22 de janeiro de 2017

Os 50 Melhores Singles de 2016 - Final






Parte I
Parte II
Parte III
Parte VI
Parte V



5. Me Espera (feat. Tiago Iorc)
Sandy


"Para quem foi, assim como eu, pré-adolescente ou adolescente nos anos noventa e começo dos anos dois mil deve ter sido fã de Sandy & Júnior. Se não foi deve, ao menos, lembrar de uma ou mais músicas dos irmãos cantores. Seja como for, existe uma memória afetiva em tornos dos dois cantores que marcaram uma geração inteira. Depois do fim da dupla, os dois entraram em carreira solo, mas, obviamente, sem alcançar o mesmo sucesso. Sandy, porém, conseguiu solidificar a sua carreira com a ajuda dos fãs das "antigas". Entretanto, a cantora não tinha provado o seu talento, apesar das tentativas de se transformar em uma artista contemporânea de MPB. Com isso em mente, ouvir Me Espera é um verdadeiro sopro de esperança.

Escrita por Sandy, Lucas Lima, seu marido, e Tiago Iorc, Me Espera é uma melancólica e delicada canção de amor que tem na pureza a sua maior qualidade. A pureza de vocais inspirados de Tiago e Sandy, confirmando o seu posto de melhor voz jovem da atualidade do mainstream nacional. A química simples e eficiente entre os dois cantores é reconfortante e ajuda a criar a atmosfera ideal para Me Espera e a sua contida instrumentalização. A canção é construída em nuances entre o pop indie, o folk e a MPB, ajudando a criar uma personalidade distinta para a canção ainda mais comparando com o atual cenário musical no Brasil. Muitos podem até achar a canção monótona, mas a sua suavidade e a lentidão são, na verdade, o que transforma Me Espera em uma obra tão especial. Talvez, a composição seja um pouco redundante em suas escolhas, mas é, sem dúvidas, um trabalho acima da média e lindamente emocionante. Me Espera é a canção que, talvez, seja o ponto inicial da virada na carreira da Sandy em que ela possa mostra o seu talento de verdade."


4. Good to Love
FKA twigs


"Parte de uma apresentação artística envolvendo música e dança feita por ela intitulada Soundtrack 7 em Manchester, Good to Love é, curiosamente, a canção mais comercial dela até o momento. Isso não quer dizer que FKA twigs perca qualquer resquício da sua personalidade. O que acontece é que a magistral produção de Rick Nowels consegue aparar algumas arestas soltas na sonoridade da cantora para, então, elevar a canção em um pedestal alcançável pelos meros mortais, mas sem perder o brilho celestial da áurea angelical/sombrio que FKA twigs mostrou ao longo dos seus primeiros trabalhos. Good to Love é uma união perfeita entre pop/R&B/eletrônico que não apenas mistura desses gêneros em suas essências, mas, também, adiciona algumas nuances como, por exemplo, uma atmosfera de R&B feito nos anos noventa. Com a sua composição de maior acessibilidade ao público, FKA twigs tem em mãos o veiculo perfeito para explorar a sua voz, entregando uma performance avassaladora cheias de camadas para expressar as dúvidas que surgem ao começar amar novamente depois de sofrer várias vezes. FKA twigs abre as portas para uma nova etapa em sua carreira. Uma etapa dentro do seu próprio mainstream."

3. Formation
Beyoncé


"Com o turbilhão social que os Estados Unidos enfrenta sobre a discussão sobre a diversidade na sua sociedade, especialmente o lugar do negro, Formation é a carta aberta da cantora em relação a sua posição sobre o assunto. Entretanto, não é apenas isso, mas, na verdade, como toda essa configuração social influencia a sua vida. A canção é basicamente uma ode sobre o orgulho de Beyoncé em ser negra com todas as características físicas ou não físicas. Em um momento tão conturbado, o fato de Khalif "Swae Lee" Brown, autor da canção, não criticarem de forma explicita o tema, não significa, porém, que a contundente critica não esteja lá de maneira avassaladora:

"I like my baby hair, with baby hair and afros
I like my negro nose with Jackson Five nostrils"

