18 de outubro de 2018

Primeira Impressão

A Star Is Born
Lady Gaga & Bradley Cooper


Assim como a refilmagem de Nasce uma Estrela acontecer de tempos em tempos, o mundo artístico também recebe de braços abertos o surgimento de uma estrela que consegue transitar brilhantemente entre o mundo do cinema e o mundo da música, transformando-se em algo que apenas podemos nomear como uma verdadeira estrela. Muitos já tentaram como, por exemplo, Beyoncé, Justin Timberlake, Whitney Houston, Madonna, entre outros, mas não obtiveram exatamente a consagração no cinema como tiveram na música devido alguns fatores parecidos ou diferentes. Entretanto, alguns poucos artistas conseguiram alcançar um status tão grande que viraram ícones nos dois nichos, atingindo a posição de lenda atemporal. Frank Sinatra, Cher, Bette Midler, Judy Garland e Barbra Streisand são os principais e maiores nomes que fizeram essa transição entre o cinema e a música. Curiosamente, os dois últimos nomes estão ligados diretamente ao novo nome que pode entrar categoria, pois ambas assumiram o papel que pode fazer de Lady GaGa o maior nome do entretenimento dessa geração. 

A premissa é simples: jovem, desacreditada e talentosa cantora encontra o amor e a chance para o sucesso na figura de um problemático e em começo de decadência astro da música que, apesar do relacionamento, continua o seu caminho para autodestruição, enquanto a amada começa a sua rápida ascensão ao estrelato. Tirando algumas mudanças aqui e ali como, por exemplo, os nomes das personagens e, claro, mudanças de ambientação devido as épocas distintas, Nasce uma Estrela é um dos contos de fadas modernos que, assim como as histórias de Branca de Neve e CIA, parece renascer para cada nova geração. Assim como a história das suas interpretes, tirando a atriz original Janet Gaynor, pois tanto Barbra, Judy e, agora, GaGa já eram artistas consagradas da sua maneira, fazendo de Nasce Uma Estrela um trampolim para a carreira. No caso de Garland, o objetivo era provar que a mesma ainda poderia ser um grande nome de Hollywood em 1954, apesar de todos os seus problemas pessoais. Já Barbra, que já era um dos maiores nomes em 1976, queria provar que poderia ter controle total da sua carreira em um projeto perfeito para o seu talento (apesar da critica ao filme negativa, essa versão foi sucesso de público e levou para casa cinco Globo de Ouro, o Grammy de Música do Ano e Melhor Canção no Oscar para Evergreen, co-escrita por Barbra). Em 2018, o filme serve como a possível consagração definitiva para GaGa ao entregar um performance espetacular que muitos não esperavam que a já a faz como uma das favoritas ao próximo Oscar. Além disso, GaGa também pode se consagrar pelo lado musical, pois é dela a base e a estrutura para a sensacional e, por muitas vezes, avassaladora trilha sonora. Todavia, Nasce Um Estrela não é apenas um "jogador", pois Bradley Cooper entrega a sua mais visceral e crua performance que, algumas vezes, até mesmo ofusca a presença de GaGa. Além disso, o ator também pode se consagrar como diretor e, surpreendentemente, um ótimo cantor.

É necessário dizer que apesar de falar sobre música e conter dezenas durante a sua projeção, o filme não é precisamente um musical, pois, ao contrário de outros filmes do gênero, as canções não servem para realmente contar a história e, sim, refletir sobre o que está acontecendo em cena. Resumidamente: a trilha de Nasce uma Estrela está mais para um álbum conceito do que para a de um musical. Também é necessário dizer que o álbum não é direcionado apenas para um gênero musical, pois as canções, além de transmitir a trajetória de ambos (em especial da personagem de GaGa), também estão ligadas com as personalidades artísticas dos dois protagonistas. Assim sendo, a trilha de Nasce uma Estrela é uma compilação de faixas que vão do country rock/folk até o pop contemporâneo/pop rock e chegando ao electropop/R&B. Essa grande diferença entre os gêneros é algo que pode até deixar o resultado um pouco estranho, mas, felizmente, todo o trabalho funciona esplendidamente devido a produção por trás do álbum que, como dito, anteriormente foi capitaneado pela própria GaGa, mas sem esquecer a presença de talentosos e distintos que dão vida para cada faixa.

