3 de outubro de 2023

Primeira Impressão

Tension
Kylie Minogue





Com uma carreira artística com quase quarenta anos de história, sendo que trinta e cinco dedicadas a música, Kylie Minogue chegou a um momento da sua carreira que literalmente não precisa mais provar nada sobre a sua imensa importância para a indústria da música e, principalmente, do panteão pop. Todavia, a cantora ainda continua a mostra toda a sua força ao lançar o seu ótimo décimo terceiro álbum: Tension.

Inteligente, refrescante e ousado, o álbum parece mais o trabalho de uma jovem estrela pop em busca de reconhecimento do que o de uma veterana calejada como Kylie. E digo isso da melhor maneira possível. Se em Disco, o seu álbum anterior, a cantora surfou na onda do post-disco usando a sua personalidade para criar algo realmente excitante, Tension é uma salada de fruta pop em que a produção atira para vários lados acertando basicamente quase todos. E essa vontade de explorar é algo incrível, pois mostra o quanto ainda a Kylie tem para queimar na vontade de criar a sua arte e presentear seus fãs. E a sua maturidade é sentida no momento que percebemos que, apesar de experimental, as sonoridades que se revelam durante todo o álbum remetem a momentos passados da carreira da artista, criando esse amalgamo de novidade brilhante e nostalgia radiante. Um ótimo exemplo é o single que fez a Kylie voltar ao topo das paradas: Padam Padam. Apesar de não ser a melhor canção do álbum, o trabalho é de longe o mais cativante e relevante comercial dos últimos dez anos da carreira da Kylie em que “novamente estamos diante de uma faceta que parece ser uma novidade para a sua carreira ao entregar uma deliciosa farofa house, eurodance e eletrocpop”. Todavia, a canção possui semelhanças com o seu maior sucesso Can't Get You Out of My Head ao ser uma canção extremamente cativante, conceitualmente inspirada, estruturalmente simples e com um toque de genialidade ímpar. E como dito anteriormente, Padam Padam nem é o melhor momento do álbum, pois Tension vai se revelando uma verdadeira pérola a cada nova música.

Como um verdadeiro álbum pop, o trabalho é de uma coesão perfeita que a gente nem percebe o tempo passar sem ser um resultado dispensável. É leve, radiante e despretensioso, mas existe uma clara vontade de fazer quem ouve se deixar envolver. Graças a uma produção enxuta, inteligente, criativa e quem sabe perfeitamente dá para Kylie o material ideal entre o experimental e o lugar conhecido, conseguindo criar uma fusão entre esses dois caminhos. Isso mostra na canção que dá nome ao álbum Tension: uma “canção é ousadíssima sonoramente e, ao mesmo tempo, está dentro do campo sonoro que a cantora já mostrou em vários momentos. Uma hipnótica, robusta e surpreendente house/eletropop que tem a capacidade de explorar toda a sua potencialidade ao ter tempo suficiente para criar nuances e texturas”. O toque R&B de Hands é surpreendente bem-vindo, adicionando um sabor tão inusitado para o álbum que também não foge do tema experimental. Além disso, a canção mostra a imensa versatilidade da Kylie que desfila o seu carisma elegante e o seu timbre delicioso de maneira a entoar cada canção com a segurança de uma artista com uma bagagem imensa e, ao mesmo tempo, a deliciosa excitação de se descobrir em novos rumos. Adoro a batida synth-pop de Things We Do For Love e a sua áurea nostálgica que poderia ter sido facilmente lançada durante os anos dois mil, mas é na presença brilhante da cantora que a canção encontra o seu ponto de equilíbrio pleno. Tenho que apontar que Tension não é perfeito, pois existe alguns fillers aqui e acolá e, principalmente, as boas composições que deixam no ar que poderia ser em vários momentos geniais. Entretanto, o álbum é tão bem conduzido que esses pontos são colocados para debaixo de tapete. Outros momentos que merecem destaque são a pomposidade electropop de Hold On to Now, as mudanças rítmicas suculentas de You Still Get Me High, o toque funk/disco de Green Light e, por fim, a eletricidade de Vegas HighTension não é o melhor álbum da carreira da Kylie Minogue, mas é um ponto brilhante em uma carreira que continua ser um dos pontos altos do pop de ontem, hoje e de amanhã.

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