2 de dezembro de 2022

Primeira Impressão

Last Night In The Bittersweet
Paolo Nutini



Uma das minhas favoritas de todos os tempos é a genial Iron Sky do britânico Paolo Nutini. Isso é uma declaração bastante forte para alguém que literalmente escuta há anos uma quantidade de canções todo os anos. E isso é um dos motivos que o comeback do artista depois de oitos anos sem lançar um novo álbum era bastante esperado por mim. E, apesar de não ter um momento com o já citado, Last Night In The Bittersweet é um trabalho interessante que adiciona uma nova camada na minha admiração pelo artista.

A grande diferente entre o trabalho e o anterior (Caustic Love de 2014) é a mudança perceptível na sonoridade apresentada ao ir de um soul/R&B/rock para uma miscelânea de gêneros que tem como base principal apenas rock. A produção parece que quer fazer uma coleção de vários gêneros, estilos, estéticas e influencias diferentes, mas que todos os caminhos levas para o entorno do rock. Assim como fez o Father John Misty em Chloë and the Next 20th Century, porém, o resultado aqui é bem mais fluido devido a não ter as gigantescas quebras entre uma canção e outro. O resultado é ousado, gigantesco, hipnotizante, elegante, rico e deslumbrante ao mesmo tempo que é levemente confuso e toques de pretensão que, felizmente, funcionam devido a serem agentes catalizadores das grandes ideias por trás da produção.

Buscando influencias de sonoridades dos anos setenta e oitenta, Last Night In The Bittersweet começa com dramática indie rock/experimental Afterneath que tem o cineasta Quentin Tarantino, pois usa sample do diálogo do filme True Romance na voz de Patricia Arquette. Técnica semelhante ao que fez com Iron Sky que tinha sample do monologo de The Great Dictator. Dessa vez, a intenção é menos nobre e reflexiva, pois a escolha do sample e a atmosfera densa da canção mostra a vontade de fazer o público entrar na vibe do álbum. E isso acontece de maneira até fácil, deixando ainda espalho para supressas. Um dos pontos altos é a sensacional Through the Echoes: “a ótima produção entrega uma indie rock/folk com toques de soul que consegue emoldurar todos os sentimentos da canção de maneira fluida”. Outro momento magistral é em Abigail em que a produção dá uma guinada para uma mistura tocante de indie e folk em uma canção sentimental em que Paolo entrega uma performance contida, mas de uma emoção profunda e enraizada. Essa é outra característica que o artista se destaca: a sua fenomenal voz.

Grandiosa, rouca, emocional e sempre marcante, Paolo tem o peso de várias influencias clássicas fundido com toques modernos, mas que sempre carrega uma personalidade ímpar, distinta e sempre impressionante. E tudo isso é usado da classuda e deslumbrante Everywhere. Começando quase como um sussurro doce e se transformando em uma explosão acachapante em que a produção o envolve de forma impecável em um manto soul/rock brilhante. Explorando outros lados, o cantor também acerta nas camadas adicionadas para brincar com a sua voz como, por exemplo, em Lose It que “usa um efeito para deixar a voz do cantor off, mas, felizmente, isso é uma textura bem pensada para elevar ainda mais a magnética, pesada e certeira performance do cantor”. Last Night In The Bittersweet é basicamente um álbum sobre amores despedaçados, romances perigosos e corações sonhadores. E, queridos leitores, Paolo Nutini parece que faz do álbum o seu mais intimo e reflexivo trabalho até os momentos, especialmente quando fala sobre o lado da dor do amor. Julianne, uma bonita balada pop/rock com forte influencia dos Beatles, é um triste e conformista balada de despedida para alguém que se amou. Em contra partida, Acid Eyes é sobre a devassidão que um romance fulminante fez no emocional de Paolo ao relatar a força da mulher por quem se apaixonou. Entretanto, não apenas de amor vive Paolo, pois o mesmo entrega bons momentos como em Children Of The Stars que carrega essa estética meio esotérica/mística/fatalista das letras de canções de rock dos anos setenta como, por exemplo, Hotel California. Outros momentos interessantes do álbum ficam por conta da climática Radio, a aveludada e épica Shine A Light, a de inspiração jazz/blues Take Me Take Mine e, por fim, a linda folk/indie Writer que fecha o trabalho de maneira sensacional. Last Night In The Bittersweet que se não tivesse a potência de Paolo Nutini poderia facilmente desandar para um fiasco colossal. Felizmente, o resultado é esplendoroso e, principalmente, a altura de toda a força do artista.


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