4 de setembro de 2022

Primeira Impressão

HOLY FVCK
Demi Lovato



Apesar de considerar a Demi Lovato como uma artista que amadureceu muito ao longo dos anos, o resultado do seu último álbum (Dancing With The Devil…The Art of Starting Over) foi uma total decepção devido “a sua confusa, fraca e desconexa produção que não tem a menor noção para qual lado do pop atirar, terminando não acertando em nada”. Com os lançamentos dos dois primeiros singles de HOLY FVCK fiquei cautelosamente otimista com o que poderia ouvir. Felizmente, o resultado do álbum é até melhor que poderia esperar devido a uma coesão muito bem vinda com Demi embarcando de vez no pop rock, mesmo que ainda existam erros que precisariam de correções ao médio prazo.

O primeiro e, principal, erro é a produção ainda deixa essa nova fase da Demi soar forçada e, por algumas vezes, clichê. Apesar da cantora combinar e segurar naturalmente o titulo de roqueira, a produção comandada principalmente por Alex Nice e Keith "Ten4" Sorrells não descobriu exatamente qual o tom para fazer todas as canções soarem naturais, fluidas e sonoramente honestas. Existe em vários momentos um verniz que passa do rock de boutique para o pretencioso que deixa o resultado final menos impressionante e, predominante, superficial. Existe, sim, um cuidado especial na parte da estrutura e instrumentalização que já eleva e muito o resultado, especialmente comparando com o trabalho anterior. Entretanto, o resultado aqui parece sofrer tropeções ao longo da sua duração que interrompe bons momentos que poderiam ser elevados progressivamente. Quando a produção sai do lugar comum e começa explorar gêneros e subgêneros dentro do pop/rock é que HOLY FVCK começa a decolar de verdade. E o ponto alto fica por conta da hard rock/pop rock Eat Me com a ótima participação da banda de uma mulher só Royal & the Serpent. Essa exploração não é exatamente genial, mas rompe com a pegada mais segura da sonoridade da cantora e entrega algo revigorante e realmente excitante. E, queridos leitores, Demi segura esse tipo de canção de maneira exemplar, mostrando todo o alcance da sua voz em uma performance espetacular.

Na verdade, HOLY FVCK só realmente funciona e termina acima da média devido a presença de Demi, pois é fácil notar a sua naturalidade com os gêneros e o quanto versátil a sua voz se apresenta. Existem alguns exageros aqui e acolá, mas a cantora se mostra a altura de carregar qualquer faixa ao injetar personalidade suficiente até mesmo para elevar canções com alguns problemas que poderiam ser fatais. No single Skin of My Teeth que é uma cópia de Celebrity Skin da banda Hole, “Demi entrega uma performance sensacional ao casar perfeitamente com a força roqueira bem dosada com o seu potencial vocal em equilíbrio e muito bem tralhada”. Essa qualidade vocal já vem se mostrando tem algum tempo, mas em HOLY FVCK é o momento que parece que Demi está no seu momento mais maduro sem nenhuma dúvida. O melhor momento vocal do álbum fica por conta da power balada pop rock Happy Ending. É até fácil apontar uma balada que normalmente precisa de grande vocais como o melhor, mas a performance de Demi aqui não apenas se destaque tecnicamente e, sim, pela imensa e genuína carga emocional que a mesmo despeja em uma entrega impressionante. Isso se faz necessário devido a poderosa composição da faixa.

No álbum anterior, as letras eram tocantes que tinha a clara intenção de ser o momento de expiação e cura sobre os momentos de dor que a cantora passou ao quase morrer por overdose. Entretanto, não consegui “conectar de forma sincera com as composições que conseguem dar não apenas uma visão da dor de Demi, mas, também, um caleidoscópio de emoções e sentimentos”. Em HOLY FVCK, as composições ainda parecem estarem em um certo loop, mas, felizmente, mostram uma evolução imensa sobre as reflexões sobre a sua vida e deixa claro que, apesar de ainda doloridas, algumas feridas parecem estarem sendo tratadas de maneira mais efetivas. Em Dead Friends, Demi discute de forma tocante uma faceta que não vemos sendo expostas na nossa sociedade ao falar da culpa que sente por ter sobrevivido e outras pessoas que passaram pelo mesmo drama não terem a mesma sorte. Forte, importante e de uma honestidade pura. Na indie rock/pop punk 29 mostra a crônica pungente de um relacionamento tóxico de Demi que foi acentuado devido a diferença de idade. Outros momentos de destaque ficam por conta da grandiosidade de Wasted, a densidade bem dosada de Help Me com participação de Dead Sara e, por fim, a construção cadenciada de FeedHOLY FVCK é uma evolução considerável em relação ao álbum anterior, mesmo não sendo o melhor da carreira da Demi. Acredito que dentro de alguns anos iremos olhar para esse momento da carreira da cantora com um momento de transição que irá culminar em algo realmente expendido no futuro não muito longe.


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