30 de janeiro de 2022

Top 30 - Melhores Álbuns de 2021 - Parte V

 




Parte I


10. Nurture
Porter Robinson


"Capitaneando a totalidade da produção do álbum, Porter Robinson consegue criar um gigantesco caldeirão de referências, gêneros e influências que poderiam desandar em apenas uma decisão errada. Felizmente, a mente criativa do artista consegue não apenas equilibrar tudo, mas, especialmente, dar uma fluidez orgânica deslumbrante. Parte dessa sensação é devido ao trabalho genial de instrumentalização que consegue passar uma atmosfera de completude ao não se apoiar exclusivamente em sons sintéticos para a elaboração das batidas. Ao permitir que as canções tenham e deixam bem nítidas a presença de uma complexa rede de instrumentos, criando uma estética realmente apurada, rica e inspiradora, Porter se distancia de qualquer semelhança que possa ter com a maioria do nomes do gênero dentro do mainstream. E mesmo quando alguma faixa parece recorrer a um arranjo feito a partir de recursos digitais, Porter consegue criar peças de uma beleza impressionante. Wind Tempos é um dos pontos altíssimos de Nurture e deixa bem nítido esse cuidado de produção. Quase apenas instrumental por completo, apresentando apenas três versos que se repetem algumas vezes, a faixa é uma viagem tocante e preciosa em que cada momento é apresentado uma textura nova ou a quebra de expectativa devido a adição de nuances que agrega brilhantes camadas de inspiração. Tudo isso faz com que Wind Tempos quase se torne uma trilha incidental de um filme de animação japonês para adultos. E essa característica cinematográfica permeia toda a duração do álbum, criando momentos que conectam com quem escuta em níveis diferentes. E isso ajuda a compreender melhor a imensidão sonora que Porter Robinson aplica para o trabalho."

9. Pressure Machine
The Killers


"Para entender o conceito por trás de Pressure Machine é necessário conhecer um pouco da discografia de Bruce Springsteen e toda a sua qualidade de narrar os acontecimentos, sentimentos e as vidas de pessoas “comuns” dos Estados Unidos, pois é exatamente esse caminho que o The Killers. Baseando na cidade natal de Brandon chamada Nephi em Utah, o álbum é como se fosse uma serie de crônicas sobre uma cidade pequena, seus habitantes, seus problemas, seus sonhos e basicamente quase tudo que está escondido atrás de quatro paredes. A ideia poderia ser um desastre, pois tudo poderia soar como uma pastiche da banda tentando imitar o estilo de Bruce ao mergulhar de cabeça na americana e no heartland rock. Felizmente, o resultado é muito acima da média devido, principalmente, a devoção da homenagem da banda para o material original."

8. 30
Adele


"É necessário dizer que no frigir dos ovos, 30 não é o melhor álbum da carreira da Adele. Felizmente, o público irá contemplar uma obra extraordinária em que a cantora se mostra complemente madura artisticamente em todos os quesitos. E é por isso que a artista parece confiante para inovar sem precisar exatamente não ser a Adele. Em 21, a cantora estava disposta a colocar as feridades emocionais de maneira nua e crua. Já em 25 era sobre olhar essas mesmas feridas e pensar sobre a cicatrização e também sobre remendar rasgos causados. Apesar de lugares diferentes, os dois álbuns apresentavam uma Adele realmente sofrendo sobre os erros dos passados e ainda tentando encontrar como seguir em frente. Em 30, Adele ainda sofre e muito, mas a sua maturidade e, principalmente, a sua experiência como mãe parece dar a artista uma visão que mesmo depois da dor é necessário se levantar e seguir em frente. E, por isso, o álbum é sobre continuar a caminhada mesmo depois das feridas ainda estarem sarando. É sobre chorar, limpar as lágrimas e sair para tomar umas com as amigas. É sobre ver o final do túnel, mesmo ainda emaranhado dentro do breu. É sobre acertos de contas doloridos e esperanças sinceras. Sobre olhar para quem a fez sofrer e ter a noção que tudo ainda será tudo história no futuro. E, o mais importante, 30 é uma carta aberta para quem mais importa na vida da Adele: o seu filho. E é aqui que entra o brilhantismo do álbum.

