Lady Gaga
Esse humilde blog está na ativa desde o longínquo ano de 2008 mesmo ano que a Lady Gaga começou a despontar. Naquele mesmo ano publiquei minha primeira resenha sobre um trabalho da cantora que foi o single Just Dance. O começo da resenha dizia assim: “a cantora Lady GaGa (Stefani Gabriella Germanotta, seu nome verdadeiro) desponta no cenário musical trazendo um gênero quase esquecido: o pop eletrônico”. E desde então acompanha a carreira da mãe mostro bem perto durante todos esses anos, todas as eras e todos os altos e baixos. Por isso, posso dizer com propriedade: MAYHEM é um dos maiores ápices da carreira da GaGa.
Depois de um hiato de cinco anos sem lançar um álbum dentro da sua discografia principal, GaGa volta de maneira triunfal em um álbum que está a altura do hype criado, mas, principalmente, está a altura do talento da artista. Mesmo tendo uma carreira gloriosa, Gaga nunca entregou exatamente um álbum que mostrasse completamente o real motivo para a mesma ser uma das maiores forças da musica desde o lançamento do blockbuster Born This Way em 2011. Na verdade, em questão de qualidade, a cantora não atingia esse mesmo nível de qualidade desde o The Fame Monster em 2009. E a grande e genial qualidade que faz o álbum ter essas alcunhas é o fato do trabalho ser basicamente a visão da atual GaGa, plena e madura artisticamente, sobre quase todas as suas eras e, ao mesmo tempo, entregando um trabalho atual, único, excitante e épico.
Para quem acompanha com atenção a carreira da GaGa ao ouvir com cuidado MAYHEM vai notar que o trabalho é um condensado de todas as fases musicais da cantora, mas com um verniz brilhante e com acabamento magistral que faz as canções serem “atualizadas” para a imagem da atual artista. E isso é que faz o álbum ser tão especial. Ao contrário de se apoiar na pura e descarada nostalgia, GaGa e sua equipe de produção brilhante reconstrói essas influencias, atmosferas e sonoridades de uma forma tão refinada e inteligente que as transformam em um lufada monstruosa de frescor, especialmente comparando com atual cenário pop. E isso que distingue a cantora de outras artistas que tentaram seguir na mesma onda de reviver/recriar o seu glorioso passado, mas acabaram explodindo de maneira nuclear. Novamente, o resultado de MAYHEM é um atestado da genialidade da GaGa que chega em um dos seus momentos mais plenos até hoje.
Tenho que admitir que é um pouco complicado poder resenhar o álbum da maneira que gosto, pois, literalmente, coloquei nas minhas anotações todas as canções do álbum como destaque. E esse é outra imensa qualidade de MAYHEM: a sua gigantesca coesão. Apesar de ser maior sonoramente, Born This Way apresenta uma montanha russa de momentos que o deixa com algumas lacunas, colando o trabalho abaixo do resultado sólido do atual álbum. Então, precisei tirar algumas canções dessa resenha para editar o texto, mas preciso apontar que o álbum é um daqueles que precisam e merecem ser escutados do começo ao fim em toda a sua totalidade. E mais: um álbum que tem a canção mais “fraca” algo como o gigantesco hit Die With A Smile, "uma poderosa, épica e marcante balada pop rock com toques de pop soul que não entrega nada novo que consegue, porém, ser tão bem feita e cativante que fica impossível a gente encontrar defeitos", é um álbum realmente genial.
Sonoramente, MAYHEM é um trabalho refinadíssimo e magnânimo de dance-pop, pop rock, synth-pop, electropop e nu-disco que é literalmente as bases e raízes de toda a sonoridade básica da GaGa desde o começo em Just Dance. E assim como a abertura de um bom vinho que passou anos maturando, o resultado exala esse sabor de algo sofisticado, profundo, enriquecido e atemporal. E a jornada já começa de maneira a mostrar claramente qual é os caminhos que vão ser trilhado durante todo o álbum com a presença da sensacional Disease que é a volta para a era The Fame Monster/Born This Way ao ser “uma amalgama perfeito da sonoridade dark pop/electropop que a GaGa entregou nessa época, entregando uma força épica e monstruosa que particularmente sentia falta na sua sonoridade. Densa, dançante, épica e explosiva, a canção tem também essa noção de não ser apenas uma peça nostálgica, mas, sim, mostrar evolução clara e definida da sonoridade da cantora sendo que fica claro que a canção é uma continuação natural do que ela já fez ao invés de ser uma desesperada tentativa de voltar no tempo para voltar ser relevante”. Logo em seguida continuado a mesma atmosfera surge o que é a grande canção do álbum: a genial Abracadabra.
