19 de fevereiro de 2015

Primeira Impressão

Vulnicura
Björk



Durante muitos anos durante a minha adolescência eu olhava para a cantora islandesa Björk e pensava: "que coisa estranha!". Naquela época, eu ainda não tinha o conhecimento necessário para entender a importância da cantora para o mundo da música ou muito menos entender um décimo do que a mesma fazia como artista. Claro, ainda a acho bem "inusitada", mas reconheço que Björk é uma das artistas mais talentosas que surgiu nos últimos trinta anos. Apesar de ser conhecida por ser uma das artistas sempre na vanguarda em relação no quesito "imagem" (Björk é dona dos clipes mais ícones do final dos anos noventa e começo dos anos dois mil), a cantora mostra todo o seu potencial no seu "oficio": sua carreira é irrepreensível sem entregar um álbum que seja considerado apenas bom, mas sempre ótima para cima em que se destacam Homogenic de 1997 e Vespertine de 2001. E, novamente, Björk entrega um trabalho espetacular no seu mais novo álbum, Vulnicura.

Lançado antecipadamente devido a um vazamento na internet, Vulnicura mostra que Björk ainda vive em outro mundo e, por isso, sempre está na frente em relação a sua sonoridade, mesmo que nos últimos anos surgiram dezenas de artistas que "emolduram" a vertente minimalista eletrônico que consagrou a artista. Todavia, Björk ainda domina esse estilo como ninguém e em Vulnicura o refinamento alcançado só poderia ser entregue pela cantora que iniciou o estilo. Então, não espere uma viagem tranquila, pois, como em qualquer trabalho da cantora, a construção do álbum é complicada, "espessa" e caminha a passos de formiga. Só que quem conseguir vencer essas barreiras vai poder desfrutar de um deleite sonoro: uma estrutura minimalista como base, mas, que na verdade, é um conjunto intricado, rico e de uma grandiosidade inesperada. Trabalhando pela primeira vez com o produtor Arca (Kanye West, FKA twigs), Björk faz uma surpreendente decisão de começar Vulnicura de uma maneira mais orgânica para ir aos poucos introduzindo elementos eletrônicos chegando ao final do álbum completamente emergido nesses elementos. Em Vulnicura, porém, o maior destaque vai para as suas composições.

O álbum reflete o momento em que a cantora passou recentemente: o fim do casamento com o artista Matthew Barney. Por isso, Vulnicura é um álbum sobre desilusão do "fim do amo", mas, sendo da Björk, espere algo metafórico, enigmático e pensadamente exótico. Só que dessa vez a maioria das letras são mais identificáveis, isto é, está mais fácil entender o que a cantora está falando e, consequentemente, o público em geral se identificar com a mensagem da canção. No alto do seus 49 anos, Björk mantém intacta sua voz com as mesmas qualidade de sempre: o tom fantasmagórico/fantasioso, a versatilidade em transitar por lugares inesperados e, curiosamente, o fato dela abraçar com força o seu sotaque pesadíssimo utilizando para dar forma a suas interpretações. O grande momento de Vulnicura, em todos os sentidos, é a faixa Black Lake, um delírio de 10 minutos que prende a atenção do começo ao fim e ainda deixa uma sensação de quero mais no final. Ame ou odeie, mas é impossível não deixar de ficar passível diante da música da Björk sendo o que ela é.

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