31 de julho de 2013

Primeira Impressão

One True Vine
Mavis Staples

Peço desculpas antecipadas a quem possa ofender a minha próxima afirmação, mas eu devo dizer a verdade: a música gospel nacional é uma grande "droga". Não importa se são evangélicos que acham que cantar é o mesmo que pregar gritando como se estivesse tirando o "coisa ruim" do corpo da menina do Exorcista ou padres que acham que são cantores, mas não tem nenhuma noção do que é isso de verdade. Mesmo tendo alguns talentos, nenhum deles que tem algum destaque realmente produz nada que seja ao menos interessante. Tudo fica entre o medíocre para o péssimo. Ao contrario da produção musical gospel dos Estados Unidos e o motivo é até simples: música gospel deve ser mais que um veículo de evangelização, deve ser o verdadeiro conector da alma com o divino e sempre apoiada na qualidade "profana" de bons cantores, compositores e músicos. Claro que há uma diferença histórica na construção da música com a religião aqui e nos EUA, mas inspirar no gospel no americano não faria mal nenhum para os artistas tupiniquim. Ainda mais se for a lenda do R&B/soul/gospel Mavis Staples que lançou o maravilhoso One True Vine.

Para quem não conhece Mavis Staples, vamos ao uma rápida biografia: nascida em 1939 na Filadélfia, Mavis foi integrante do grupo de gospel/R&B The Staple Singers ao lado de seu pai e mais três irmãos. Formada em 1948 eles ficaram conhecidos na década de '70 com uma sequencia de hits como Respect Yourself e Let's Do It Again. Começou sua carreira solo paralelamente ao trabalho no grupo em 1969. Também desempenhou papel importante na luta pelos direitos civis. Seu legado é tão grande que nomes como Michael Jackson e Prince citaram ela como influência em suas carreiras. Aos 74 anos de idade, Mavis continua a provar seu talento e relevância com o lançamento do seu décimo quarto. One True Vine é defendido com uma paixão avassaladora aliado com uma experiência que só anos de carreira podem trazer. Sua voz não é a mesma que nos áureos tempos (como acontecer como qualquer artista), mas sua sabedoria em saber como usar ela é de uma genialidade ímpar e invejável. Além disso, Mavis ainda possui uma voz ainda poderosa, significativa e com um tom estupendo. A produção de Jeff Tweedy (líder da banda Wilco) é um dos trabalhas mais poderosos no ano até agora. Partindo da base que o gospel está no DNA de Mavis e o estilo é uma mistura, primordialmente, de soul e R&B, Jeff elabora uma coleção de arranjos grandiosos, sóbrios e tocantes com pitadas de uma atmosfera sombria que dá um tom de urgência nas mensagens passadas misturando-se à influências de blues e bluegrass. As composições são o que o bom gospel deve ser: não uma fonte de simples evangelização, mas de reflexão sobre a fé. Isso é feito de maneira magistral em letras acachapantes que podem fazer emocionar qualquer pessoa que deixar se abrir para essa experiência como na canção que abre o CD, a emocionante e forte Holy Ghost. Outros grande momentos do álbum ficam por conta da inspiradora What Are They Doing In Heaven Today? e a linda One True Vine. Mavis Staples dá uma aula em One True Vine não de apenas de como a religião deve se comunicar através da música, mas simplesmente de como fazer música de qualidade. Amém.

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