Kelela
Álbuns de gravações ao vivo estão bastante raros atualmente, mas de tempos em tempos surge um trabalho que realmente merece ser “descoberto”. E esse é o caso do lindo In The Blue Light da Kelela.
Conhecida por ser um dos mais talentosos do R&B alternativo, a cantora realizou um dos seus sonhos ao gravar um show seus em dos locais em que a ajudou a construir suas referências musicais: Blue Note Jazz Club, lendário clube de jazz em Nova Iorque. E acredito que a escolha não poderia ser melhor, pois, além da história com o local, o ambiente intimista é o melhor possível para captar toda a essência da sonoridade da cantora. Com doze canções, o álbum é uma coleção inspirada, elegante, emocional, madura e transcendental que reúne várias das suas canções ao longo da carreira com mais três regravações que foram retrabalhadas de maneira a terem um brilhante verniz jazz sem perder, porém, toda a base substancial e magistral que a mesma construiu. E ao remodelar parte da sua sonoridade, Kelela mostra o tamanho do alcance do seu talento e da sua versatilidade, especialmente aliada a um trabalho instrumental impressionante.
Isso é algo ainda mais revigorante devido a ter sido gravado ao vivo, pois o trabalho dos instrumentistas escolhidos é simplesmente magistral em todos os sentidos. A principal qualidade é conseguir manter toda a alma das canções, especialmente as da própria Kelela, e ainda adicionar novas camadas sonoras devido a influencia do jazz, aliando com toda a atmosfera do local de gravação que se mostra propício para algo mais contemplativo e intimista. Além disso, a condução das canções criam uma fluidez azeitada e graciosa para o trabalho, especialmente as que apresentam uma transição direta uma para outra. Até mesmo aquelas tem alguma “fala” da cantora adereçando ao publico conseguem criar uma conexão com quem escuta, pois faz a gente realmente se sentir como se fossemos as pessoas da plateia. Todavia, apesar dessa imensa qualidade instrumental, In The Blue Light tem a sua principal joia a presença magnânima e belíssima da performance da Kelela.
Dona de uma voz sedosa, rica, profunda e tocante, a cantora mostra toda a sua capacidade como cantora ao carregar com maestria todas as canções, tendo como “ajuda” um ótimo coro vocal. É impressionante de verdade ver uma artista se despir de qualquer efeito vocal que a segurança de estúdio pode trazer e ouvir sua voz em toda a sua glória em um trabalho consistentemente genial. E o maior momento do álbum deixa bem claro isso: Raven. Retirada do seu último álbum de mesmo nome, a canção é interpretada de maneira sóbria, elegante e sentimental pela cantora em um atestado da sua capacidade, unindo-se com um instrumental climático e profundo. Preciso, porém, apontar uma coisa negativa em In The Blue Light é a pouca presença de canções do álbum já referenciado que literalmente apenas tem essa canção representada. O trabalho lançado poderia ter ao mesmo mais uma desse genial álbum, deixando de lado uma das regravações que a cantora faz de Betty Carter, pois, apesar de boas, esses momentos são os menos inspirados do show. A regravação que realmente faz jus a sua presença é emocional versão de Furry Sings the Blues da Joni Mitchell. Outros momentos de destaque ficam por conta da encorpada e melódica versão de Waitin' do álbum Take Me Apart e a delicada e sensual versão de All the Way Down tirada do EP Hallucinogen. In The Blue Light é um trabalho que é apenas alguém com o talento da Kelela é capaz de entregar e a mesma o faz da melhor forma possível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário