16 de janeiro de 2022

Top 30 - Melhores Álbuns de 2021 - Parte III




Parte I
Parte II


20. CALL ME IF YOU GET LOST
Tyler, the Creator



"A verdadeira natureza sonora do álbum é uma mistura descolada, natural e bem azeitada de hip hop, rap, soul, R&B, neo soul e jazz que emanam claras referencias dos anos noventa e começo dos dois mil que consegue ser nostálgica sem se apoiar descaradamente desse sentimento e, sim, criar algo moderno e, principalmente, criativo. WusYaName é perfeita tradução desse caminho tomado por Tyler: parceria com YoungBoy Never Broke Again e Ty Dolla Sign, a canção é uma envolvente e melódica mistura de R&B dol school com hip hop que se popularizou durante os anos noventa revisitado de maneira original. O mais interessante é que com a progressão do álbum, Tyler vai se arriscando ainda mais sonoramente.

Hot Wind Blows usa do sample de Slow Hot Wind dos compositores Henry Mancini e Norman Gimbel na voz de Penny Goodwin para criar uma atmosfera de quase um tema dos anos sessenta dos filmes do James Bond em um universo paralelo que deixa a gente coçando a cabeça e com um sorriso no rosto. Além disso, a canção tem a pachorra de entregar a melhor performance do Lil Wayne que já escutei. Acrescentando uma dose inesperada de eletrônico surge a Juggernaut com participação de Lil Uzi Vert e um inspirado Pharrell Williams. A canção fica ainda mais inusitada, pois é sucedida pela climática e épica hip hop com toques de jazz Wilshire com mais de oito minutos e meio. Essa passagem de bastão de músicas tão distintas poderia facilmente soar estranho, mas em CALL ME IF YOU GET LOST é realizado de forma segura e com uma sensação de ser a coisa mais fácil musicalmente para ser fazer que acrescenta pontos importante, mas não tira o fato que parte dessa força descomunal vem da presença por trás e na frente de Tyler, the Creator."

19. The Turning Wheel
Spellling


"Complexo, grandioso, intrincado e com uma cartela de cores, texturas e nuances imensa, o álbum apresenta uma extraordinária instrumentalização que consegue sustentar toda a força artista que Spellling constrói ao longo da quase uma hora de duração. E esse imenso cuidado com essa parte é que realmente mostra a essência da cantora. Contando com profundidade de músicos com diferentes instrumentos ao ir do simples piano até o um quarteto de cordas, The Turning Wheel se torna um trabalho realmente magnifico, pois apenas assim é possível uma canção como Emperor with an Egg se tornar um grande destaque. Narrando a história de um pinguim imperador, a faixa apresenta um arranjo suntuoso, refinado e que consegue ficar entre o meio termo entre peça de arte e canção de infantil/ninar sem perder a personalidade da cantora. E essa é outra qualidade de Spellling, a artesã: tirar a beleza dos lugares menos esperados."

18. What's Your Pleasure? (The Platinum Pleasure Edition)
Jessie Ware



"Com sete novas canções e um remix, The Platinum Pleasure Edition não é apenas um caça níquel fácil para continuar a repercutir o álbum, mas, sim, uma continuação a altura da versão original que completamente e adiciona novas camadas. Ao contrário das canções já lançadas que tinham a disco como base principal, as novas faixas partem de uma pegada mais eletrônica com forte influência dos anos oitenta com toques de post-disco. E apesar dessa diferença, a atmosfera continua basicamente a mesma com uma elegância natural exalado a cada momento. Tudo começa com a incrível Please: “o single é uma energética, explosiva e sensacional mistura de disco/eletrônico que tira referência direta da revolução feita pela Donna Summer. Sem querer copiar e, ao mesmo tempo, prestando uma homenagem, a produção da canção acerta em todos os detalhes possíveis: a atmosfera vintage/modernosa, as nuances deliciosas e as camadas instrumentais que dão para a canção um corpo suculento e vibrante. Novamente sem querer guerra com ninguém, Jessie escreve uma letra simples, extremamente eficiente, romântica, sensual na medida e com um refrão viciante”."

17. Crooked Machine
Róisín Murphy



"Crooked Machine não apenas reuni versões remixes das canções de Róisín Machine, mas, sim, reconstruções de quase todas as faixas sob a tutela de Richard Barratt, produtor das canções originais e também conhecido como Crooked Man. Ao trabalhar com o mesmo produtor, o álbum remix passa a sensação de segurança nas decisões, pois, obviamente, o público está ouvido as faixas pela visão de quem já as conhecem profundamente. Felizmente, o problema das mesmas soarem apenas versões estendidas é logo deixado de lado no instante que se percebe que estamos diante de verdadeiras remontagens sonoras, utilizando apenas as bases sonoras, líricas e vocais. Em várias faixas é possível notar a presença de novas composições e vocais gravados por Róisín, aproveitando apenas a mesma temática. Nem os nomes originais são usados na integra, mas, sim, reconstruções como, por exemplo, de Incapable para Capable Rhythm. Além disso, a mudança mais clara aparece nos gêneros principais utilizados nos dois trabalhos, sendo o original foi uma viagem electropop, house, EDM, techno e pop alternativo e o remix um mergulho de cabeça na house/tecno. Resultando em batidas mais claramente dançantes, Crooked Machine é uma eletrizante volta as pistas das casas noturnas mais “fritantes” sem perder a imensa elegância e inteligência dos trabalhos de Róisín Machine."

16. Pink Noise
Laura Mvula



"Sabendo como ser experimental sem perder esse rumo de ter sido baseado em sonoridades vindas nos anos oitenta, a produção da própria Laura ao lado de Dann Hume e, ocasionalmente, de Troy Miller consegue navegar em um oceano de referências sem nunca perder a linha do horizonte e muito menos o nível de qualidade que é apresentado. E o mais incrível é que em nenhum momento Pink Noise recaí na nostalgia barata ou na pastiche sem graça, mas, sim, na reverencia original. A batida aconchegante da balada R&B Magical caberia perfeitamente na voz de Chaka Khan, mas Laura cria a sua própria marca de maneira permanente. Em Remedy, uma funk com toques pesados de synthpop, a batida se torna sombria para combinar com a forte composição que toca em assuntos como, por exemplo, policia brutalidade e destruição da natureza. Dando nome ao álbum, Pink Noise apresenta uma batida dançante, enérgica e completamente envolvente que conquista desde os primeiros acordes. Golden Ashes é uma poderosa balada mid-tempo de R&B contemporâneo excepcional que abre caminho para o ótimo dueto com o cantor Simon Neil na synthpop What Matters. E, por fim, o álbum é fechado de maneira apoteótica com a presença da sensacional Before the Dawn. Ao elevar a sua sonoridade, Laura Mvula entrega um dos melhores álbuns de 2021, mas que muitos vão passar batido. Todavia, quem ouvir vai se deliciar com essa pérola que merece ser conhecida."

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