2 de janeiro de 2022

Primeira Impressão

Friends That Break Your Heart
James Blake



Um artista consegue entregar um resultado completamente diferente sem necessariamente mudar a sua sonoridade? Normalmente, a resposta seria um claro sim, mas James Blake apresenta a contra prova com o espetacular Friends That Break Your Heart. O que álbum da carreira do britânico apresenta um resultado que mantem intacto as suas principais qualidades com um giro de 180° em como o mesmo a apresenta.

A principal mudança é que James apresenta uma leveza na construção climático do álbum que o artista nunca tinha apresentado antes. Acredito que a espetacular faixa Say What You Will ajuda a entender bem essa mudança que mostra “um James menos tenso ao não se importar com as opiniões de outras pessoas sobre a sua vida, mostrando uma confiança inspiradora e uma positividade orgânica”. Isso “também reflete essa felicidade com um espetacular indie/eletrônico com toques de post-dubstep em uma atmosfera leve e energética sem perder, porém, a qualidade técnica excepcional com adição de gratificantes e revigorantes nuances e texturas que sempre permeiam a sonoridade de James”. Essa evolução da melancolia densa dos álbuns anteriores dá espaço para um artista mais ensolarado, mas que continua a ser emocionalmente profundo e tecnicamente espetacular. É como se James tivesse encontrado a esperança por trás da cortina da tristeza sem deixar de lado as feridas da vida. E isso é algo extraordinário, pois abre um leque ainda maior de possibilidades temáticas para o artista explorar. Esse é o caso de Friends That Break Your Heart.

Dando nome ao álbum, a faixa é uma honesta e pragmática crônica sobre amigos que nos decepcionam. Ao colocar o amor romântico de lado, James explora um sentimento que a maioria já sentiu, mas que poucas vezes é usado como tema de músicas. E, queridos amigos, o cantor utiliza a ideia de maneira espetacular com uma letra simples, mas cortante, que entrega uma verdade realmente avassaladora. Em Funeral, James relata as dificuldades de pessoas introvertidas de poderem se expressarem emocional de uma maneira tão real que emociona até mesmo quem é extrovertido. Apesar de serem temáticas com reflexões profundas existe essa presente sensação que James não está lamentando e, sim, expondo esses sentimentos de maneira a mostrar que existem luzes do fim do túnel. Além disso, a atmosfera de produção consegue criar uma áurea mais leve e animadinha mesmo sem mudar sonoramente.

Friends That Break Your Heart, o álbum é resumidamente um sensacional, refinadíssimo e lindamente produzido mistura de indie pop/electropop que adiciona camadas de dubstep, ambiente pop, R&B e hip hop. O resultado é bem semelhante que ouvimos nos seus trabalhos anteriores, mas aqui existe um verniz novo que deixa o resultado iluminado. Esse é o caso da sublime dupstep/indie pop Life Is Not the Same que funciona como uma balada romântica que pode até sobre separação, mas não embarca nunca no depressivo. Em Famous Last Words, a beleza da instrumentalização minimalista cria uma impactante art pop/pop soul que consegue penetrar todos os poros da nossa pele. As inspirações hip hop/trip hop fica bem claro em Frozen com a presença dos rappers JID e SwaVay. Apesar de interessante, a faixa não apresenta as melhores parcerias do álbum. Um ponto de destaque é capacidade de James deixar brilhar os seus convidados sem perder o protagonismo. Coming Back entrega o um R&B alternativo com toques de ambient pop que é a plataforma perfeita para SZA brilhar. Enquanto isso, a desconhecida Monica Martin mostra o seu lindíssimo timbre na climática Show Me. Entretanto, o grande astro do álbum é a voz transcendental de James que mostra como usar efeitos vocais apenas para acrescentar substancia para o resultado final e, não, ser usado como muleta. Na tocante Lost Angel Nights, James entrega uma contida e devastadora performance que usa todos os seus pontos altos vocais sem parecer exagerado. Apesar de alguns fillers durante o meio de Friends That Break Your Heart, o álbum termina de maneira avassaladora com a presença de If I'm Insecure. Em seu melhor álbum desde Overgrown, James Blake mostra maturidade ao cair de cabeça em novos caminhos, mas sem nunca se perder durante a jornada.

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