chegam ao limiar da pura perfeição, seja invocando a sua bruxa interior com toda a sua força elementar ou emoldurando uma melancólica e etérea ninfa das águas. My Love “mostra uma performance vocal de Florence sublime e de uma graça tocante, mostrando o lado mais leve da cantora em anos”. Em Daffodil, Florence sobre aos céus em vocais angelicais para loco depois voltar a terra ao entregar uma força quase animalesca em uma produção impressionante e que clama por um clipe. Entretanto, o melhor momento vocalmente é na relativamente simples Back In Town que deixa exatamente espaço suficiente para a cantora entregar uma performance assustadoramente tocante e tecnicamente soberba. Continuando a suas explorações sobre sentimentos profundos usando referencias excêntricas que apenas a lírica da banda é capaz de entregar atualmente, Dance Fever tem os seus momentos mais marcantes quando a letra é pessoal em quase um desabafo: a devastadora honesta Morning Elvis que narra sobre as suas batalha em se manter sóbria e o quanto isso pode afetar a sua vida e na tocante Girls Against God sobre os efeitos da pandemia na saúde mental das pessoas, especialmente as três primeiras frases do refrão: And it's good to be alive/ Crying into cereal at Midnight/ If they ever let me out, I'm gonna really let it outDance Fever é sem nenhuma dúvida um trabalho a altura de todo o hype que o Florence + The Machine se provou merecedor durante os anos que nos presenteiam com as suas obras.

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