7 de março de 2019

Primeira Impressão

Head Above Water
Avril Lavigne


Sabe quando a sua mãe mandava você comer alguma comida (em geral um legume ou vegetal) e, mesmo nunca tendo provado o mesmo, você diz que não gostava? E, claro, ela forçava a você comer, pois você tinha que provar de tudo um pouco. Então, normalmente, você acabava não gostando do alimento, mas, algumas vezes, você começava gostava e ficava com certa culpa por ter falado "mal". Ok, essa introdução foi meio longa e confusa, mas, queridos leitores, é exatamente assim que me senti após ouvir o novo álbum da Avril Lavigne, o decente Head Above Water.

Nunca foi exatamente fã da Avril, mas sempre gostei dos seus primeiros álbuns e detestei os dois últimos. E, pensando no seu recente "currículo", esperei que Head Above Water fosse uma verdadeira bomba como muitos estão pintando por aí. E, queridos leitores, a surpresa é saber que o álbum não é nada disso, mas, na verdade, um trabalho que recoloca a cantora em um caminho perdido algum tempo. O principal motivo de gostar do trabalho é que estamos diante de um álbum de expiação, ou seja, Head Above Water é uma celebração da vida depois que a cantora quase morrer devido a doença de Lyme. Lembrando a temática de Rainbow da Kesha, Avril comemora, celebra e coloca para foras todos os sentimentos negativos que sentiu nos últimos anos, mas, primordialmente, se mostra forte e empoderada para continuar a sua carreira e a vida. Poderosa e com as forças renovadas, a cantora entrega canções liricamente bem escritas que não tem medo de querer fazer emocionar ao lidar como temas como mortalidade, fé, esperança, determinação e empoderamento feminino. Inspirado e com conteúdo, Head Above Water se mostra o trabalho melhor escrito e maduro desde Under My Skin de 2004. Claro, não espere algo de uma qualidade à beira da genialidade, mas, sim, letras redondinhas e com uma sinceridade comovente como é a boa Birdie. O grande problema aqui é a inconsistência da produção que vai do divertido ao desanimado bem rápido.

De forma geral, Head Above Water é um formulaico e coeso trabalho de pop/pop rock que flerta levemente com R&B e hip hop, apresentando quase nada de novo em relação a sonoridade da cantora até o momento. Talvez o único ponto novo é que o álbum é o mais maduro de Avril, pois deixa de lado as tentativas de apelar para um público da cantora que já não é mais adolescente. Na verdade, o trabalho até empolga na sua primeira metade, pois é aqui que se apresenta as canções menos clichês como é o caso da inusitada e divertida parceria com a Nicki Minaj Dumb Blonde. Despretensiosa e com toques bem vindos de vergonha alheia, a canção dá uma leve amostra do que o álbum poderia ser se tivesse uma produção que não fosse tão previsível já que dessa faixa para frente o álbum cai em um espiral de canções mornas, sem inspiração e que não resultam em algo ruim devido a boa parte técnica. Quando a produção se deixa arriscar, Avirl entrega a acima da média pop soul Tell Me It's Over. A canção também deixa claro que a cantora evoluiu bem como cantora, mesmo que em alguns momentos a sua voz delicada possa estar no limite entre cantar e gritar. Outro bom momento de Avril está na balada dramática I Fell in Love with the Devil. Apesar de ir aos trancos e barrancos, Head Above Water se mostra um álbum que tem no seu interior uma sinceridade que compele e uma Avril em um estado de graça que é elogiável. Espero que agora seja apenas ladeira acima, pois a cantora merece.


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