12 de novembro de 2023

Primeira Impressão

Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua
Ana Frango Elétrico




Entre as minhas descobertas em 2023, a brasileira Ana Frango Elétrico é uma das minhas melhores e mais interessantes. E o seu álbum Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua se comprara a uma ser uma verdadeira joia musical.

Terceiro álbum da cantora, Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua é um trabalho leve, rápido, cativante, fofo e com um senso estético firme e impecável. Não é exatamente uma genialidade ou muito menos será considerado o álbum do ano, mas tem uma sinceridade admirável que deixa o público realmente atraído pelo o que é mostrado. O que mais se destaque aqui é a capacidade da produção criar essa mistura de bossa nova, MPB, indie pop, funk, jazz e disco que termina completamente longe de qualquer pretensão de revitalizar/reimaginar gêneros e/ou estilo. Ana quer é, na verdade, simplesmente curtir um happy hour musical com amigos e amores sem ligar muito para soar preocupado com o que vão pensar. E, mesmo assim, existe um cuidado extremo, tocante e maduro sobre a construção instrumental gratificante e lindamente estilizada. Outra qualidade do álbum é que mesmo com cerca de trinta minutos, a produção não parece faltar tempo para colocar em pratica toda a extensão da ideia por trás, terminando como um trabalho coeso, fluido, completo e com um gosto bom de quero mais. E isso é devido a construção impecável dada pela produção impecável capitaneado pela própria artista.

Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua é como se fosse aquele pano de prato bordado a mão que pode não ser uma colcha de retalho, mas tem se imenso charme quando é tão bem feita. E tudo começa com a irresistível Electric Fish. “A canção é uma mistura de nu disco, bossa nova, synthpop e funk que não deveria funcionar, mas o resultado é deliciosamente estranho e envolvente. Não chega a ser um estouro e, sim, um slow burn cativante que aquece o coração de forma a ficar quentinho e confortável. Um instrumental cuidadoso e encorpado, Electric Fish tem uma letra pensada para ser simples, estilosa e despretensioso sobre a sensação de se apaixonar”. Em questão lírica, Ana intercala muito bem entre as letras em inglês e as em português (a maioria) de forma aveludada e espontânea sem criar nenhum ruído entre as escolhas. Tenho que aportar que existe certa superficialidade no que é entregue aqui. Não que seja raso as temáticas e a maneira simples que a cantora escreve e, sim, uma não aprofundamento estético em momentos que poderiam ser mais trabalhadas. Tirando esse tropeço, o álbum entrega momentos iluminados como a divertida Boy Of Stranger Things em que a compara de maneira curiosa com o personagem de Finn Wolfhard do seriado da Netflix. Em português, a cantora entrega a tocante Camelo Azul que consegue tirar uma gama imensa de sentimentos com apenas alguns versos como, por exemplo, em “Seu cheiro me lеmbra meu lado feminino/ Mas hoje sou mеnino”. Entretanto, o melhor momento do álbum é na sensacional Insista Em Mim ao ser “uma elegante e contemporânea bossa nova/MPB com toques de pop que não explode, mas, sim, envolve quem escuta igual um cobertor quentinho no frio. Elegante, sofisticada, madura e um banho de maturidade sonora, Insista em Mim consegue ser esse tipo de revitalização da música nacional sem soar pretenciosa em nenhum momento”. Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua é uma reluzente e gratificante peça no tear da história da música em 2023 graças ao talento de Ana Frango Elétrico.


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