11 de maio de 2017

Antes Tarde do Que Nunca - Grandes Obras Esquecidas

Britney
Britney Spears


Alguns dos leitores mais antigos aqui do blog podem achar que eu não gosto da Britney Spears devido as minhas criticas bem negativas ou, no máximo, medianas aos últimos trabalhos da intitulada Princesa do Pop. A verdade não é bem essa. Primeiramente, eu estou muito feliz pela volta por cima na vida pessoal dela depois de um verdadeiro inferno intimo. Em segundo, eu até gosto da pessoa/personalidade da Britney, mesmo ainda achando que algo ali está faltando em relação as interações interpessoais. Em terceiro, e o principal, a minha adolescência/começo da vida adulta foi muito influenciada pelo inicio da carreira da cantora com sucessos como, por exemplo, ...Baby One More Time, Oops!...I Did It Again e Toxic. E é dessa fase que eu retiro as principais referências para analisar boa parte do pop atual e, também, as canções que a própria entrega hoje em dia. E o principal objeto da minha referência em relação a cantora é o álbum Britney de 2001 que, na minha opinião, é o melhor da cantora até hoje e, bem como, um dos álbuns de pop mais refinados dos anos dois mil. E nessa resenha do especial Antes Tarde do Que Nunca - Grandes Obras Esquecidas tentarei explicar o motivo dessa minha crença pessoal. Só que antes é necessário explicar um pouco sobre o contexto "histórico" que envolve o lançamento do trabalho dentro da carreira da Britney.

Em 2001, a cantora já era um imenso fenômeno de vendas, popularidade e, de certa forma, de critica. Com dois álbuns de mega sucesso globalmente lançados (...Baby One More Time de 1999 e Oops!...I Did It Again de 2000), Britney estava no topo da sua carreira e nem tinha ainda completado vinte anos de idade direito. E é nessa época da vida de qualquer pessoa que passamos por uma das principais fases evolutivas da nossa existência quando "viramos" adultos. Claro, esse "virar" é mais como um "passar por um período transitório de mudanças psicológicas, comportamentais e sociais que transformam todo o nosso mundo em um verdadeiro turbilhão de sentimentos e sensações". Nada poderia ser mais comum e mais complexo que essa mudança. Então, imagina para alguém que passa por essa mudança em meio ao furacão de ser, naquele momento, a pessoa mais conhecida do mundo. Obviamente, que tudo isso e, mais um pouco, iria se refletir na sua carreira e, naturalmente, nos trabalhos que a cantora iria entregar dali para frente. E isso foi o que aconteceu exatamente com o lançamento de Britney.

Como todos sabem, Britney nunca foi exatamente a artista autoral e introspectiva que iria colocar todos os sentimentos em profundas e contemplativas composições sobre esse período. Muito provavelmente, a decisão de mudar a imagem da cantora veio das pessoas que gerenciavam a sua carreira naquele momento e da sua gravadora. E essa mudança refletindo o crescimento pessoal da cantora começou de fora para dentro, ou seja, a mudança teve impacto maior na aparência física. Britney já era considerada uma diva pop sexy e provocante, mas, até então, o estilo dela era algo mais Lolita/colegial inocente. Garotas e alguns garotos queriam ser como ela. Outros garotos a desejavam. Quem não se lembra do visual colegial ou do macacão vermelho dela? Sexy, mas até certo limite. Então, veio o ano de 2001 e tudo mudou: Britney ainda era sexy, mas virou também sexual. Roupas decotadas e curtas como aquelas calça jeans cintura baixíssimas. Cabelo esvoaçantes e sempre soltos. Pele bronzeada. E os clipes e apresentações? Sexo. Sexo. Sexo. Sexo. Sexo. Sexo. Sexo e mais um pouco de sexo era o que exalava daquela "nova" Britney. Muitos criticaram e ainda criticam esse tipo de passagem para adultos de artistas, mas, em alguns casos, o resultado funciona de verdade, pois existe algo para sustentar essa transição. Esse "algo" no caso da cantora foi o lançamento de Britney.

