30 de março de 2017

Primeira Impressão

Vai Passar Mal
Pabllo Vittar



O mundo pop sempre dependeu de alguma forma do público LGBT, principalmente aquele ligado as grandes divas. Seja sendo fonte inspiração vinda da sua cultura que, durante muito tempo foi relegada ao under-underground da sociedade, ou seja através do simples e direto consumo do trabalho dessas artistas. Não importa qual pe a  maneira, o que importa é que boa parte do sucesso de nomes como Madonna, Cher, Barbra Streisand, Lady GaGa, Britney Spears e muitas outras é ligada diretamente com esse público. Claro, sendo fonte de inspiração ou se inspirando nessas divas, vários membros do público LGBT decidem entrar nesse concorrido mundo de divas pop. E olha que nem estou falando da cultura gay de maneira profunda, mas, sim, do mainstream mais comercial possível. Um bom exemplo disso é a drag queen brasileira Pabllo Vittar que lançou o seu primeiro álbum recentemente: Vai Passar Mal.

Nascido como Phabullo Rodrigues da Silva na cidade de Santa Inês no Maranhão, Pabllo Vittar ganhou destaque nacionalmente quando lançou Open Bar, versão da canção Lean On do Major Lazer. Elogiado pelo próprio Diplo, Pabllo Vittar ganhou ainda mais destaque na mídia ao participar do programa Amor & Sexo e o lançamento do EP Open Bar. No final do ano passado a drag lançou o seu primeiro álbum, mostrando que hoje em dia no Brasil existe um crescente mercado de música feita por LGBTs. A sua existência e a de tantos outras e outros ajuda a pavimentar um caminho de maior representatividade não apenas na música, mas, também, na nossa sociedade. "Botar a cara no Sol" aqui não é apenas uma expressão "bafônica", mas uma tendencia que saiu da necessidade desse grupo de precisar ter vozes que possam ser o veiculo responsável por mostrar a identidade de milhares de pessoas que não tem essa capacidade. Ainda é muito pouco e bastante inconsistente esse novo nicho, mas tudo precisa de um começo. E um desse pontos de partida é o sucesso de Pabllo Vittar, vocês gostando ou não da artista. Agora falando na qualidade do álbum como produto musical: Vai Passar Mal, dentro da suas limitações, é um bom álbum de pop brasileiro.

O grande trunfo do álbum é, ao contrário de muitos trabalhos de outros novatos do pop nacional, é a sua excepcional qualidade técnica de produção. Vai Passar Mal não soa como um trabalho amador ou que não teve o investimento necessário para realmente parecer um álbum profissional, mas tem o mesmo nível técnico de trabalhos de grandes artistas do pop mundial. Muito disso é devido a produção de Rodrigo Gorky (do grupo Bonde do Rolê) e Mafalda, além da colaboração/supervisão/co-produção do Diplo. Claro, mesmo sendo tecnicamente incriticável, Vai Passar Mal não é revolução do pop nacional ou mesmo um suprassumo do pop. Na verdade, o álbum é um despretensioso, divertido, rápido e rasteiro mistura de pop, dance pop, eletropop fundido com ritmos bastante brasileiros como, por exemplo, tecnobrega, arrocha, forró e MPB. Não é exatamente para todos os gostos, mas tem o seu público ao entregar perolas como as faixas Todo Dia (Eu não espero o carnaval chegar pra ser vadia/Sou todo dia, sou todo dia!) , melhor do álbum, e a divertida Corpo Sensual. Com refrões viciantes e grudentos, as composições de cada letra não tem a pretensão de serem algo do nível de Chico Buarque ou coisa parecida, mas cumprem bem a sua função de entreter. Talvez o ponto de maior discórdia em torno de Pabllo Vittar e sua carreira, a sua voz tem alguns problemas, principalmente referente aos excessos de "gritos". Ainda mais que o seu timbre é naturalmente no mais fino. Todavia, Pablo segura bem todas as canções, mostrando bem mais personalidade vocal que algumas cantoras de atual mainstream do pop nacional. É preciso, então, mais técnica e experiência para a drag, mas não tem como não se divertir com músicas como NêgaEle É o TalEntão Vai, essa produzida diretamente pelo Diplo. A visibilidade com o sucesso de Pabllo Vittar é apenas uma porta aberta para a chegada de outros artistas LGBTs e, claro, um passo para uma sociedade um pouco mais acolhedora e igualitária. 

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