“É impressionante ouvir a capacidade da GaGa ao lado dos produtores Cirkut e Watt ao conseguir emoldurar todas as qualidades da era The Fame Monster, mas ainda mostrar originalidade e frescor incríveis. Abracadabra é uma eletrizante electropop, dark pop e electro house com uma batida hipnótica, grandiosa e impressionante que consegue ser dançante ao extremo e ter uma atmosfera tão épica. E essas é uma das qualidades da GaGa que estava faltando já tem um bom tempo, mas que é inundada em Abracadabra. E outra qualidade que faz a canção ser tão especial é a capacidade de entregar uma composição com tino pop refinadíssimo com uma mensagem com substância genuína, tendo um dos clichês e pontes mais grudentas da sua carreira”. E falando em composições, o álbum é com certeza o trabalho que melhor capta do começo ao fim a imensa, versátil, ácida e preciosa capacidade da GaGa de criar letras que possuem profundidade temática com uma estética pop tão perfeita e magistral. E um dos momentos de destaque para essa faceta é na desconcertante e viciante Perfect Celebrity ao ser uma crônica sobre a relação dos artistas/celebridades com a sociedade que os “consomem”. Em questão de sonoridade, a faixa é uma dance-pop com pop rock que emana certos traços de da era Joanne, mas com uma letra mais sombria e crua. É preciso dizer que GaGa não apenas referencia a si mesma, mas, obviamente, possui referencias dos artistas e dos gêneros que a fizeram ser a artista que é. E um dos momentos que melhor da para ouvir isso é na cativante e sensacional Zombieboy.
Homenagem ao modelo Rick Genest que participou do clipe de Born This Way e faleceu em 2018, a canção é uma celebração a vida em uma deliciosa nu-disco com toques de funk rock e synth-pop que busca se inspirar diretamente em nomes da disco como o Chic! e a Diana Ross. A canção tem a mesma vibe de Fashion! do Artpop. Lá do começo da carreira (The Fame) e as suas influencias e experimentos com o hip hop surge a eletrificada Garden Of Eden que até mesmo a maneira de como cantar lembra a cantora no começo da carreira. E por falar sobre cantora, GaGa entrega novamente performance totalmente magistrais que continuam a demonstrar o quanto impressionante é o seu talento, pois a mesma não apenas sustenta grandes canções com maestria divina como também injeta doses monumentais em canções que nem necessariamente precisaria de tamanha personalidade e força. Um ótimo exemplo disso é na cativante Don't Call Tonight em que a GaGa entrega vocais a 150% quando precisaria apenas 80% que já seria suficiente. E também adoro a repetição do nome dessa gloriosa disco/synth-pop que faz a gente lembrar diretamente Alejandro. E para quem pensa que a cantora esqueceu alguns momentos menos lembrados da sua carreira está enganado, pois em How Bad Do U Want Me é uma clara e inesperada alusão ao single The Cure. Na ousada Killah, a cantora parece ressuscitar a ousadia do Artpop, mas com um resultado bem menos caótico e mais polido. Vanish Into You tem traços da era de Chromatica sendo, porém, melhor que todo o trabalho. E a energia de LoveDrug é um aceno a estrutura sonora de Perfect Illusion. E a já citada Die With A Smile é uma referência ao era A Star is Born, especialmente a Shallow. Tenho que apontar que existe um traço da carreira da GaGa que ficou de “fora” em MAYHEM: as suas baladas épicas como em Speechless e, especialmente, You and I. Todavia, a balada pop rock emocional Blade Of Grass cumpre um papel parecido de maneira digna e inspirada. MAYHEM é a celebração da carreira GaGa por ela mesma, mas a sua genialidade é tão grande que o trabalho nunca cai no lugar de ser indulgente e/ou uma cópia de si mesma. Na verdade, o álbum é abertura celebração no mesmo nível que é atual e, também, um olhar para o futuro de umas maiores artistas modernas.
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