9 de julho de 2017

Primeira Impressão

4:44
Jay-Z



Arrependimento. Não é exatamente o melhor sentimento para sentir, mas em várias vezes é mais do que necessário para que possamos aprender com os nossos erros. Só que esse arrependimento é só valido quando temos a coragem de pedir perdão sinceramente. Esse é caso de Jay-Z e o seu décimo terceiro álbum 4:44: o álbum é praticamente uma carta aberta de pedidos de desculpas feito por um homem de quase cinquenta anos que, finalmente, encontrou a sua verdadeira maturidade. 

Para quem não estava morando embaixo de uma pedra nos últimos dois anos sabe do lançamento do Lemonade da Beyoncé em que a cantora, além de outras coisas, "desabafa" sobre as traições do Jay-Z e outros problemas conjugais. Empoderado e poderoso, Lemonade é uma daquelas obras que ficarão para a memória coletiva e, obviamente, ajudou a criar uma nova imagem de dois dos maiores artistas dessa geração. Em 4:44, Jay-Z "responde" as afirmações da esposa ao dizer: "sim, eu errei profundamente, peço perdão pelo o que fiz e agradeço essa nova chance que estou tendo na vida". Essa é, resumidamente, a linha de raciocínio no álbum em que o rapper constrói para falar sobre os seus erros, defeitos, aprendizados e esperanças. Em nenhum momento, porém, o rapper aponta dedos, pois consegue admitir que os erros dos outros não foram responsáveis pelos seus próprios erros. A sinceridade madura e o desprendimento emocional em que o rapper compõem as suas composições é algo que no mundo do rap/hip hop é algo bastante incomum, mas Jay-Z consegue elevar isso ao máximo ao mostrar a sua evolução com ser humano em um dos álbuns mais sinceros desde...aham? Lemonade. Além de fazer a total mea culpa em relação as crises em seus casamento, Jay-Z também passeia por assuntos pessoais como, por exemplos, amizades complicadas (indiretas para Kanye West voam como andorinhas no verão em vários momentos), a famosa briga com a Solange, a tal da Becky, o seu papel como pai, o aborto que Beyoncé sofreu e, o mais surpreendente, a revelação da homossexualidade da sua mãe em Smile. Esse é outro grande momento na carreira do rapper e, por consequência, o melhor momento do álbum quando Jay Z conta como a mãe sofreu em esconder esse segredo durante muitos anos e como isso afetou a sua vida durante anos. Ao aceitar a sua mãe, Jay-Z ajuda a quebrar várias barreiras que o rap/hip hop estabeleceu em torno da comunidade LGBT ao longo dos anos. É gesto pessoal, mas completamente poderoso para toda uma geração assim como o rapper não utilizar em nenhum momento a palavra "bitch" para se referir a uma mulher. Novamente um gesto simples e, possivelmente, pode passar desapercebido por muitos, mas que tem um força grandiosa.

Sonoramente, 4:44 é melhor trabalho de Jay-Z em anos. Depois do mediano Magna Carta Holy Grail, Jay-Z estava devendo algo que o recolocasse no seu devido lugar entre os melhores artistas da atualidade. E o caminho escolhido foi o do menos é mais. Com a produção sendo feita praticamente pelo No I.D com colaborações com o próprio rapper e o cantor James Blake, 4:44 se base na elaboração de uma sonoridade mais simples, mais direta e com muito menos rebuscamento que o trabalho anterior possuía. Não que 4:44 seja minimalista com batida quase despidas de instrumentalização, ao contrário, pois o álbum tem uma profundidade de ritmos, nuances, samples, texturas e sons para enriquecer essa mistura apurada de hip hop/rap com R&B e soul music. O que aconteceu é que a produção não é afetada ou exagerada para soar como maior que é de verdade. O álbum tem o tamanho ideal para ser a plataforma o momento em que o rapper está na sua vida pessoal e artística. Em relação a sua performance, apenas uma frase: Jay Z é a porra do Jay Z, ou seja, o melhor rapper em atividade. Ponto final. Além da já citada Smile, outros momentos de destaque do álbum são Kill Jay ZCaught Their Eyes ao lado do Frank Ocean, a faixa que dá nome ao álbum 4:44Family Feud com vocais da Beyoncé e Bam com Damian Marley. 4:44 não é exatamente o melhor da carreira de Jay Z, mas é uma obra que vai deixar uma marcar na sua carreira e na música como poucas obras nos últimos anos.

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