28 de março de 2019

Primeira Impressão

Hello Happiness
Chaka Khan




Uma das atitudes que acho mais irritante de parte do público jovem em relação as divas das músicas é "acusar" várias deles de terem simplesmente envelhecido e, por causa disso, não estarem no mesmo nível que as "jovenzinhas". Além de ser uma atitude totalmente discriminatória e que mostra um pouco como a sociedade de maneira geral trata a terceira idade, grande parte daquelas que são chamadas de velhas ainda conseguem entregar trabalhos bem melhores que várias novas divas. Eis que a diva do funk Chaka Khan está aqui para provar com o lançamento de Hello Happiness.

Ao chegar ao seu décimo segundo álbum na carreira solo, Chaka Khan chegou em uma momento da carreira que não mais precisa provar nada para ninguém, mas mesmo assim parece pronta para continuar a surpreender. Dona de nada mais que doze Grammys, a cantora é conhecida como a rainha do funk devido a sua carreira como artista solo e, primeiramente, como vocalista da banda Rufus. Dona de hits como I'm Every Woman e Ain't Nobody, Chaka é uma importância ímpar para o atual cenário pop/R&B, pois a mesma foi a primeira a ter uma canção com partição de um rapper nos topos das paradas com o clássico I Feel for You de 1984. Aos 65 anos, a cantora volta de um hiatos de mais de dez anos em que precisou cuidar de problemas sérios para lançar Hello Happiness que, apesar de suas falhas, é uma celebração sobre a vida e seu amor pela música.

Paradoxalmente, um dos trunfos de Hello Happiness é, também, a sua principal falha: a sua ousada produção. Produzido pelo renomado DJ britânico Switch, conhecido pelo trabalho ao lado da M.I.A e Beyoncé, ao lado de Sarah Ruba, o álbum é uma tentativa de modernizar a sonoridade de Chaka ao adicionar grandes doses de música eletrônica ao tradicional funk/R&B. Em parte funciona bem, pois ajuda a cantora sair do lugar comum sem perder, porém, a sua identidade e, principalmente, a sua força artística. Todavia, existe outra parte que a tentativa erra o alvo quando deixa o trabalho pretensioso e nada orgânico. Faltou um volume em que a produção pudesse abaixar o tom das inovações em um nível que não dominasse totalmente o trabalho. Em uma montanha russa, Hello Happiness não tem estrutura para ser mais do que uma ótima ideia executada de forma meio equivocada em alguns momentos. Felizmente, existem alguns bons momentos em que o conceito e a realização andam de mãos dadas em uma harmonia quase perfeita como é caso da canção que dá nome ao álbum: a eletrizante Hello Happiness. Outro ponto positivo é a qualidade técnica das construções das faixas que ajuda a dar uma leve passada de pano nos erros de sonoridade. Conta-se isso ao fato do álbum ter apenas oito faixas ajuda a minimizar o impacto dos erros e elevar os acertos. O que de fato sustenta todo o álbum é a presença explosiva, magnética e gigantesca de Chaka Khan que entrega performances de uma força impressionante e com uma maturidade que apenas uma diva de verdade poderia ser capaz. Além faixa já citada, outros dois momentos de destaques são a sensual Too Hot e dançante Like Sugar com leves toques de disco music. Sem precisar ser perfeito, Hello Happiness é a comprovação que talento é igual vinho e deveria ser muito mais respeito.

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