Longe de ser a magnum opus do pop, Britney tem como maiores qualidades dois pontos: seu entendimento da artista por trás do álbum e a sua coesão sonora. Ao ser produzido por nomes relativamente desconhecidos naquela época e/ou que já tinham trabalhado com a cantora anteriormente (The Neptunes. Rodney 'Darkchild' Jerkins, Max Martin, entre outros), o álbum conseguiu ganhar uma sensação de familiaridade em relação ao som que a cantora já tinha feito, mas, também, a audácia na medida certa para quebrar algumas barreiras já estabelecidas. Dessa maneira, Britney é um álbum pop/dance pop chiclete/comercial com algumas pitadas de R&B e hip hop injetado por camadas de sexualidade em batidas desenhadas perfeitamente para caber na nova imagem da cantora. Essa sensação de mudança já é logo sentida na primeira música do álbum e aquela que foi primeiro single da nova fase: a icônica I'm Slave 4 U. A batida completamente cadenciada, marcante e pungente, a interpretação sexualíssima em quase sussurros cantados de Britoca, a letra sobre dominação sexual disfarçada de grito de liberdade, o clipe memorável com dançarinos sujos e suados e aquele figurino da cantora é a representação mais do que perfeita da nova fase que a cantora tinha iniciado. E, para a felicidade geral, essa nova fase não poderia ter sido melhor, mesmo não sendo o maior sucesso comercial da então recente carreira dela.

Britney continua, então, entrando em um não tão novo mundo pop, mas que consegue manter uma linha de raciocínio impressionantemente coeso e bem produzido. Já a segunda canção e, também, single número dois do álbum volta a mostrar uma cantora mais "inocente" com o seu pop dance rasteiro e dançante, mas que tem uma mensagem bem clara: em Overprotected a cantora grita que realmente não precisa mais de proteção já que é uma mulher. Divertida e carismática, a canção também ajuda a ser o exemplo perfeito do trabalho de composição feito no álbum: fácil, viciante, redonda, profunda na media certa, isto é, a mesma de um pires e, principalmente, deliciosamente pop. Claro, sendo um álbum pop comercial não seria esperado algo que pudesse gerar reflexões filosóficas em quem ouve ou ao menos dar tempo para pensar durante vinte minutos sobre a mesma, mas surpreende que o álbum tenha tão delimitado um tema só durante o seu todo que é, obviamente, a fase que Britney se encontrava. Em faixas como a balada irresistivelmente cafona I'm Not a Girl, Not Yet a Woman (tema do filme estrelado pela cantora Crossroads, conhecido como uma das maiores bombas de todos os tempos) que teve como co-atura a Dido (saudades Dido! Um beijos para a Dido!), a pop pseudo pop rock Cinderella e a R&B/pop Lonely sobre partir para uma outra depois de amadurecer fica muito fácil perceber essa corrente "temática". E para coroar como a cereja em cima do bolo fica o fato do álbum ser o dono dos melhores refrões de toda a carreira de Britney. E, por falar na cantora, a mesma nunca esteve tão bem como cantora. 

Bem antes de fazer um lip sync por sua vida em cada apresentação e precisar ter como principal suporte o auto tune e, não, a emoção de cantar uma canção, Britney viveu a sua época de ouro como cantora. No seu melhor momento, Britoca era capaz de não apenas segurar canções pop com categoria de uma verdadeira diva, mas, por causa do uso menor de efeitos vocais, a voz da cantora tinha personalidade completamente sua e indiscutivelmente original. Sabe aquele timbre meio fanhoso/língua presa que a cantora ficou famosa? Aqui nunca esteve tão no auge, aliando-se com uma vontade de cantar e, não, a "preguiça" atual. Versátil até certo ponto, Britney colocou a sua marca em canções como a hip hop/pop soul/pop dance Boys, a poderosa e sensacional Bombastic Love, a regravação deslocadamente divertida de I Love Rock 'N' Roll e a fofa/boba/animadinha Anticipating. Todas essas canções só poderiam ganhar vida como ganharam na voz da cantora. Além desses momentos, outra faixa importante de ressaltar é a, até agora, a única parceria de Britney com o, então namorado, Justin Timberlake: o cantor escreveu e produziu a faixa What It's Like to Be Me. Dezesseis anos após o seu lançamento, Britney continua sendo uma verdadeira perola pop esquecida ou negada por muitos, mas que, ao ser analisada mais de perto, mostra que o potencial de Britney Spears era realmente de Princesa do Pop. Todavia, esses tempos não voltam mais e, por enquanto, temos que nos contentar com a atual Britney Spears para o bem, ou para o mal.


4 comentários:

lucas lopes disse...

Minha britney! Amo esse álbum, mas o meu favorito é Oops! Gostei da resenha.

G. RLS disse...

Os remixes de "Boys" (Co-Ed) e "Overprotected" (Darkchild) são sensacionais !

Fell disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fell disse...

Não acredito que depois de anos o J finalmente fez esse review! Agora sim você se redimiu depois de 3 reviews de 1 parágrafo!

Britney
Glory
Blackout

<3 Adorei a resenha!
p.s: Bombastic Love, uma das melhores músicas da carreira da fada!