1 de janeiro de 2017

Os 25 Melhores Álbuns de 2016 - Parte III




Parte I
Parte II


15. Full Circle
Loretta Lynn



"Aos 82 anos de idade, não espera-se que a cantora irá lançar muitos mais álbuns, mas intitular um trabalho de "circulo completo" parece ser uma mensagem bem clara. Se esse for o caso, Full Circle resulta em um trabalho realmente digno para ser considerado o último de uma carreira tão longa e importante. Produzido por Patsy Lynn Russell, filha de Loretta, e John Carter Cash, filho das lendas Johnny Cash e June Carter Cash, Full Circle é, ao mesmo tempo, um olhar para o passado com regravações de sucesso dela, uma homenagem a clássicos do country e uma maneira de mostrar ao público que ainda consegue estar na ativa ao introduzir novas gravações. Não espere nada de novo no sonoridade, pois Full Circle é um tradicional álbum country da melhor qualidade. As faixas soam realmente como terem sido gravadas no começo da carreira da cantora com a mesma atmosfera. Nada datado, porém, a qualidade instrumental é altíssima, ajudando a manter intacta a personalidade da cantora uma mistura de country e country gospel. Outro ponto importante é o fato de que Loretta Lynn com mais de oitenta anos continua com uma voz de fazer inveja em muitas jovens, cantoras de country ou não. As performances da cantora não surpreendem apenas pela firmeza que ela ainda tem, mas pelo fato de não parecer como uma voz de uma otagenária."


14. The Life of Pablo
Kanye West


"The Life of Pablo é um trabalho cuidadosamente bem produzido por você e umas duas dezenas de nomes talentosos. Por isso, achar qualquer problema técnico ou erro nessa parte seria uma inverdade. Todavia, dentro da sua megalomania de achar que esse álbum é o melhor de todos os tempos, você esqueceu de prestar atenção nas faixas do álbum para descobrir a verdade: The Life of Pablo é muito bom, mas não mais do que isso. Tudo feito no álbum sonoramente já foi realizado por você mesmo anteriormente, desde as ousadas elaborações estruturais até a mistura perfeita de dezenas de gêneros para criar o seu hip hop. Dessa vez falta, não apenas a sensação de novidade, mas a sensação de urgência que as suas músicas tinham. Havia um sentimento que as suas músicas precisavam ser ouvidas o mais rápido possível. Em The Life of Pablo, seja pelo conteúdo das composições ou pela campanha de marketing ou por suas atitudes, não existe esse fator tão necessário nos dias de hoje. O grande público precisa sentir essa necessidade. Nem mesmo o fato do álbum parecer contar uma história com começo, meio e fim não ajuda a criar essa necessidade de querer ouvir todas as faixas várias e várias vezes. Na verdade, não são todas que tem esse problema. Existe uma que serve como o momento que podemos ouvir o artista Kanye em toda a sua plenitude.

Ultralight Beam, faixa que abre o álbum, não é apenas a melhor do álbum, mas aonde podemos ver quase todas as qualidades de The Life of Pablo em estado bruto: o gospel e os samples. Como você mesmo disse, o álbum é um trabalho gospel. Não completamente, mas quando o gospel entra nessa equação parece que uma força divina domina a faixa e faz quem ouve entrar em transe. Uma especie de pregação em culto religioso que termina em uma revelação para as pessoas presentes. Extremamente bem produzida, participações espetaculares e uma composição que ameniza o esquema "eu,eu,eu", Kanye, meu amigo, você se torna incontrolável. O outro ponto positivo é o uso de uma quantidade enorme de samples. Muitos irão dizer que você exagerou, mas acredito que as escolhas de samples feitas para construir o álbum foram perfeitas, beirando a genialidade para ser sincero. Partes de músicas (letra, melodia ou a gravação original) e gravações de vozes foram escolhidas com um cuidado primoroso, mostrando o conhecimento o seu conhecimento musical. Esse é o artista Kanye."


