31 de agosto de 2025

Primeira Impressão

Um Mar Pra Cada Um,
Luedji Luna



Tenho que admitir que venho sendo relapso com a minha atenção à música brasileira, especialmente à contemporânea. Felizmente, consigo recuperar um pouco dessa falta ao resenhar um dos melhores álbuns do ano, que, felizmente, é de uma artista brasileira: o magnífico Um Mar Pra Cada Um, de Luedji Luna.

Terceiro álbum da soteropolitana, o trabalho é um deleite sonoro que não apenas traz à vida o suprassumo da música brasileira, mas também revela outras influências da cantora, como soul, jazz e R&B. É uma fusão que funciona, especialmente por a produção compreender perfeitamente toda a áurea e o estilo sonoro da artista, entregando ainda um trabalho técnico espetacular. Esse segundo ponto, aliás, é o que realmente eleva Um Mar Pra Cada Um a um dos melhores trabalhos do ano de forma geral, rivalizando com produções internacionais da mais alta qualidade.

Intricado, maduro, elegante, profundo e exuberante, o trabalho instrumental apresentado no álbum é impressionante e magistral, pois consegue captar toda a essência de Luedji e de sua arte de uma forma que a coloca em outro patamar, sem que perca sua identidade original. Pode parecer estranho elogiar algo que deveria ser o básico, mas preciso destacar isso justamente porque, infelizmente, o aspecto técnico da música brasileira atual tem apresentado qualidade bastante questionável, especialmente nos lançamentos do nosso mainstream. E veja: não há nada de revolucionário em Um Mar Pra Cada Um — tudo aqui é feito na medida certa para valorizar a presença iluminada da cantora. Todavia, o básico aqui é executado com perfeição de sabor, textura e estética, criando um deleite sonoro verdadeiro, único e magistral. Toda essa excelência técnica existe para sustentar a força artística de Luedji Luna.

Dona de uma persona refinada, atemporal e aveludada, a soteropolitana é uma artista esculpida do mesmo material de nomes como Sade, Luís Melodia e Erykah Badu. No entanto, Luedji encontra completamente seu próprio lugar e identidade ao demonstrar uma visão única sobre sua arte, entregando performances espetaculares em uma sequência de grandes acertos. Existe, sim, uma linearidade vocal em sua presença, pois ela não precisa de grandes ápices vocais para mostrar a força do seu timbre grave, melódico e elegante. O que dá potência à sua presença é, além da constante qualidade vocal, a forma como sua voz vai preenchendo, como um líquido, todas as lacunas — de maneira definitiva, rica e graciosa. E “graciosa” talvez seja a palavra que melhor define a presença de Luedji.

Um dos melhores momentos do álbum mostra que, mesmo ao lado de outra artista de peso, Luedji se impõe lindamente — e isso acontece na magistral Harém, com a participação da também magistral Liniker. Uma excelente e envolvente faixa de R&B/neo-soul, a canção é adornada pela presença marcante da cantora de Caju, mas é Luedji quem dá o tom e imprime personalidade à música ao entregar uma performance graciosa desde os primeiros versos. Em Joia, a cantora reluz plenamente em uma interpretação que capta perfeitamente a batida dessa requintada balada soul, que serve também como uma homenagem ao grande Luís Melodia ao usar o sample do clássico Pérola Negra. A faixa ainda conta com um espetacular solo de guitarra do instrumentista Isaiah Sharkey.

Outros destaques do álbum incluem a deliciosa Karma, a brasilidade de Gamboa, a envolvente Kyoto e, por fim, a cativante Salty, com a presença sensacional de Tali. Um Mar Pra Cada Um é um daqueles álbuns que precisamos ouvir com atenção, tanto pela produção espetacular quanto pela presença magistral de Luedji Luna. E a cantora, não satisfeita, ainda nos presenteia com outro álbum neste mesmo ano — cuja resenha será publicada em seguida.

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