The Weeknd
Iniciada em After Hours em 2020 que teve o segundo capitulo em Dawn FM de 2022, a trilogia sonora do The Weeknd chega ao final apoteótico em Hurry Up Tomorrow. Apesar de não adicionar nada de novo na discografia do artista, o álbum deixa bem claro o total e perfeito domínio que o cantor alcançou na sua já refinadíssima sonoridade.
Acredito que seja melhor já começando a falar do grande e persistente problema dos álbuns do The Weeknd: o tamanho. Algo recorrente em vários artistas grande e já citados várias vezes aqui no blog, a duração de quase uma hora e meia e suas vinte duas faixas na versão normal é o responsável por não fazer novamente o trabalho ser melhor do que é, pois deixa muito espaço para se criar barrigas sonoras que vem a atrapalhar o rendimento do trabalho. Não que existe nenhuma faixa que seja abaixo da média, mas, sim, momentos de tropeços que atrapalham a coesão de Hurry Up Tomorrow, especialmente quando a gente compara com os vários ótimos momentos. Uma versão editada com umas cinco ou seis canções a menos teria feito o trabalho ganhar fluidez e assim terminar ainda melhor. Tirando esse fato, o álbum mantem basicamente intacto a persona do The Weeknd. E isso é o ponto alto do trabalho.
Para qualquer um que conhece até superficialmente a sonoridade do cantor sabe que estamos falando de uma mistura de synth-pop e R&B que dialogam entre si em certos momentos e em outros estão completamente separados, mas sempre são embebidos de uma força criativa imparável e incomparável refinada ao longo dos anos pelo artista e seus colaboradores ao longo dos anos. E apesar de introduzir novos elementos (o funk brasileiro é o principal e maior deles), o álbum segue essa linha de maneira clara, direta e perfeitamente executada, criando um ambiente de conforto para quem escuta sem nunca, porém, parar de fazer a gente ficar excitado em cada nova canção. Nem sempre as faixas estão no mesmo nível, especialmente devido ao fato que aponto antes, mas Hurry Up Tomorrow se torna maçante devido a sua sonoridade. E é impressionante a maneira “rígida” que toda a produção conduz os desdobramentos do álbum que vai sendo revelado todas as suas surpresas com fluidez, bom ritmo e uma cuidado imenso instrumental. Na verdade, analisado com mais cuidado acredito que essa seja o grande segredo do The Weeknd: o sempre incrível, rico e grandioso trabalho de arranjo que o acompanha sempre, pois devido a essa complexidade e inteligência é que a surge a base perfeita para que o mesmo possa explorar e apurar sua sonoridade. Nada aqui é feito de maneira que qualidade seja apenas um trunfo da estética, mas sempre seja dependente de um instrumental com substancia verdadeira. E acho que o melhor exemplo disso é a construção de duas das melhores canções do álbum e uma transição de cair o queixo.
Literalmente, quando ouvir a transição sonora entre Baptized In Fear para Open Hearts fiquei de boca aberta devido a sutileza surpreendente e magistral entre as duas canções e como a construção instrumental faz parece tudo tão fácil e fluido como se fosse parte de uma canção que nem muda drasticamente de sonoridade, tendo, porém, diferenças bem pungentes entre as duas. De um lado está Baptized In Fear, uma balada sombria e densa R&B com toques de pop e, do outro lado, Open Hearts que é uma completa e totalmente realizada synth-pop com a marca do cantor. Todavia, a ligação entre as duas vai se estabelecendo aos poucos quando na primeira canção vai adicionando batida e texturas de batida mais pop mais intensos, mas que no contexto da canção parecem se aliar com apenas a batida da canção e a construção do seu clímax. Só que tudo isso é a “introdução” da segunda que começa de repente de forma a fazer quem escuta se pego totalmente de surpresa, mas que logo percebe o “mecanismo” por trás. E essa ligação também é vista as composições das canções, pois a primeira é sobre um caso de overdose que aconteceu com o cantor e a segunda é a continuação dessa história. E é nesse quesito de composições que é preciso dar outro destaque.
Sempre afiado e completamente dono da sua estética, The Weeknd entrega novamente uma crônica de canções que lidam com dores amorosas, reflexões sobre a sua vida, desabafos sobre o peso da fama, narrativas sobre uso de drogas e sua relação com a mortalidade. Não é nada de novo, mas em Hurry Up Tomorrow tem as letras que parecem mais intimas da carreira do cantor. Antes haviam, sim, composições que revelavam bem os pensamentos dele, mas aqui soam ainda mais despidas emocionalmente em vários momentos, especialmente o envolvendo a mortalidade. E isso é bem raro de ouvir em um artista tão grande como o cantor que não soe como pretencioso ou como um truque. Dá para notar que existe uma verdadeira tocante, especialmente quando a gente perceber que como final de uma trilogia existe uma narrativa que sobre reflexão do passado que realmente faz sentido. Um dos momento mais tocantes da composição é no grande final em que o cantor faz uma honesta e emocionante crônica que parece analisar todo o seu passado para encontrar uma redenção no futuro na faixa que dá nome ao álbum Hurry Up Tomorrow. A canção também a performance mais nua e crua do cantor em que podemos perceber todo o seu timbre belo, melancólico e límpido. Outro grande momento vocal do álbum é logo antes do fim em que o cantor entre em modo épico em Without a Warning. Um ponto menos impressionante e que fica devendo são as participações especiais do álbum em que quase nenhum é aproveitada a maneira que poderiam, especialmente a do Florence and The Machine e da Lana Del Rey. Essa última, porém, a sua presença ainda é ajuda a elevar The Abyss devido a sua presença nos quarenta e cinco minutos do segundo tempo. A Anitta pode até ser interessante devido a introdução do funk, mas a canção é mais fraca do álbum. E isso aumenta devido que a produção soube aproveita o gênero bem melhor como sabe da ótima Cry For Me. Outros momentos de destaque ficam por conta da grandiosa abre-alas Wake Me Up e o bom e significativo uso do sample de Thriller do Michael Jackson, Timeless “que não é uma faixa que me atrai facilmente dentro da discografia do The Weeknd, mas Timeless tem uma construção instrumental tão interessante, especialmente na sua parte final, que realmente fico mais envolvido com a faixa que a média”, a sensual Niagara Falls e, por fim, a melancólica Take Me Back To LA. Com esse fim apoteótico, The Weeknd deve começar uma nova era que acredito que será finalmente a entrega da sua obra prima incontestável. Dedos cruzados.
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