13. untitled unmastered.
Kendrick Lamar


"Continuando com a sua viagem experimental pelo hip hop, os vários produtores envolvidos entregam uma visão parecida com o álbum anterior de Lamar ao fundir o hip hop com vários outros gêneros e estilos distintos para criar sonoridade transgressora, vigorosa e revigorante. Claro, como não são faixas esteticamente finalizadas, o resultado final fica um pouco abaixo do que poderia ser em um trabalho completo, mas só de imaginar que todas as canções têm essa qualidade sendo "sobras" é de cair o queixo. O grande ponto de discrepância entre os trabalhos e que mostra o que realmente faz a diferença ao determinar se um álbum de rap/hip hop são as suas composições."


12. Butch Queen
RuPaul


"Lançado para ajudar a promover a nova temporada do reality RuPaul's Drag Race, Butch Queen é um trabalho que mesmo caindo em nicho especifico (a música queer), consegue ser bem melhor que a maioria dos lançamentos do grande mainstream, além de ser o melhor álbum de RuPaul em anos. Sem nenhuma amarra pseudo-artística/intelectual por trás, RuPaul entrega uma explosão arrasadora de canções dançantes, carismáticas como pouca vezes eu ouvi aqui no blog, divertidas (até mesmo para aqueles que não estão familiarizados com a cena gay americana), despretensiosas, viciantes e, o mais importante, pop elevando a décima potencia. A mistura de várias influências como, por exemplo, música eletrônica com música latina e gospel com dance music transformam o álbum em um trabalho inspirado e atual, mas sem perder a pesada atmosfera das influências da clássica e atemporal cena da música gay dos anos oitenta e noventa já que RuPaul é uma cria desse período e um dos pioneiros em trazer essa sonoridade ao grande público. Com tudo um repertório de gírias queer e também de frases criadas por RuPaul, as composições de Butch Queen são perfeitas para fazerem o "lip sync for your life" como se não houvesse amanhã."


11. Blonde
Frank Ocean


"Em três anos de "fabricação", Blonde é a obra exata para cumprir com essa árdua tarefa, mesmo que não seja a obra perfeita. É necessário entender que conseguir ultrapassar ou igualar a qualidade que o cantor alcançou em channel ORANGE é praticamente uma missão impossível, ainda mais sendo apenas o segundo da carreira. Além disso, muito poucos artistas conseguiram entregar dois álbuns geniais em seguida e, muito menos, os dois primeiros. Mesmo assim, o novo álbum é um trabalho realmente poderoso que tem em qualquer uma das faixas qualidade muito mais alta que um álbum inteiro de nomes como, por exemplo, Chris Brown e Jason Derulo.

Como mostrado na resenha de Endless, Frank Ocean buscou uma sonoridade com uma pegada diferente para o novo trabalho. A base aqui é soul/R&B, mas o cantor vai além na procura de quebras as fronteiras da sua sonoridade, mesmo não sendo tão experimental como o álbum visual. Blonde é uma audaciosa jornada em um turbilhões de sons, texturas, influências, batidas, nuances e experimentações sonoras que até poderia resultar em algo confuso e sem personalidade, mas nas mãos fortes de Ocean consegue encontrar o seu caminho ao ter uma atmosfera contida e, principalmente, melancólica. Blonde é de uma grandiosidade comedida que é a perfeita maneira de mostrar toda a preciosidade da sonoridade Frank Ocean, característica "herdada" do neo soul. Infelizmente, o álbum não consegue ir no mesmo lugar de pura perfeição que Frank alcançou anteriormente. Entretanto, isso não é exatamente um grande defeito.

A produção de Frank Ocean que produz basicamente todo o álbum, sendo oito delas sozinho, parece prezar muito mais pela unidade sonora do que exatamente por criar músicas realmente autônomas. Não que isso seja problema, mas o impacto final é menor do que poderia se esperar já que é preciso ouvir o álbum inteiro para embarcar na vibe que Frank quer expressar em Blonde. Olhando por esse ângulo, o álbum foi lançado no momento certo devido ao ano ter sido da invasão do conceitual no mundo pop, apesar de não ser qualificado como sendo um. Essa sensação de unidade em Blonde é a base para contar as histórias por trás de cada composição presente no álbum."

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