9 de dezembro de 2021

Primeira Impressão

Prioritise Pleasure
Self Esteem





Cerca de uns três anos atrás descobri o site Album of The Year que serve como um agregador de criticas de especialistas e do público para álbuns e singles de praticamente qualquer artista, sendo internacional e nacional. Obviamente, nem sempre critica e público conseguem falar a mesma língua, mas devo admitir que é diferença entre esses dois nunca foi tão grande para Prioritise Pleasure da britânica Self Esteem.

De um lado, os críticos que aclamaram o álbum dando uma média de 94 dentre as dezoito resenhas, sendo o melhor álbum de 2021 até o momento pela nota. De outro, o público que deu uma média de 65 com mais de 450 avaliações, sendo que muitas foram bastante negativas. E é por isso que fiquei interessado pelo álbum, mas devo admitir que fiquei com um pé atrás devido a tamanha discrepância entre resultados. Felizmente, nessa guerra devo dar razão para os críticos, pois, apesar de não ser genial, Prioritise Pleasure é um grande trabalho e completamente inesperado em todos os momentos.

Segundo trabalho de Rebecca Lucy Taylor, nome de nascimento de Self Esteem, Prioritise Pleasure é o tipo de trabalho que a gente tem que ir sem ter ouvido nenhuma música anteriormente, pois em cada momento é um verdadeiro de desfile de surpresas, quebras de expectativas e guinadas de caminhos que fazem a nossa cabeça girar freneticamente. Acredito que essa característica deve influenciar a percepção de quem ouve favoravelmente ou não, pois depois ouvir Prioritise Pleasure não há como deixar de sentir uma forte emoção sobre álbum.

Sonoramente, o trabalho pode ser simplesmente explicado como uma grande celebração do pop em várias das suas formas, mas a verdade é que a produção faz uma saga por basicamente todos os principais subgêneros pop que circulam atualmente. Entretanto, a produção subverte ao incorporar mudanças drásticas e incríveis incorporações de nuances, texturas e construções em faixas que poderia seguir facilmente caminhos fáceis. Acredito que o maior e melhor exemplo disso seja a genial I Do This All The Time. Na teoria, a canção é uma mistura de pop soul e R&B, mas tudo é girado de cabeça para baixo quando os versos são declamados como se fosse um poema musica e o refrão cantado em forma de coro que cria toda uma atmosfera cativante, refrescante e genuinamente original. É claro que outros artistas já fizeram algo dessa maneira, mas Self Esteem exala uma sensação que estarmos ouvido pela primeira vez essa pratica. Isso se deve devido a extraordinária produção de Jacob Vetter, Johan Hugo e TIEKS que consegue criar essas pérolas mesmo parecendo que nada vai realmente funcionar. Outro momento de mesma força artística fica por conta de The 345.

Mais tradicional que a canção citada anteriormente, The 345 é uma pop soul/indie pop que apresenta um cuidado incrível com a construção da sua encorpada e épica instrumentalização. A quebra aqui vem da sensacional performance vocal de Self e as decisões da produção vocal. Por exemplo, a cantora adicional uma carga pesada de emoção realmente genuína e a produção vocal acerta com o excepcional coro e a decisão de usar um off para a bridge. Isso ajuda a provar que um artista pode ter a melhor produção do mundo, mas se não tiver realmente talento nada vale a pena. E isso Self Esteem tem de sobra, pois, além de dominar qualquer momento, a cantora apresenta um alcance e versatilidade gigantesco. Em Hobbies 2, a cantora usa o seu timbre levemente anasalado para dar vida a uma faixa que fortemente se inspira na Kate Bush, mas que ganha vida própria na voz da artista. E mudando de caminho, a cantora entrega na balada indie pop John Elton uma poderosa e sentimental interpretação que brilha nos momentos contidos assim como nas grandes explosões. Novamente, a produção vocal acerta em cada adição e na condução da performance da cantora que dá o espaço necessário para a composição encontre o seu porto seguro.

Misturando momentos de puro empoderamento e crônicas sobre amores e desilusões, Self Esteem é dona de uma escrita muito pragmática, requintada e sempre com toque ácido que eleva o trabalho para um outro parâmetro. Nem sempre, a composição parece funcionar além das linhas da canção, mas, felizmente, quando isso acontece surge momentos como a forte Prioritise Pleasure. Falando sobre amor próprio, a faixa que dá nome ao álbum quer fazer a gente lembrar de colocar em perspectiva de que a gente precisa nos colocar em primeiro para poder amar os outros. Sem exatamente ser de auto ajuda, a faixa faz funcionar uma linha como “Shave my pussy (That's just for me)” sem soar vulgar ou desnecessário. Já em You Forever, uma curiosa eletropop/post-disco, a cantora entrega uma old fashion e sincera composição sobre um relacionamento vai e volta. Outros momentos de destaque do álbum ficam por conta de Fucking Wizardry e a profusa mistura de texturas sonoras, a cadencia sensual de Still Reigning e a batida frenética de How Can I Help You. Entendo facilmente que Prioritise Pleasure possa ser realmente um álbum tão divisor de opiniões, mas isso também faz parte do motivo de fazer de Self Esteem uma artista tão interessante. E o meu conselho é: ouça e tire suas próprias conclusões.

Nenhum comentário: