23 de março de 2014

Primeira Impressão

Shakira
Shakira


Eu gosto da Shakira. Talvez seja devido ao fato que no começo da sua carreira, ela estourou no Brasil com o sucesso de Estoy Aquí em 1996 e sempre vinha para o nosso país para fazer apresentações em programas dominicais tanto que até aprendeu a falar português. Também minha afeição veio do fato que a colombiana sempre se mostrou uma pessoa extremamente carismática e afetuosa com o público. Claro, sempre admirei seu lado artístico, pois a considero uma das artistas mais completa e versátil do mundo pop. Dito isso, eu devo admitir que os últimos lançamentos delas me deixaram um pouco decepcionado. Seja o estranho She Wolf  ou o bonzinho Sale el Sol não refletiram precisamente o talento dela ou chegaram perto da qualidade do projeto Oral Fixation (tanto em espanhol e inglês). Então, por isso fiquei com o pé atrás para ouvir o décimo álbum da carreira dela intitulado apenas de Shakira. Porém, minhas expectativas não se cumpriram, pois o trabalho é bem melhor do que eu esperava.

Shakira, o álbum, carrega todas as melhores qualidades da cantora como artista: uma deliciosa mistura rítmica envolvendo vários estilos com uma qualidade insuperável de produção e realização. O álbum talvez seja o mais "redondo" em relação a sonoridade na carreira de Shakira, pois não faz uma salada mista de sons e batida que poderia descambar para uma coleção esquizofrênica de canções com influências completamente diferentes uma da outra como aconteceu com She Wolf. O que aconteceu aqui foi um refinamento mais apurado o que deu uma coesão para as escolhas no que tange a produção geral do CD. Mesmo assim, Shakira utiliza uma dezena de estilos para criar seu álbum indo do pop passando pelo rock e reggae e chegando até no country. 

Como relatou a própria Shakira em uma entrevista dada para o Fantástico recentemente, pela primeira vez em sua carreira, ela deixou as rédeas da produção mais "frouxas" para se dedicar mais ao filho. Porém, ela não se afastou muito, pois das 15 faixas do álbum apenas 3 não tem o nome dela creditado como produtora e apenas 2 das canções ela não está creditada como compositora. Isso mostra o quanto empenhada a colombiana é dedicada ao seu trabalho como poucas artistas pop fazem na atualidade. Apesar disso, a adição de produtores que nunca trabalharam com Shakira dá para o trabalho o acabamento e a personalidade necessários para elevar o resultado final. Um ótimo exemplo disso é a faixa Empire, uma balada pop rock épica maravilhosa que está entre os melhores momentos do álbum. As composições não são exatamente trabalhos que posso classificar com geniais, porém, Shakira ao lado de seu time consegue  um resultado bem acima da média sabendo dosar o lado mais pop com um lado mais pessoal sem cair em pieguismos baratos. Um ponto que sempre critiquei é a voz da Shakira quando ela abusa do seu tom único, mas esse trabalho mostra a maturidade vocal dela ao saber utilizar sua voz da melhor maneira possível e mostrando uma incrível versatilidade que chega até estranhar em alguns momentos como na delicada Broken Record, mas que acaba sendo outro ótimo momento. Outros destaques são a deliciosa You Don't Care About Me que pede para ser single, 23 feita em homenagem ao seu filho, Medicine que é a surpreendente parceria com Blake Shelton (colega do The Voice) e linda Loca Por Ti e That Way. Infelizmente, nem tudo são flores: além do fraco dueto com a Rihanna (Can't Remember to Forget You), o álbum conta com uma tentativa mediana de fazer pop rock romântico em Spotlight que parece ser uma homenagem ao maridão, a dispensável Chasing Shadows e a participação "vergonha alheia" do Carlinhos Brown em La La La (Brasil 2014). Mesmo assim, o álbum não perde muito em qualidade e o resultado final é sólido e bem mais do que satisfatório: prova que Shakira ainda é a artista que eu sempre vi, mas que estava apenas "apagadinha".

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