24 de agosto de 2025

Primeira Impressão

Ginkgo
Panchiko




Ginkgo, segundo álbum da banda britânica Panchiko, é um trabalho que tem um problema que atrapalha o resultado final de ser excepcional: o seu final. Não é exatamente um problema de verdade, mas, sim, um tropeço, já que a qualidade da parte final do álbum fica aquém da espetacular primeira metade.

Como já bem explicado, o álbum não termina da maneira como começa devido ao fato de a sua parte final perder a força que marca o seu início. Tenho que apontar que essa força perdida não é exatamente perda de qualidade, pois o trabalho apresenta uma coesão muito forte devido ao cuidado que a própria banda dá à construção da sonoridade, do instrumental e da atmosfera de maneira geral. O que acontece é que Ginkgo começa de maneira tão elevada que é fácil perceber a perda de força, indo do excepcional para o “apenas” bom nos seus momentos finais. Isso já é suficiente para fazer a gente sentir um solavanco que, infelizmente, acaba gerando certo ruído no contexto geral do álbum. Entretanto, como já apontado, é apenas uma queda do pico para a camada abaixo, deixando espaço de sobra para a gente se deleitar com um trabalho mágico.

Sonoramente, o álbum é um trabalho de indie rock/pop com injeções de post-britpop, psicodelia, art rock e dream pop que cria uma reluzente e cativante mistura de gêneros. O que mais impressiona no trabalho é que facilmente a condução poderia terminar sendo algo arrastado e tedioso devido à postura contemplativa que a banda imprime à sonoridade, mas, felizmente, o resultado é envolto em uma camada que faz a gente nunca exatamente saber para qual caminho ele vai seguir, mesmo conhecendo bem a estrada que a banda está trilhando. Essa qualidade é algo genial, pois surpreender o ouvinte com aquilo que ele já está esperando é um feito raro. Todavia, é isso que acontece no decorrer do álbum, até mesmo na sua parte final, mostrando que a banda consegue manter sua persona mesmo quando “erra”. E um dos melhores momentos deixa essa qualidade bem clara: Shandy in the Graveyard.

Ao resenhar a canção, apontei que era “uma das melhores surpresas em bastante tempo devido a ser completamente inusitada”. A faixa é um melódico e tocante indie rock com um instrumental maduro e muito bem conduzido. Nada inusitado aqui, mas Shandy in the Graveyard dá uma guinada grandiosa com a presença genial do rapper billy woods, que entrega um verso inspiradíssimo, mirando em uma mistura rica de poesia com flow tradicional. Com essa entrada, a canção cria uma quebra de expectativa ao receber toques de trip hop e experimental sem, porém, abandonar o caminho original. E isso é um feito complicadíssimo de realizar de maneira tão coesa e inspirada quanto o que se ouve na faixa. A volta do rapper na parte final, em um “outro”, é a cereja em cima do bolo.

Apesar de ser uma das bases do álbum, a canção não está sozinha, já que tudo começa com outro momento sensacional: Florida. Uma belíssima faixa de indie rock com leves, mas sentidas e belas pinceladas de trip hop e britpop, a canção realmente ganha vida graças à etérea e mágica performance do vocalista Owain Davies. Sinceramente, apesar da ótima produção, é preciso apontar que, sem a presença dele, Ginkgo não teria o mesmo resultado, pois, juntando o seu timbre único à forma magistral com que carrega cada canção, o cantor fornece toda a liga necessária para fazer o trabalho funcionar de verdade.

Isso é ouvido claramente na belíssima Lifestyle Trainers, em que o vocalista entrega uma performance que parece ter saído de uma canção indie rock dos anos noventa, mas com um verniz atemporal impecável. Outros grandes momentos do álbum ficam por conta da sonoridade vintage futurista de Honeycomb, em clara alusão aos Beatles, e da inspiração cativante de rock alternativo de Chapel of Salt.

Ginkgo é um trabalho que, mesmo não tendo um destino final à altura do começo da caminhada, é o tipo de jornada que merece ser trilhada.

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