26 de novembro de 2023

Primeira Impressão

I Inside the Old Year Dying
PJ Harvey




I Inside the Old Year Dying, décimo álbum da lendária PJ Harvey, é como um filme arte que a gente assiste sem entender exatamente o que está se passando, mas existe uma clara e bela noção artística que não deixa a gente desviar atenção do começo ao fim.

O motivo central para esse não entendimento é a maneira como a artista compõe o álbum. Complicado e rebuscado, as letras do álbum contem uma pesada teia de significação imagética que envolve poemas épicos, citações bíblicas, alusões a Shakespeare e a Elvis Presley. E isso é feito usando inglês e o dialeto de Dorset, região ao sul da Inglaterra. Nessa união de fatores, o resultado final é extremamente difícil de compreender e de conectar, especialmente para uma pessoa não falante em inglês fluente. Na verdade, até mesmo para essas pessoas deve ser um desafio captar perfeitamente o que está sendo dito em vários momentos. Todavia, é impossível negar que não exista um trabalho impressionante lírico que consegue criar perfeitamente essa sensação de admiração para aquilo que a gente não está entendo nada. Quando a gente compreende alguma coisa, I Inside the Old Year Dying ganha ainda mais força ao notarmos o quanto refinada e madura é a maneira como cada faixa é escrita. Sonoramente, o álbum é bem mais fácil de assimilação, mesmo ainda sendo um trabalho de uma densidade provocativa.

Essencialmente, o álbum é um contido e rumoroso trabalho de folk-rock que é adicionado de post-punk, art rock e indie rock, criando uma familiar sonoridade que ganha distinção devido a sua atmosfera sombria, terrosa e introspectiva. A melhor definição para a sonoridade aqui é que a mesma seria perfeita para um filme de suspense baseado em contos de fadas e/ou folclore que se pende para a atmosfera do que sustos fáceis. E mesmo assim existe uma humanidade plena que a produção cria para mostra a vulnerabilidade das canções. O momento que expressa totalmente essas qualidades é a sensacional All Souls e o seu instrumental que busca inspiração em um gospel sombrio e bastante climático. Um fator que não pode ser contestado é a sensacional força performática que PJ Harvey adiciona em todos os momentos. Analisando bem, acredito que essas incríveis, melódicas e deslumbrantes performances devem ser a cola que liga todos os pontos de maneira a dar a estrutura para o álbum. E um desses momentos é na ótima A Child's Question, August com participação rápida e marcante do ator Ben Whishaw. Outras canções que merecem ser citadas são a desconcertante Prayer at the Gate e a magnética Lwonesome TonightI Inside the Old Year Dying poderia ser ainda melhor se tivesse uma compressão bem mais fácil, mas arte como faz PJ Harvey nem sempre é algo para entender e, sim, apenas sentir e admirar.


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