26 de dezembro de 2017

Antes Tarde do Que Nunca - Grandes Obras Esquecidas

Young, Gifted and Black
Aretha Franklin



Não existe só uma pessoa que tenha um conhecimento básico sobre a história da música que não cite entre os maiores nomes de todos os tempos o de Aretha Franklin. Considerada uma das maiores cantoras, quando não a maior de todas, Aretha é uma das responsáveis por ajuda a modelar o cenário musical nos Estados Unidos, especialmente a soul music, e também em ser uma das maiores vozes do empoderamento feminino e, consequentemente, da mulher negra em uma época em que em que nem se falava do assunto.

A sua história na música é sempre dividida em três momentos: o primeiro sendo a sua ascensão durante os anos sessenta, o segundo começa na década posterior quando a cantora se aventura em uma sonoridade disco perdendo popularidade e vendas e, por fim, a terceira que começa no meio dos anos oitenta em que a cantora se reinventa e retoma o seu lugar de vez entre os principais nomes da música. Devido a essa divisão, alguns álbuns da cantora que ficam entre essas fases, mais exatamente em áreas "cinzas" da sua discografia, não recebem o devido valor como outros que se tornaram grandes sucessos de público e de critica. O melhor desses trabalhos na carreira longa de Aretha é o álbum que ajuda a qualquer pessoa a ter certeza absoluta da grandiosidade do seu talento, pois Young, Gifted and Black de 1972 que se transforma em um atestado da capacidade como vocalista, interprete e compositora. Reparem que dividi em três "categorias" as qualidades que fazem de Aretha a diva lendária que é, pois em Young, Gifted and Black podemos notar claramente essas qualidades individuais. 

Produzido por três lendas da soul music (Tom Dowd, Arif Mardin e Jerry Wexler), Young, Gifted and Black é essencialmente um excepcional trabalho de R&B/soul/gospel que, apesar da qualidade técnica perfeita com a presença de outros importantes nomes na parte da construção instrumental como as irmãs da cantora como backvocais e Donny Hathaway no pianonão seria a mesma coisa se não tivesse a presença de uma força da natureza de Aretha. Começa pelo fato que naquele momento a cantora estava literalmente no ápice da sua capacidade vocal e, queridos amigos, fica extremamente fácil entender o motivo dela ter sido várias vezes escolhida como a maior voz de todos os tempos. Completamente dona do seu instrumento e não deixando margem para julgamento sobre qualquer falha, pois Aretha é quase algo de outro mundo. Entretanto, uma ótima voz não é quase nada se a pessoa não tiver a capacidade de interpretar com a mesma força as canções. E isso é o que Aretha se torna realmente a maior de todas.

Young, Gifted and Black é composto de doze faixas, sendo que oito delas são regravações de grandes nomes da época e, consequentemente, de todos os tempos. Aretha escolhe canções de então relativamente novos nomes como Elton John, Lennon e McCartney e Nina Simone e, também, de nomes consagrados como Burt Bacharach, Hal David e Otis Redding, entre outros. Boas cantoras enfrentam o desafio de regravar canções entregando boas performances, cantoras do nível de Aretha transformam essa regravações em canções que parecem que foram escritas especialmente para ela, criando uma canção que parece que encontrou a sua única e verdadeira interprete. Esse é caso da faixa que dá nome ao álbum: Young, Gifted and Black foi escrita e gravada pela grande Nina Simone ao lado do poeta Weldon Irvine e obviamente ganhou vida eterna na voz da cantora e a sua força descomunal. Sem mudar muito da canção original, mas adicionando a sua própria força, Aretha quase cria uma nova canção, reclamando para si toda a atmosfera da canção que representa muito bem a cantora na época: jovem, "talentosa" e negra. Além disso, a faixa ainda tem uma atualidade em sua composição por ainda refletir a situação da comunidade negra. Se tudo isso já não bastasse, Aretha ainda demonstra a sua capacidade como compositora ao escrever quatro grandes momentos: Day Dreaming, Rock Steady, First Snow in Kokomo e All the King's Horses, sendo essa última provavelmente a melhor canção composta pela cantora na sua carreira. Young, Gifted and Black é uma obra que pode passar desapercebido devido a sombra de trabalhos de maior prestigio da discografia de Aretha Franklin, mas está bem longe de ser uma obra menor delas e deveria ser reconhecido como uma obra fundamental para quem realmente gosta de boa música.

Um comentário:

G. RLS disse...

Q crítica sensacional ! Curto demais esse blog... Nunca pensou em transformá-lo em site? Abraço e feliz 2018.