16 de abril de 2017

Primeira Impressão

DAMN.
Kendrick Lamar




Ao lançar o seu quarto álbum na carreira, Kendrick Lamar não precisa provar mais nada para ninguém em relação ao seu lugar entre os grandes artistas dessa geração e, também, um dos melhores de todos os tempos. Todavia, DAMN. também expõe à luz que o rapper está em pleno processo de mutação como artista e, por isso, o resultado final não está na mesma altura que os álbuns anteriores. E, no entanto, o álbum é de uma qualidade impressionante, sendo o melhor álbum de rap/hip hop dos últimos tempos. 

A principal diferença entre DAMN. e as obras de arte que são good kid, m.A.A.d cityTo Pimp a Butterfly é o fato que o rapper entrega uma atmosfera sonora bem contida e direta como resultado final.  Ao contrário de criar grandes alegorias para sustentar a imensa carga emocional que emprega em cada canção, DAMN. aposta em batidas descomplicadas e uma uniformidade maior em suas construções. As quatorze faixas que fazem parte do álbum não apresentam a mesma pluraridade de sons e influencias, ajudando a "editar" a sonoridade de Lamar e criando o álbum mais comercial da carreira dele. Extremamente polido e com uma fluência impressionante, DAMN. pode desapontar aqueles que estavam a procura de escutar a continuação da sonoridade épica que Lamar nos tinha acostumada ao misturar, como poucos, rap/hip hop com uma dezenas de outros gêneros e estilos dos mais variados. Isso pode ser um empecilho, porém quem realmente ouvir com um pouquinho de mais cuidado o álbum irá perceber que essa mudança é tão interessante quanto qualquer coisa que Lamar já tenha feito.

Mesmo sendo as canções com a direção mais restrita da carreira, Lamar e a equipe de produção do álbum é capaz de montar uma sonoridade monstruosa e de uma riqueza impressionante, mas com os dois pés fincados no rap/hip hop e e em vários subgêneros deles. DAMN. é uma obra que tem um senso único de dureza que, aqui, não é um defeito e, sim, uma ótima qualidade, não perdendo tempo em elaborar algo que fique realmente na memória por causa das suas intenções artistas, pois a sua a sonoridade seca e sem rodeios consegue deixar uma marca de verdade. Notar essa evolução/mudança na sonoridade de Lamar é gratificante, pois mostra um artista que não se contenta com aquele lugar que se estabeleceu, mesmo sendo esse local o topo do mundo. E ver que o rapper comete alguns erros também é ótimo, podendo, assim, o rapper encontrar espaço para crescer e corrigir essas falhas. O que digo por erros é o fato que algumas das faixas que compõe DAMN não estão na mesma altura que a maiorias das canções aqui. Seja por parecerem trabalhos ainda em progresso ou faixas que poderiam render mais com uma produção um pouco diferente, canções como ELEMENT., FEEL. e, até mesmo, o excepcional single HUMBLE.. É necessário entender que toda essa revolução na sonoridade de Lamar talvez tenha como maior proposito deixar que outros elementos possam brilhar de maneira irrestrita e avassaladora.

Como um artista que reverbera e reflete o mundo ao seu redor, não existe um nome melhor que o Kendrick Lamar, atacando diretamente assuntos como politica e, principalmente, racismo. Lamar, ao contrário de vários de seus contemporâneos, ao falar sobre o problema que a comunidade negra passa na atualidade não se coloca no lugar de rapper rico e famoso, mas, na verdade, coloca-se no lugar que no final das contas está inserido: o de homem negro. Assim como fez os grandes nomes como, por exemplo, TuPac e Jay-Z (mais no começo carreira), Lamar analisa, critica e cria uma verdadeira pintura sobre o tempo e espaço que o cerca, sempre com um senso de autocrítica  e, também, de estética altíssimo. Ao criar verdadeiras poesias conterrâneas, Lamar vai além de qualquer rapper que vive em 2017, chegando ao um patamar que o quase o torna uma lenda viva, mas que ainda que tem muito mais para falar. DAMN. não é sobre apenas reflexão e critica sobre a nossa sociedade. Lamar encontra espaço para falar sobre amor em tempos de cólera como na ótima LUST. LOVE. com a participação do desconhecido Zacari. Outras participações ficam por conta da Rihanna em LOYALTY. (faixa com boas chances de ser single) e, surpreendente, a da banda U2 na forte XXX., a faixa com o teor mais explicitamente politico. Entretanto, nada seria igual no álbum caso não tivesse a presença avassaladora de Lamar em performances memoráveis, Genias. Desconcertantes. Carismáticas. Versáteis. Poderosas. Transcendentais. Atemporais. E vários outros adjetivos que vocês podem descrever, pois Lamar está tão em estágio de graça que para você saber como elogiar é melhor ouvir por si mesmo. Mesmo com alguns problemas, DAMN. é uma das obras que entram automaticamente para o panteão de álbuns que fazem parte do alicerces da história da música. E Lamar continuar a afundar o seu nome ainda mais na posição de um dos grandes de todos os tempos.

2 comentários:

Igor Motta disse...

Faça por favor uma resenha do novo single da Lady Gaga e de No Promises feat Demi Lovato!!

Anônimo disse...

FANTÁSTICO!