29 de outubro de 2023

Primeira Impressão

Scarlet
Doja Cat





Não há dúvidas que a Doja Cat é a artista mais polemica da atualidade devido a suas duvidosas escolhas pessoais. E isso se estende para a sua carreira artística, pois Scarlet é exatamente um álbum que gera amor ou ódio.

Quarto álbum da carreira da rapper, o trabalho é uma evolução considerável em relação ao anterior Planet Her. Grandioso e ambicioso, Scarlet tira da equação o pop que fez a Doja estourar comercialmente para dar espaço para uma sonoridade mais direta de hip hop, rap e R&B sem perder, porém, o tino para ser comercial. E isso é incrivelmente algo que dá certo já que a artista um verniz mais original, mostrando o que aparenta ser a verdadeira persona artística da Doja Cat. Funciona? Sim e não. O álbum é claramente criativo, mas não sabe segurar o mesmo nível para criar algo coeso e fluido do começo ao fim. Existe três pontos que impendem plenamente o álbum alcançar esse nível: o seu tamanho com mais de cinquenta minutos e quinze faixas (dezessete se contar a versão digital), a quantidade de produtores (cerca de vinte oito nomes) e a rapidez de várias faixas.

Da parte do tamanho, Scarlet abre muito espaço para canções fillers, desnecessárias e previsíveis, deixando a experiência arrastada em alguns momentos. Sem um nome único para direcionar o álbum, a quantidade de produtores faz parecer a sonoridade um Frankenstein em existem parte que conversam entre si e outras que estão fora de sincronia. Por exemplo, Renaissance tem uma grande quantidade produtores, mas todas as faixas tem a coprodução da Beyoncé é o farol para a condução do álbum. E por fim, várias faixas tem durações efêmeras que parecem serem feita pensando apenas em serem virais do que tijolos consistentes dentro dessa construção. E é por isso que a maiorias das melhores canções do álbum possuem mais de três minutos, pois assim é possível trabalhar bem as ideias que cada canção apresenta de maneira plena. Esse é o perfeito caso de Attention. “Uma mistura bem intencionada de hip hop, neo soul, trip hop e boom bab (subgênero do East Coast hip hop) em que a produção trabalha em criar toda uma densa atmosfera em invés de querer dar uma batida que seja apenas para hitar. E, apesar de não ser para todos os gostos, Attention funciona no instante que se mostra como esse amadurecimento da Doja sem perder, porém, o seu lado carismático”. Com essa montanha russa, Scarlet funciona de verdade devido a presença espetacular da Doja Cat.

Digam o que quiser, mas é complicado falar que a rapper não é talentosa. Dona de uma pegada única, Doja é uma força da natureza em performance tão gigantescas que consegue até maquiar certas fraquezas do resto do álbum, especialmente quando o mesmo entre na sua fase romântica com canções mais R&B. Não há como não perceber a força que a rapper coloca na áspera e poderosa Demons, mesmo não que não tenha gostado da canção. Existe uma urgência misturada com raiva e toques sentimentais, despretensão irônica e personalidade marcante. Tudo isso está em estado de graça no hit Paint the Town Red, mas que encontra o melhor momento na encorpada Agora Hills em que a rapper tem espaço para modular sua performance em várias fases. Outras canções de destaque ficam para Ouchies ao ser a única de estilo “viral” que funciona perfeitamente, a cadenciada Go Off e a batida envolvente de Skull And BonesScarlet é como a sua dona: confuso, surpreendente, fascinante, irritante e chamativo para o bem ou mal. Entretanto, nunca podemos dizer que a mesma não seja um evento a altura da sua loucura. 


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