8 de fevereiro de 2015

Primeira Impressão

Reality Show
Jazmine Sullivan




Quando comecei a pensar em qual seria o post que marcaria o retorno do blog depois desse longo hiato, eu achei que o mais certo seria analisar o novo álbum da Madonna. Claro, já colocar de cara o "álbum do momento" ajudaria a dar o tom de 2015 para o blog e seria o melhor chamativo para atrair os leitores, isto é, todos vocês que estão lendo essa resenha. Porém, eu nunca "dancei" na batida do obvio aqui no SóSingles. Por isso, o blog retorna para celebrar não o mais comentado e esperado, mas, com todo o merecimento, celebro "apenas" o que de melhor tem no mercado musical e que, infelizmente, não teve ou terá o mesmo destaque midiático que a Rainha e outros lançamentos conseguiram: o terceiro álbum de Jazmine Sullivan, Reality Show. 

Reality Show é um dos melhores álbuns que vocês devem ouvir em 2015 e digo isso sem nenhum medo de queimar minha língua depois. Depois de um tempo em que precisou encontrar novamente o "prazer em fazer música", Sullivan, conhecida pelo hit Bust Your Windows, resolveu voltar ao mercado musical para responder a um "chamado" que resultou na construção de Reality Show. E qual chamado seria esse? Não sei ao certo, mas, com certeza, a voz que clamou por ela foi algo entre o divido e o profano, pois o resultado final do álbum é algo simplesmente arrebatador. Saber que a cantora é extremamente talentosa é fato antigo já que os seus dois primeiros álbuns (Fearless de 2008 e Love Me Back de 2010) são uma prova incontestável. Todavia, o que Jazmine entrega aqui, em todas as características, é algo bem mais complexo e maravilhoso do que poderia se esperar.

O primeiro grande acerto no álbum vem do fato que Jazmine Sullivan está simplesmente impecável em performances que a colocam com uma das melhores vocalistas do soul contemporâneo. Ajudada pelo seu tom forte e completamente distinto, a cantora ainda demonstra uma gigantesca versatilidade "deslizando" com classe nas mais variadas entonações e estilos sem perder a sua incrível capacidade de interpretação. Essa capacidade de transmitir a mais variadas emoções sem perder o controle vocal coloca Jazmine ao lado de uma das rainhas de soul americano: Mary J. Blide. A jovem transmitir a mesma áurea que Mary tinha nos seus primeiros trabalhos, isto é, uma força da natureza com pouca experiência, mas uma inteligência vocal absurda. Porém, essa encarnação não é a única que ouvimos em Reality Show, pois o álbum é basicamente construído em cima da sonoridade de várias grandes divas do soul. 

A produção, sabiamente, consegue trazer as principais influências da cantora para o seu álbum: em Reality Show conseguimos ouvir Lauryn Hill, Aretha Franklin, Sade, Erykah Badu, Diana Ross, Donna Summer, Chaka Khan e, até mesmo, Amy Winehouse, além da já citada Mary J. Blide. Apesar de todas essas inspirações, a produção que tem como nomes mais conhecidos as figuras de Salaam Remi e Key Wane consegue transformar a sonoridade em uma unidade coesa ao elaborar cada música com uma impressionante visão moderna do que seria cada uma dessas influências hoje em dia juntando com a identidade de Jazmine. Todo esse trabalho cria a impactante, viciante e beirando a genialidade. Além de tudo isso, o que também é um dos pontos forte é o fato do álbum inteiro fluir de maneira magistral: você começa a ouvir na primeira faixa e o álbum vai te levando sem você perceber música por música em uma jornada visceral. Ao mesmo tempo, contudo, cada música vai deixar uma marca em quem escutar conseguindo funcionar sozinhas. 

O fio condutor dessa jornada é o trabalho feito em Reality Show no quesito conteúdo, ou seja, as suas composições. Com o seu afastamento de cinco anos, Jazmine teve o tempo necessário para pensar e refletir sobre o seu papel como compositora e, por causa disso, voltou completamente refinada e com uma bagagem bem mais pesada de experiências pessoais. Tudo isso se manifesta nas composições do álbum em que retratam uma montanha russa de emoções que vão do amor até a traição, passando pela felicidade até a aceitação própria. Tudo vai surgindo de uma maneira nada forçada se transformando em uma crônica sobre a sua vida com começo e fim em apenas doze músicas. Sem versão deluxe ou bonus track. Direto e ao mesmo tempo arrasador, Reality Show é uma das obras mais impactantes dos últimos anos sem precisar ser a mais "comentada". Ouça a lindíssima Masterpiece (Mona Lisa) em que a cantora se acerta consigo mesma e tente não se encantar. Em Forever Don't Last, Jazmine toca fundo em todos que pensaram que iria viver um amor para sempre. Mascara discorre sobre os padrões de beleza perante a sociedade, porém, em um inusitado e criativo ponto de vista. Dumb, o mais comercial de todas as canções, abre com força o álbum, enquanto em Brand New é uma visão interessante sobre o mundo da música e a vida pessoal de artista e Stupid Girl mais divertido da cantora em uma canção deliciosa. Isso sem falar o resto do álbum que também é maravilhoso. E, depois de tudo isso escrito, eu tenho a certeza que o blog não poderia voltar com algo melhor e mais condizente com a sua proposta: a qualidade sempre ganha da quantidade de vendas, de prêmios, de fãs nas redes sociais, das posições nas paradas. entre outras coisas. E qualidade é o que tem sobre o trabalho da Jazmine Sullivan.

Um comentário:

Ronne Wesley disse...

Reality Show é simplesmente maravilhoso, Jazmine encanta com seu timbre peculiar que me dá arrepios só de ouvir.