Ao exaltar o cabelo de Blue Ivy e dizer a felicidade por ter os seus traços como são, Beyoncé dá aquele tapa na cara de milhões que acreditam que a beleza é feita por um padrão, normalmente retirado de pessoas caucasianas. Além disso, a cantora ajuda a reconstruir a auto-estima e a dignidade de tantas meninas e meninos que se sentem extremamente diminuídos pelos padrões de beleza irreais e preconceituosos. Todavia, expor essa mensagem não significa ter como resultado uma boa composição. O que faz de Formation uma verdadeira obra genial é a capacidade de unir a mensagem com a estética, ou seja, a união entre a forma e o conteúdo. Lançando referências pop assim como referências sobre a sua própria vida (Illuminati é a melhor delas) durante toda a canção, a canção é contemplada por um trabalho avassalador com rimas afiadíssimas, construções sintáticas sensacionais e escolhas semánticas inteligentes que transformam a composição de Formation a melhor da cantora até hoje, especialmente o verso que o trecho acima for retirado. Entretanto, existe muito mais para ser "explorado" na canção.

Seguindo a linha dos seus últimos lançamentos, Beyoncé explora o seu lado experimental em Formation, mas sem perder o senso de criar uma música que possa atender as demandas do que pede um sucesso pop. Comprovando que não há necessidade de "farofar" para criar uma canção dançante. Só que Formation é mais que apenas uma canção dançante, mas, na verdade, uma verdadeira explosão de energia que mistura trap, hip hop e pop em um caldeirão hipnotizador. Entregando a sua melhor produção até o momento, Mike Will Made It ajuda a estabelecer ainda mais a nova sonoridade da cantora. O único problema é, porém, que a versão liberada para download é um pouco inferior a versão apresentada no genial clipe. Nessa segunda versão, Formation tem a sua estrutura alterada e ganha sample com de vozes de personalidades locais. Apesar disso, a canção não perde brilho suficiente para diminuir a sua qualidade, pois 2016 começa com Beyoncé chutando a porta, mostrando todo o seu poder. Agora, para os outros artistas, que os jogos comecem...."


2. When We Were Young
Adele


"Ao contrário da força de Hello, When We Were Young se estabelece na contemplação melancólica para construir a sua sensível e avassaladora instrumentalização conduzida perfeitamente por Ariel Rechtshaid. Do produtor, a canção ganha a impecável atmosfera soul music com uma forte carga old school que ajuda a mimetizar ainda mais a emoção da canção. Além disso, a estrutura da canção com todas as suas nuances como, por exemplo, o começo intimista para estourar em um momento poderoso, auxiliado com o maravilhoso trabalho de backing vocal. A composição não poderia ser mais direta e, ao mesmo tempo, mais poética: Adele narra um encontro informal com alguém do passado e, então, uma enxurrada de sentimentos voltam à tona. Todos esses sentimentos são os descritos acima, mas que não teriam o mesmo impacto sem a performance devastadora da Adele. Não é apenas pelo poder vocal, mas, principalmente, pela interpretação que a cantora dá para cada nota, elevando cada pequena emoção em um turbilhão arrebatador. Um trabalho memorável para uma cantora em seu melhor momento."


1. Freedom (feat. Kendrick Lamar)
Beyoncé


"Apesar de ser a mais "tradicional" na questão de sonoridade dentro de Lemonade, Freedom tem a mensagem mais avassaladoramente direta e desconcertantemente atual, principalmente devido ao cenário de tensão racial nos Estados Unidos. A composição fala sobre se libertar das amarras que a sociedade impõe, mas principalmente aquelas amarras postas por a gente mesmo e que nos impede de gritar por nossa liberdade. Liberdade de sermos quem somos sem precisar "prestar" conta ou muito menos se adequar ao comportamento que uma parte da sociedade acha que é certo. A construção de diversas imagens acachapantes (Estou dizendo a essas lágrimas que me deixem, me deixem/ E que a última delas queime em chamas) são as responsáveis para elevar Freedom em parâmetros estratosféricos, transformando a canção em um hino de protesto moderno assim como Formation. O diferencia aqui, porém, é a presença poderosa e perturbante de Kendrick Lamar em um verso desconcertante em todos os sentidos, mas é Bey que invoca a sua cantora gospel interior para dar o tom da sua performance épica em uma batida que une perfeitamente neo soul, hip hop e, claro, gospel para criar uma sonoridade impactante e inesquecível para quem ouvir."

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