Não existe dúvidas que a compositora Adele é simplesmente genial. Dona de uma escrita direta, limpa e devastadoramente emocional, Adele repete todas essas qualidades a quase perfeição no álbum. Entretanto, a cantora alcança um novo patamar em 30, pois consegue fazer de sentimento ainda mais pessoais momentos que conseguem de maneira única conectar com qualquer público. Crua, honesta, emocionalmente avassaladora, ácida, divertida e de uma vulnerabilidade intocável em comparação a qualquer artista contemporânea, Adele entrega o seu melhor momento como compositora ao se permitir mergulhar ainda fundos em sentimos complexos e sensíveis sem perder, porém, o tino estético que a fez como uma cronista da dor. E isso fica fácil de notar em Easy On Me. Longe de ser a melhor canção do álbum, o single “tem em seu primeiro verso um dos melhores momentos da carreira da cantora em um momento realmente avassalador e de uma beleza poética exuberante”, especialmente nas duas primeiras frases em que diz “There ain't no gold in this river/ That I've been washing my hands in forever”. E esse é apenas o começo, pois 30 ainda guarda momentos simplesmente sublimes."

7. Un Canto por México, Vol. II
Natalia Lafourcade


"Entregando uma coleção de canções que se alternam entre a regravação cuidadosa e respeitosa e a criação que recria com amor a estética tradicional. Escutar Un Canto por México, Vol. II é o tipo de álbum que não está na busca de nada exatamente novo na sua construção, mas, sim, na exaltação de uma sonoridade que fez parte da construção de vida pessoal e artística de Natalia. E isso fica bem claro logo na magistral faixa de abertura: a extraordinária regravação da canção tradicional La Llorona. Em uma versão acústica de quase sete e minutos e meio, a canção ganha uma instrumentalização meticulosamente delicada que não desperdiça nenhum segundo, criando uma peça de uma beleza quase intocável que faz emocionar de forma genuína logo nos primeiros momentos de sua duração. Após essa impressionante recriação, Natalia se une com o cantor Pepe Aguilar para dar vida para Cien Años. Escrita nos anos cinquenta, mas eternizada pela Selena nos anos noventa, a canção é uma canção romântica tipicamente mexicana que é refeita de maneira tocante e reconfortante que conquista por essa reverencia. E assim como várias outras canções de Un Canto por México, Vol. II, Natalia divide os holofotes com vários nomes veteranos e novatos que se mostra decisões realmente acertada."

6. Cavalcade
black midi



"Tentar definir especificamente qual a sonoridade de Cavalcade é tentar desenrolar um novelo complexo e intricado de dezenas de influências que passam por vários gêneros. E é por isso que apontar o álbum como uma mistura de avant-rock com um importante base jazz fussion é o que melhor exprime a jornada que a banda nos leva em cerca de quarenta minutos de puro frenesi sonoro. O mais impressionante é que mesmo quando a banda desacelera o ritmo tudo ainda soa frenético e incontrolável. Acredito que para saber se você irá gostar do trabalho como um todo é necessário ouvir apenas as duas primeiras faixas, pois passado o susto de tamanho impacto causado pelo resultado da combinação de dois extremos fica mais fácil embargar nessa viagem. Tudo começo com a épica e sufocante da explosão que John L em a sua montanha russa instrumental. Construída sobre ferro e fogo, a canção é abre alas completamente devastador que caminha entre o sublime e o desconcertante na mesma medida que deixa um gosto estranho devido as suas mudanças instrumentais e de cadencia. Então, logo em seguida surge a doce e poética Marlene Dietrich e sua linda homenagem a atriz ícone alemã. Com uma provável influência da bossa nova permeando a produção, a canção é literalmente o oposto de John L, criando um começo estranho e espantoso que ajuda a entender um pouco da força que o black midi impõe em todos os momentos do álbum. Todavia, isso não é ainda todo o escopo de Cavalcade consegue atingir, pois o trabalho ainda guarda alguns momentos realmente de cair o queixo."

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