25 de janeiro de 2022

Primeira Impressão

FÚRIA
Urias




O primeiro álbum da Urias é quase um milagre. Apenas pelo fato da cantora pode ser capaz de lançar um álbum sendo quem é e vivendo no Brasil já é algo incrível e impensado anos atrás, mas existe outro motivo do trabalho ser surpreendente: FÚRIA é a continuação do que foi mostrado no EP FÚRIA PT 1 e, normalmente, trabalhos com essa dinâmica não conseguem ir além o que tinha sido mostrando. Contudo, Urias consegue expandir o resultado final do EP em um álbum poderoso, marcante e inspirador.

Normalmente, quando um artista lança um EP como preview do seu próximo álbum termina sendo como um trabalho que pode tirar certa forma do resultado final ao ter os seus melhores momentos revelados ou não mostrar exatamente para o que veio o artista, deixando a excitação de fora da equação da recepção do trabalho principal. Nada disso acontece no álbum FÚRIA, pois o álbum adiciona camadas e substância para o que foi ouvido no EP ao expandir a sonoridade de Urias. E isso é algo mais admirável no instante que se percebe que a duração do álbum não passa de trinta minutos. Como um álbum de estreia, Fúria deixa bem claro que a artista é dona de uma personalidade sonora única e muito bem definida.

Acredito que a melhor qualidade da Urias é saber usar todas as suas influências internacionais e nacionais em caldeirão efervescente que nunca para de adicionar sabores e texturas, mas em nenhum momento soa como o requentar de algum outro artista. Coeso, fluido e com uma espinha dorsal robusta, FÚRIA transita entre o comercial e o alternativo na medida certa para a sonoridade da cantora seja vendável o suficiente para não deixar o experimental de lado. Não posso afirmar que seja alcançado um ápice do que a artista tem capacidade clara de chegar, mas é impossível negar a qualidade de vários momentos. E o momento de maior inspiração é dobradinha de Racha seguida de Foi Mal. A primeira “é um indie pop com pinceladas de industrial, trap e electropop que apresenta uma produção madura, encorpada e surpreendentemente cheia de nuances que, normalmente, o pop brasileiro não está acostumado a presenciar. Energética, sombria e com uma batida pesadona, o single passa longe do popular e radiofônico da Pabllo Vittar”. Enquanto a segunda tem “uma romântica e mid-tempo mistura de synth-pop com indie rock que parece emoldurar uma atmosfera anos oitenta da música brasileira. Apesar de soar estranha no começo, a canção vai conquistando devido a sua magistral construção instrumental que consegue equilibrar todas as referências de forma poética e madura em um instrumental robusto”. Essa diferença explicita de estilos mostra o alcance de Urias e, principalmente, a maneira como polos opostos conseguem se comunicar de maneira esplêndida. E o equalizador é a força de Urias.

Misturando rap com cantar, Urias é uma artista carismática e dona de um poder performático ímpar com a sua língua igual chicote. Cada canção apresenta uma urgência devido a presença de Urias que faz que alguns defeitos sejam relevados. Cadela é uma “faixa poderia ter um cuidado refinado para saber continuar a brincar com metáforas caninas, mas também adicionar um momento realmente espetacular para não terminar como uma primar moderna de Cachorrinho da Kelly Key. Esse problema é compensado pela dominadora e performática presença de Urias que entrega tudo o que uma diva com a sua estética deveria, deixando nada a dever para nomes internacionais ou a nacionais”. E quando a presença dela está apenas para incrementar a canção surge momentos como a sensual e cativante Explicito com a participação de Hodari ou na delicada e tocante Tanto Faz que trás o lado mais vulnerável da cantora até o momento. Outros momentos de destaque do álbum são Maserati que a “a incorporação de texturas dá para o resultado final uma sensação clara que a artista pode e deve explorar ainda essa tática para deixar o que seria linear em algo realmente original”, Peligrosa que mistura “electropop com reggaeton em um resultado encorpado que não deve para qualquer artista latino da atualidade” e, por fim, Classic e a sua batida crua, divertida e com influencia de 7 Rings da Ariana Grande. E com um álbum debut tão promissor quanto Fúria, a Urias abre o seu caminho artístico para um futuro realmente promissor, excitante e imprevisível. 

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