7 de julho de 2019

Primeira Impressão

Wasteland, Baby!
Hozier


A música foi feita para a gente expressar e sentir emoções que nem sempre conseguimos naturalmente. O poder da música se baseia naquele momento que um artista consegue expressar em versos a dor que sentir ao ver quem ama ir embora. O poder da música se baseia naquele momento que uma pessoa ouve a mesma música e se emociona, pois consegue se relacionar com o que está sendo transmitido. E nem sempre é devido o mesmo motivo que fez o artista fazer a canção. Existe um problema, porém, que pode dar uma "travada" nessa vida "criador-receptor" é quando o artista parece estar demasiadamente intencionado a passar uma mensagem que seja realmente capaz de sensibilizar quem está ouvindo. Esse é o principal defeito do segundo álbum do irlandês Hozier, o bom Wasteland, Baby!.

Para quem não se lembra, Hozier é o dono do sucesso Take Me To Church que alcançou o sucesso mundial em 2014/2015. Reconhecido pela sua grave e poderosa voz, Hozier apresenta uma qualidade complexa, profunda, reflexiva e critica nas temáticas das suas composições que, normalmente, exploram assuntos sociais como, por exemplo, uma critica a igreja Católica na canção citada. Claro, também há espaço para canções românticas, mas até essas apresentam composições fortes e cheias de simbolismo. E se une a esses duas características, o fato que o artista navega sonoramente de forma elegante em uma mistura de indie rock com soul, indie pop, R&B, blues, folk e até gospel que é possível compreender que naturalmente a sonoridade do cantor tende a ter uma sensação de urgência e grandiosidade. Essa sensação é verdadeira, mas, infelizmente, Wasteland, Baby! não tem força suficiente para manter intacta do começo ao fim.

É necessário dizer que o álbum é um trabalho bastante decente que é capaz de atrair o público devido aos seus méritos. Isso não quer dizer, porém, que Wasteland, Baby! não derrape bem no momento que a sua intenção se torna maior que a mensagem que o artista quer que o público. Explicando: o álbum é pretensioso. Infelizmente, não há como florear as palavras, mas é preciso ir direto ao ponto aqui. Hozier deixa bem claro do começo ao fim que a sua intenção é fazer o público refletir e/ou se emocionar. E, vocês queridos leitores, podem estar pensando: isso não é algo que uma infinidade de artistas também desejam? Sim, mas é o normal e aconselhável que a intenção seja algo natural, espontâneo e fluido. E que a vontade de passar alguma mensagem seja colocada em segundo, terceiro e até quarto plano, deixando exposto a mensagem em si e dando espaço para o público reagir da maneira que entender e conseguir. Em Wasteland, Baby!, o cantor não dar nenhuma brecha para o público ao "enfiar" na cara do mesmo a todo instante a sua vontade de discorrer e refletir sobre assuntos de "gente grande". O resultado dessa toda intensão é o fato que o álbum termina de maneira geral um pouco distante de quem ouve, pois coloca uma parede de vidro duplo entre o criador e o receptor. Dá para ver e entender a mensagem, mas fica complicadíssimo sentir de verdade. Outro problema que acompanha as composições é uma característica que curiosamente é uma qualidade genuína do cantor: a sua verborragia.


Claramente, Hozier é um homem culto e com uma inteligência artística sofistica e atemporal. E isso fica bem não apenas devido a complexidade semântica e sintática e, também, devido as referências de todos os tipos que o mesmo coloca nas suas canções, indo de grandes nomes da música, grandes pensadores até chegar a personagens mitológicos. Essa característica dificulta o envio da mensagem para um público menos familiar com todas as citações e/ou que tem a língua inglesa com a sua segunda. Todavia, a sagacidade e elegância que o mesmo aplica em cada canção sem ter medo de pegar o caminho fácil também precisa de elogiado, pois ajuda o cantor a dar a sua personalidade incontestável e a sua peculiar maneira de enxergar a vida. Quando o trabalho funciona de verdade, Hozier entrega momentos sublimes como a dramática balada indie rock/folk irlandês Shrike que retrata o recomeço de alguém que sofreu por amor, mas hoje está renovado para a vida. Outro solavanco é a construção geral da sonoridade do álbum que, apesar de entregar um sólido e requintado união de indie rock, soul e folk, não consegue dar nuances para as canções, resultando em um álbum linear e, levemente, pouco imaginativo. Não é um problema que afeta tanto o álbum como os já citados, mas ajuda para que Wasteland, Baby! não tenha a força que poderia alcançar. O que pode ser elogiado sem nenhum porém é a performances vocal de Hozier. Limpa, sem exageros, versátil e deixando o seu magico timbre brilhar, Hozier é um vocalista capaz de derreter até mesmo o coração mais duro apenas em uma performance apenas boa. Pena que as canções não estão no mesmo nível que a sua força vocal. Quando isso acontece, o público é presenteado com a poderosa Nina Cried Power ao lado da lenda gospel/soul Mavis Staples. Outros bons momentos ficam por conta da sensual Movement, da gostosinha rock/soul No Plan e a sombria Talk. Apesar dos erros, Wasteland, Baby! é um trabalho digno de ser ouvido e mostra que, quando souber melhor passar a sua mensagem, Hozier terá em mãos algo genial.

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