Nomes como Mark Ronson, Lukas Nelson (filho da lenda do country Willie Nelson), Benjamin Rice, Diana Warren , DJ White Shadow até mesmo Bradley Cooper são apenas alguns nomes que colocam a sua marca na trilha, mas quem deu o tom foi mesmo a presença de GaGa atuando como compositora e produtora de quase todas as faixas, inclusive aquelas que a mesma não se encontra cantando. A influência da cantora foi tanta que a mesma sugeriu e foi atendida a ideia que a maior parte das canções fossem gravadas em cena, deixando o trabalho em estúdio em segundo plano. Essa acertada decisão dá para o álbum uma sensação de veracidade que ajuda a dar a atmosfera necessária para que o público possa ser imerso para dentro da jornada que é a história do filme. Com uma equipe dessa por trás do álbum seria quase impossível acontecer um grande erro, mas o álbum vai além das expectativas ao ser uma obra impressionantemente refinada e cativante.

Lindamente compostas, as faixas no álbum conseguem, não apenas transmitir as emoções que o filme mostra, e, sim, uma verdadeira e genuína sensação que cada música é exatamente o que deveria ser caso tudo fosse "real". Explicando: não importa se a canção é uma country rock ou uma electropop comercial, pois a construção de cada uma passa que poderiam verdadeiramente ser trabalhos de artistas reais e, não, apenas feitas para a trilha de um filme. Essa sensação é primordial para o resultado do álbum e, principalmente, do filme, pois tudo fica ainda mais fácil o público se relacionar com os personagens e a suas histórias. Com essa organicidade, as canções soam trabalhos coerentes com os momentos que refletem, criando uma excepcional jornada emocional em que o público é convidado a mergulhar em cada faixa.

Assim como o filme, o começo da trilha é dedicada em apresentar o personagem de Bradley ao ser, basicamente, uma eficiente e sólida coleção de canções country rock/folk como, por exemplo, Maybe It's Time que estabelece a personalidade melancólica do personagem. Entretanto, o melhor momentos solo do ator/diretor é na pesada e sensacional Alibi em que podemos ouvir uma versão modernosa do que poderia ser um Johnny Cash. E, vocalmente, Bradley é um achado genuíno, pois, além da atuação avassaladora, o ator se mostra um carismático e bem acima da média cantor que deixa no chinelo vários cantores da vida real no atual cenário do mesmo gênero. Apesar do seu esforço solo, a trilha e o filme só ganham vida realmente com a presença de GaGa (a sua primeira aparição é uma pingente regravação do clássico La Vie en Rose) que, além de entregar as suas melhores performances vocais da carreira, exala uma química rara com o seu parceiro como na linda e tocante Music to My Eyes e na poderosa e, com certeza, indicada ao Oscar Shallow. Transitando por todos os caminhos do álbum, GaGa mostra a sua veio mais pop assim que a sua personagem ascende ao estrelato com canções como a Look What I Found, o "primeiro sucesso pop" em Heal Me e a power balada Before I Cry. é nesse momento em que o álbum apresenta as canções mais fracas, pois, apesar do domínio de GaGa e da produção refinada, a parte também parece uma critica sobre a massificação do pop em geral. Entretanto, isso não impede que a cantora ao mudar de estilo pop entregue as melhores e mais emocionantes canções do álbum: a clara homenagem ao Elton John na linda Always Remember Us This Way, a tocante e linda balada Is That Alright que, infelizmente, ficou renega aos créditos finais e a canção devastadora I'll Never Love Again em que podemos ouvir claramente GaGa emular Whitney Houston em uma performance simplesmente genial. Cantado no final do filme, a cena em que a cantora entoa a canção deve ser o momento usado para vender GaGa para os votantes da Academia para o Oscar de Melhor Atriz. Ainda é cedo para dizer qual será o futuro de GaGa nesse novo caminho, mas é necessário dizer que esse é um começo que já deve fazer parte da história da música e do cinema para sempre.



Um comentário:

lucas lopes disse...

Só lembrando que a Janet Gaynor já era mais que consagrada e oscarizada, viu?