13 de abril de 2025

Primeira Impressão

In The Blue Light
Kelela





Álbuns de gravações ao vivo estão bastante raros atualmente, mas de tempos em tempos surge um trabalho que realmente merece ser “descoberto”. E esse é o caso do lindo In The Blue Light da Kelela.

Conhecida por ser um dos mais talentosos do R&B alternativo, a cantora realizou um dos seus sonhos ao gravar um show seus em dos locais em que a ajudou a construir suas referências musicais: Blue Note Jazz Club, lendário clube de jazz em Nova Iorque. E acredito que a escolha não poderia ser melhor, pois, além da história com o local, o ambiente intimista é o melhor possível para captar toda a essência da sonoridade da cantora. Com doze canções, o álbum é uma coleção inspirada, elegante, emocional, madura e transcendental que reúne várias das suas canções ao longo da carreira com mais três regravações que foram retrabalhadas de maneira a terem um brilhante verniz jazz sem perder, porém, toda a base substancial e magistral que a mesma construiu. E ao remodelar parte da sua sonoridade, Kelela mostra o tamanho do alcance do seu talento e da sua versatilidade, especialmente aliada a um trabalho instrumental impressionante.

Isso é algo ainda mais revigorante devido a ter sido gravado ao vivo, pois o trabalho dos instrumentistas escolhidos é simplesmente magistral em todos os sentidos. A principal qualidade é conseguir manter toda a alma das canções, especialmente as da própria Kelela, e ainda adicionar novas camadas sonoras devido a influencia do jazz, aliando com toda a atmosfera do local de gravação que se mostra propício para algo mais contemplativo e intimista. Além disso, a condução das canções criam uma fluidez azeitada e graciosa para o trabalho, especialmente as que apresentam uma transição direta uma para outra. Até mesmo aquelas tem alguma “fala” da cantora adereçando ao publico conseguem criar uma conexão com quem escuta, pois faz a gente realmente se sentir como se fossemos as pessoas da plateia. Todavia, apesar dessa imensa qualidade instrumental, In The Blue Light tem a sua principal joia a presença magnânima e belíssima da performance da Kelela.

Dona de uma voz sedosa, rica, profunda e tocante, a cantora mostra toda a sua capacidade como cantora ao carregar com maestria todas as canções, tendo como “ajuda” um ótimo coro vocal. É impressionante de verdade ver uma artista se despir de qualquer efeito vocal que a segurança de estúdio pode trazer e ouvir sua voz em toda a sua glória em um trabalho consistentemente genial. E o maior momento do álbum deixa bem claro isso: Raven. Retirada do seu último álbum de mesmo nome, a canção é interpretada de maneira sóbria, elegante e sentimental pela cantora em um atestado da sua capacidade, unindo-se com um instrumental climático e profundo. Preciso, porém, apontar uma coisa negativa em In The Blue Light é a pouca presença de canções do álbum já referenciado que literalmente apenas tem essa canção representada. O trabalho lançado poderia ter ao mesmo mais uma desse genial álbum, deixando de lado uma das regravações que a cantora faz de Betty Carter, pois, apesar de boas, esses momentos são os menos inspirados do show. A regravação que realmente faz jus a sua presença é emocional versão de Furry Sings the Blues da Joni Mitchell. Outros momentos de destaque ficam por conta da encorpada e melódica versão de Waitin' do álbum Take Me Apart e a delicada e sensual versão de All the Way Down tirada do EP HallucinogenIn The Blue Light é um trabalho que é apenas alguém com o talento da Kelela é capaz de entregar e a mesma o faz da melhor forma possível.

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