17 de junho de 2014

Primeira Impressão

Ultraviolence
Lana Del Rey


Foi assim que eu comecei o Primeira Impressão de Born to Die em 2012:


"Para tentar fazer a resenha do álbum de estréia de Lana Del Rey, Born to Die, é necessário seguir uma linha de raciocínio: Lana Del Rey é a versão em um mundo paralelo da Adele. Lana Del Rey é uma artista fabricada, dark, plastificada, indie, misteriosa, melancólica. Enquanto Adele seria a versão de um dos filmes de Woody Allen, Lana seria a David Lynch. Tão diferentes, tão geniais."

Quase dois anos e meio depois é preciso pegar a linha de raciocínio dessa introdução/definição em relação à comparação ao cinema para entender o novo álbum da Lana Del Rey. Anteriormente, a cantora era uma personagem de si mesmo desenhada exageradamente com cores fortes (como em Cidade dos Sonhos) para "chamar" atenção para sua música e, obviamente, para ela mesma. Depois de conquistar essa atenção, negativa ou positiva, Lana pode deixar de lado suas amarras mais pesadas, tirar a maquiagem mais forte e tirar as roupas de festa e ser uma cantora mais real (como em Blue Jasmine), mesmo sem perder a áurea que encantou os fãs. O resultado dessa nova/velha Lana Del Rey está impresso em Ultraviolence.

O grande resultado do caminho percorrido por Lana está na sua sonoridade: enquanto Born to Die tinha uma construção sombriamente pomposa e estilizada com um verniz comercial-que-não-quer-ser-comercial, Ultraviolence é naturalmente sombrio, mais cru na sua concepção e continua com o verniz, mas com um brilho mais fosco. Lana parece mostrar com mais afinco quais são as suas reais influências originais e não apenas usá-las como temperos especiais. Por isso, Ultraviolence é um álbum basicamente de indie rock com adições de pop ao contrário do antecessor que era um trabalho pop indie com toques de rock. A responsabilidade vem do produtor Dan Auerbach, vocalista da banda The Black Keys, que dá para o trabalho uma cara, não apenas mais rock, mas, também, mais crua, mais simplista, mais real e mais contida. Assinando mais da metade das faixas de Ultraviolence, Dan não esquece de respeitar de deixar as características marcantes da cantora como o lado sombrio, a melancolia, a delicada psicopatia que emana dela com toques de uma beleza pálida e triste. Todavia, devido aos trabalhos magníficos de instrumentalização em todas as faixas, em especial, das inserções das guitarras, a sonoridade aqui ganha uma atmosfera mais real e orgânica se transformando em um trabalho aflito e inquietante. E tudo isso, pasmem, é muito bom. Infelizmente, nem tudo são rosas em Ultraviolence.

Vocalmente, Lana deve ser sempre elogiada ou criticada já que a sua voz, mais que outras cantoras, é uma de suas características que defini ela e a sua personalidade. Porém, não podemos negar que, em Ultraviolence, podemos ouvir claramente a "evolução" da cantora que escolhe um caminho bem diferente do que fez em Born to Die: em vez de apostar em performances mais encorpadas e poderosas como uma cantora de uma big band sombria, Lana se torna mais visceral apostando em na versatilidade de sua voz usando o tom mais agudo e, alguns momentos, a sua faceta mais suave (quase um falar em alguns momentos). Isso dá para Lana uma atmosfera de acordo com a vibe da sua sonoridade: delicada e mais frágil no sentido de ser mais real e tocável. Provavelmente, muitos não vão gostar, por motivos diversos, mas como eu sempre admiro quem se arrisca em buscar uma evolução na sua jornada artística, eu dou uma avaliação positiva no geral. O que grande problema de Ultraviolence é o seu teor lirico. Sim, querido leitor, Lana continua em sua batalha quase épica para mostrar o lado sombrio da vida, mas com toda a beleza melancólica que um dia de frio pode trazer. Estão lá os homens perigosos, as drogas, as luzes da cidade, os carros antigos, as referências underground e a narradora presa em um filme noir. Todavia, ao contrário dos trabalhos anteriores, falta uma força motriz por trás das faixas que deixa o resultado final abaixo do esperado. Talvez em buscas de soar mais contida, Lana se despe de uma criação mais abundante de suas letras e, apesar de ser uma mudança interessante, faz com que parte da sua personalidade seja corrompida. Repito: não é ruim, pois, ao longo do tempo, ela tende a refinar cada vez mais. Os grande destaques do álbum ficam por conta das faixas a grandiosa Cruel World, Ultraviolence que ganha pontos surpreendentes em mostrar uma situação de abuso contra a mulher de uma maneira bem imparcial, o single Shades Of Cool, a enigmática Money Power Glory e a melhor do álbum fica a cargo da sensacional Old Money. Depois de ouvir Ultraviolence, acredito que o álbum tem tudo para poder marcar a recente história da música, ser um sucesso comercial e até de critica e o, mais importante, ser o começo de uma nova fase na carreira de Lana que espero seja tão prolifera quanto ao do Woody Allen e não como a do David Lynch.

Um comentário:

João disse...

Acho que entre os melhores deveria estar Sad Girl.
Enfim, adorei a resenha