4 de maio de 2018

Primeira Impressão

Dirty Computer
Janelle Monáe


Existem alguns nomes da música que, devido a vários fatores, estão em níveis artísticos completamente únicos. Normalmente, a gente tende a acreditar que esses artistas são apenas as grandes lendas da música, indo de Michael Jackson e Madonna até os Beatles e o Led Zeppelin, por exemplo. Essa noção, caros amigos, não é verdadeira, pois existem alguns artistas "menores" que, de alguma forma, encontram o caminho para o seu próprio "nirvana". Se existia alguma dúvida que a Janelle Monáe é um desses casos, o lançamento do seu terceiro álbum Dirty Computer veio para derrubar qualquer incerteza que poderia se ter sobre o lugar da cantora no meio musical contemporâneo.

Janelle Monáe chega a esse momento da carreira com uma bagagem perfeita em todos os sentidos: dois álbum aclamados universalmente (o revigorante debut The ArchAndroid de 2010 e o genial The Electric Lady de 2013 que foi escolhido por mim como melhor daquele ano), seis indicações ao Grammy, uma imagem em constante evolução, uma magnética personalidade artística em transformação constante, a edificação da sua voz como uma das artistas mais engajadas politicamente e, correndo por fora, a construção de uma promissora carreira de atriz. Além disso tudo, Monáe vem conquistando espaço na indústria fonográfica ao ser dona da gravadora Wondaland, lançando novos nomes de talento no mercado. Esses são apenas alguns pontos que ajudam a compreender a elevação da artista a um nível na carreira em que é ela é a única moradora. A chave de ouro que ajuda corroborar esse seu lugar no mundo da música é o resultado impressionante de Dirty Computer.


Novamente mudando a atmosfera da sua sonoridade como fez do primeiro para o segundo álbum, mas mantendo as mesmas bases sólidas de sempre, Dirty Computer vem para ser o álbum de transição e, ao mesmo tempo, de edificação da imagem da cantora como uma força da natureza. Envernizado com as cores do pop em sua finalização, o álbum é, na verdade, um rico, energético e de tirar o fôlego trabalho de R&B com geniais e incríveis flertes com indie R&B/pop, rock, hip hop, funk, neo soul e até algumas pitadinhas de bossa nova. Sem a pressão de criar canções de grande sucesso comercial, Janelle e a sua produção não tem medo de brincar com as mais diferentes texturas sonoras, indo profundamente em ideias que poderiam ser o freio para outras cantoras. 

Refinado do começo ao fim, Dirty Computer tem uma sonoridade que vai sendo modelada de acordo com a forma que a cantora precisa para ser a portadora da sua mensagem. Sempre coeso e de uma fluidez límpida, Dirty Computer é como uma refeição de oito pratos diferentes, mas que se comunicam entre si um após o outro. Maduro como poucas artistas no terceiro álbum, Dirty Computer não deixa, porém, de mostrar frescor revigorante no momento que a produção tira da cantora qualquer lugar confortável em que já esteve, fazendo o trabalho sempre ter aquele cheiro de coisa nova a cada melodia. Moderno quando Janelle deixa-se se abduzir por gêneros que até então não tinha se arriscado sozinha, Dirty Computer também sabe usar os alicerces originais da sonoridade da cantora para dar a base sólida de todas as música, pois quem ouve cada faixa sabe que as canções são obras de Janelle Monáe. Divertido, dançante, dinâmico, magnético, sexy, provocador, provocativo e de uma beleza estética quase perfeita, Dirty Computer falta aquela pomposidade elegante dos dois primeiros trabalhos da cantora. Todavia, essa falta é substituída pela sensação de organicidade sobre a artista já que estamos diante do álbum mais pessoal da sua carreira.

Recentemente se declarando como um mulher queerJanelle Monáe parece mais confortável na sua pele, refletindo pesadamente nas suas composições. Sem medo de falar sobre sexualidade, feminismo, empoderamento feminino, questões raciais, a cantora dá para Dirty Computer uma atmosfera politica e auto consciente que o coloca no mesmo nível de trabalhos como o da Beyoncé e do Kendrick Lamar. Isso fica bem fácil de notar ao ouvir os sensacionais singles: Make Me Feel e a sua ideia criada pelo Prince e a deliciosamente feminista Pynk. Outros grandes momentos do álbum ficam com a sensacional pop/rock/funk sobre se livre em relação a sua sexualidade Screwed com participação de Zoë Kravitz, I Got the Juice e a sua batida irresistível com participação do Pharrell Williams, I Like That e a sua declaração de amor próprio e a pungente critica a atual sociedade estadunidense em Americans. Dona de uma versatilidade musical imensa que transita entre o talento de cantora assim como o talento de rapper, Janelle Monáe consagra-se como uma das melhores artistas da atualidade, mas que encontrou um lugar no mainstream em que não exite ninguém na frente ou atrás.

Um comentário:

RAFAEL disse...

O filme é apaixonante também ! Uma das coisas q eu mais admiro nela é a capacidade q ela tem de escrever músicas emponderadoras, de uma força impressionante, eu me sinto fortalecido... Cada verso é uma "porrada" !