20 de julho de 2017

Antes Tarde do Que Nunca - Grandes Obras (A Trindade Wonder)

Innervisions
Stevie Wonder



Qualquer um que algum dia fizer uma lista que tenha intenção de escolher quais foram os maiores artistas da música de todos os tempos estará cometendo um verdadeiro sacrilégio se não colocar nessa lista o nome do Stevie Wonder. Não é nenhuma equação quântica para ter que saber a importância de Stevie não apenas para a música soul, mas para a música como um geral com os seus mais de cinquenta anos de carreira. Então, como eu sei que Stevie Wonder é uma verdadeira lenda viva, resolvi fazer esse especial para tentar mostra um pouco da genialidade desse musico em três diferentes momentos da sua carreira. Para tanto resolvi escolher os três álbuns de maior importância na carreira dele e que fizeram de Stevie um dos dois artistas a vencerem três vezes o Grammy de Álbum do Ano: InnervisionsFulfillingness' First FinaleSongs in the Key of Life. Começo por ordem cronológica com a resenha do magnifico Innervisions que guarda uma história por trás impressionante. 

Lançado em 1973, Innervisions foi o décimo sexto álbum da carreira de Stevie que já tinha lançado no ano anterior o clássico Talking Book (ainda irei falar desse em outro momento do blog) e já tinha uma carreira já consolidada. Entretanto, foi apenas durante a década de setenta que, influenciado pelas inovações da época, e aproveitando a sua maturidade artística conquistada em dez anos de carreira que Stevie alcançou o seu status de mito da música. Antes de entrarmos mais afundo na parte musical é necessário ressaltar que o álbum não foi marcar apenas pela sua qualidade. Logo após o seu lançamento, o cantor sofreu um gravíssimo acidente de carro voltando de um show, ficando quatro dias em coma e com a séria possibilidade de ficar com danos cerebrais. Segundo relatos, apesar da longa recuperação, foi a presença da música na vida de Stevie que o ajudou a recuperar dos ferimentos e voltar ao mundo da música com uma nova visão sobre a vida que iria ser retratado melhor no seu próximo álbum Fulfillingness' First Finale que será o próximo na lista. Por enquanto, Innervisions é o foco principal da nossa analise.

Para começar a entender a grandiosidade de Innervisions é preciso saber que o álbum foi feito quase inteiramente pelo Stevie Wonder, ou seja, quase tudo ouvido aqui passou literalmente pelas mãos do artista. Arranjos, composições e produção são todas a cargo exclusivamente por Stevie, sendo que cerca de 80% da instrumentalização foram tocados apenas por Stevie. E duas músicas do álbum têm apenas a presença dele, incluindo backvocais. Comparando com os lançamentos de hoje em dia esse feito é algo realmente extraordinário, mas até mesmo para os parâmetros da época o feito é algo genial.  Entretanto, isso não seria o suficiente para colocar Innervisions no mesmo patamar que os grandes álbuns de todos os tempos. O que realmente faz o álbum uma obra de arte é a imensa qualidade artística que Stevie deposita no álbum.

Mesmo sem saber, Stevie Wonder estava criando uma verdadeira bíblia sobre o que é o soul music para as próximas gerações. Stevie foi capaz de criar em cerca de quarenta e cinco minutos uma sonoridade tão rica ao navegar belissimamente por uma intricada instrumentalização geral que, ao mesmo tempo, consegue prestar tributo a sonoridade clássica, conversar com as tendências daquela época como o uso de sintetizadores na criação dos arranjos e abrir caminho para todas as gerações que vieram depois. O maior trunfo de Innervisions é conseguir criar toda uma experiência sonora em cada faixa, isto é, Stevie constrói verdadeiros ambientes de imersão que têm a capacidade de fazer quem ouve entrar em uma viagem musical. Innervisions é bem isso mesmo: uma jornada sonora pelas criações de uma das mentes mais brilhantes da música contemporânea. Se fosse apenas sonoramente que o álbum se destacasse já seria suficiente para deixar o álbum em alto patamar, mas o trabalho vai um pouco além com Stevie entregando poesias em forma de composições.

Innervisions é quase um tratado magnífico sobre vários assuntos. Visions Higher Ground refletem sobre a espiritualidade de Stevie, sendo a primeira discutindo sobre a possibilidade de existir um paraíso e uma vida melhor na eternidade e a segunda tem como tema a reincarnação. A avassaladora Living For The City e a linda Jesus Children Of America atacam fortemente problemas sociais que parecem mais modernos do que nunca como, por exemplo, racismo, pobreza e violência policial. Já Don't You Worry 'Bout A Thing e o seu toque latino e Golden Lady possuem uma vibe mais positiva, falando sobre ser otimista e sobre a mulher ideal para ele amar, respectivamente. Enquanto a avassaladora triste All In Love Is Fair fala sobre as alegrias e as tristezas de amar e ser amado. Carregado pela presença quase transcendental de Stevie, Innervisions já seria o suficiente para fazer com que o cantor entrasse no hall das lendas da música. Todavia, o álbum é apenas uma dos tijolos na construção de um verdadeiro mito.

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