25 de dezembro de 2015

Primeira Impressão

Every Open Eye
CHVRCHES


Eu queria muito que algumas pessoas pudessem compreender que pop não é só o que faz o seus ídolos, ou melhor, pop é isso e muito além do que estilo adotado por esse ou aquele artista. Esse conhecimento, apesar de parecer supérfluo, seria o ideal para abrir as pequenas mentes dessas na direção de um novo mundo. Apenas dessa maneira será possível a descoberta de nomes como, por exemplo, a banda escocesa de CHVRCHES (pronuncia-se churches). O segundo álbum deles, Every Open Eye, mostra o quanto diverso é o pop.

Every Open Eye é um sólido e bem produzido trabalho de synthpop/eletrônica que precisa ser descoberto pelos verdadeiros fãs de música pop. O álbum é como uma pequena viagem nostálgica no tempo, caindo exatamente no ano de 1987. Uma época marcada pelas vozes de cantoras Debbie Gibson e Belinda Carlisle e as bandas Eurythmics e The B-52's que definiram uma época com seus sintetizadores, vocais delicadamente fortes e contando histórias de amor com uma saborosa dose de dramaticidade. Por isso, Every Open Eye parece o álbum perfeito para uma jovem americana vivendo em 1987 ouvir com seu toca-fita sentada na varanda da sua casa ao final da tarde de um verão escaldante no subúrbio de uma cidade do meio-oeste depois de levar o seu primeiro grande fora na vida. Um cenário perfeito, mas que tem um grande problema: quem ouve o álbum apenas "vê" essa cena, isto é, não "participa" do que está acontecendo. Every Open Eye dá a sensação de ser apenas para ser apreciado de longe e, não, ser sentido na pele. Isso não é exatamente um problema gravíssimo, mas, infelizmente, atrapalha o resultado final que poderia ter sido sensacional.

O grande ponto da quebra da principal expectativa em relação ao álbum são as suas composições. Escritas por todos os membros da banda (Lauren Mayberry, Iain Cook e Martin Doherty), as onze faixas (mais quatro de versões especiais) são elaboradas de uma maneira que exponha certo sentimentalismo em suas letras, mas que também não se deixar levar pela emoção ao ser milimetricamente cool e descolada. Claro, muitos podem ficar envolvidos de fato, mas não posso dizer que me envolveu. Envolto com tamanha nostalgia, eu esperava sentir mais e, não apenas, prestar atenção na parte técnica. Dito isso, também não posso negar que Every Open Eye é. na sua maneira, um álbum encantador. Na maior parte do álbum, a voz que ouvimos é de Lauren que entrega performances cativantes com a sua doce voz. Existe algo na voz dela de especial que ajuda a criar a atmosfera nostálgica. Um aspecto curioso é que no meio do álbum, mais precisamente na boa High Enough to Carry You Over, quem assume os vocais é dos integrantes masculino da banda, dando um toque de Rick Astley ao álbum que apenas aumenta a sensação dos anos oitenta. A sonoridade clean, sem muitos retoques espalhafatosos e a constante consciência de não ser pretensiosa é a qualidade principal de Every Open Eye que tem os seus melhores momentos em Make Them Gold, Clearest Blue, Empty Threat, Afterglow, Bow Down e, principalmente, na ótima Leave a Trace. Mesmo com alguns problemas, Every Open Eye mostra bem o quanto diverso e maravilho pode ser o pop. Basta olhar com cuidado e deixar as amarras em casa.

Nenhum comentário: