3 de dezembro de 2021

Primeira Impressão

star-crossed
Kacey Musgraves




Dona de uma carreira que pode não ser um estouro comercial gigantesco, a Kacey Musgraves alcançou um patamar que poucas cantoras atingiram nos últimos tempos ao alcançar o estrelato impulsionada principalmente pela aclamação da mídia especializada. A sua inesperada vitória com o Álbum do Ano no Grammy para Golden Hour em 2019 ajuda a solidificar essa impressão. E é por isso que ao chegar quarto álbum intitulado star-crossed existia um hype bem grande para o resultado final. Apesar de não ser um nocaute, o álbum é mais uma prova do imenso talento de Kacey e, também, se torna o tipo de álbum que pode ser redescoberto depois de alguns anos com sendo um trabalho a frente do seu tempo.

A maior e mais brilhante qualidade de star-crossed é o senso sonora que Kacey e sua equipe de colaboradores apresenta, especialmente os produtores Ian Fitchuk e Daniel Tashian. Continuando as explorar as barreiras do country, a produção entrega um sofisticado, elegante, coeso e lindamente instrumentalizado mistura de country pop, electropop, pop, índie e folk que consegue soar original, mesmo que não tenha nada exatamente de novo. Essa qualidade faz parte da persona que a cantora vem mostrando desde que estourou, lembrando muito o que faz a Kylie Minogue ao ter um resultado como um todo não precisa ser excepcional e, sim, com qualidade do começo ao fim. E isso fica claro em todos os momentos em star-crossed, pois é nítido o cuidado em cada pequeno detalhe desde a disposição das faixas até a sua mixagem final. O problema aqui é que a produção se torna segura demais para uma cantora que busca desmontar um gênero tão tradicional. Falta uma refrescância para elevar o material de uma forma mais certeira do que pontais momentos como, por exemplo, a genial faixa título Star-Crossed que “continua a explorar a visão de Kacey sobre o que pode ser o country ao ser uma atmosférica e tocante mistura de country pop com influência latina, indie pop e folk. Especialmente na sua primeira metade, o single cria uma construção realmente original e inesperada que dá o tom perfeito para toda a canção, entregando uma instrumentalização espetacular”. Outro problema é a quantidade de faixas que deixa o álbum arrastado devido a quantidade de fillers. Das quinze faixas que compõem o álbum acredito que quatro ou cinco poderiam ser cortadas sem nenhum problema e ainda assim o conceito do álbum se manteria intacto. E esse conceito é o que faz o álbum realmente ser um destaque.

Gravado após a separação de Kacey do também músico Ruston Kelly, o álbum é sobre o seu divorcio se baseado em grandes tragédias como, por exemplo, a de Romeu & Julieta. Uma tragédia romântica moderna, star-crossed é agraciado pelas polidas, inteligentes e sentimentais composições da cantora que sempre precisa de pouco para passar um caminhão de emoções. E isso que marca as canções no álbum que sempre apresentam letras bem acima da média que compensam até mesmo erros de produção. O melhor momento de todo o álbum liricamente é a devastadora Camera Roll. Ao falar sobre as memorias do seu casamento ao usar as fotos que ainda estão salvas no seu telefone, Kacey entrega uma devastadora crônica sobre ainda se sentir completamente divido entre a dor do fim e, ao mesmo tempo, ainda se agarrar as boas lembranças. E, apesar de sentimental, Kacey não perdeu o seu lado ácido como é visto da ótima breadwinner ao narrar as aventuras de um típico esquerdomacho em um relacionamento que se torna tóxico. Outros momentos interessantes do álbum ficam por conta de Good Wife e as expectativas frustradas de Kacey sobre o que é ser uma “boa esposa”, a melancólica If This Was a Movie..., o single cativante Justified e, por fim, a esperança no final do túnel em There Is a Light. Se tornando uma versão da Dolly Parton moderna, Kacey Musgraves vai se tornando o maior nome do country moderno ao expandir os seus horizontes e sem precisar do reconhecimento dos dinossauros do gênero para alcançar o posto.

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