26 de novembro de 2021

Primeira Impressão

Solar Power
Lorde




O terceiro álbum da carreira da Lorde deve entrar na história como um dos álbuns mais divisíveis do pop das últimas décadas. Com o hype altíssimo do ovacionado Melodrama ainda reverberando mesmo depois de mais de quatro anos do seu lançamento havia a esperança de boa parte do público por uma nova bíblia do indie pop em Solar Power. Entretanto, um banho de água fria veio quando a Lorde mostrou o seu amadurecimento de maneira diferente do que todos esperavam: depressivamente solar. O resultado é, na verdade, uma tarde sob o Sol do outono.

O grande problema do álbum é que chega em um momento que tudo se torna tedioso, arrastado e bastante uma nota. Muitos estão culpando a produção de Jack Antonoff sem esquece que a Lorde é produtora também do álbum. E é por isso que tenho certeza que cada nota em Solar Power tem a personalidade da cantora impregnada do começo ao fim. Infelizmente, quem esperava um álbum sombrio ganha a versão de felicidade para a cantora. Na teoria, isso não é nenhum problema, pois mostra que a Lorde vem crescendo como compositora ao poder dar nuances para a sua sempre ácida e honesta lírica. Entretanto, apesar de continuar a construir imagens ótimas em canções realmente inteligentes, o resultado final não parece conectar com quem está ouvindo de maneira realmente real. Ao contrário das composições poderosamente desconcertantes dos álbuns anteriores, Solar Power é recheado de letras opacas, fofas demais e que não conseguem envolver o público de forma concreta. É como olhar uma pintura feita apenas de cores pasteis: lindamente pintado, mas com um resultado morno e nada inspirador. Digo isso pensando que a Lorde sempre entregou verdadeiras tapas na cara em cada composição.

Sonoramente, a produção entrega um bem pensado indie pop/rock inspirado nos anos sessenta/setenta que funciona até a pagina dois, pois depois perde qualquer excitação ao se tornar uma quase pastiche, tediosa e pretenciosa do que seria uma sonoridade com essa pegada. Existem, porém, três bons momentos que se destacam no álbum que conseguem funcionar na teoria e na prática: Solar Power “é o tipo de canção feita para a gente escutar em momentos de tranquilidade ou/e sentados sob o calor do Sol em uma manhã amena de primavera. Suave, delicado e deliciosamente aconchegante, a melodia linear da canção atrapalha quem esperava algo com impacto como, por exemplo, Green Light ou Royals, mas o ótimo trabalho instrumental consegue preencher algumas lacunas de forma ideal. Lorde entrega uma performance com a mesma vibe da produção, sabendo colocar certa acidez e uma dose cavalar de personalidade que combina perfeita com a sua persona artística”, Stoned at the Nail Salon com a sua “sensacional composição que remete a velha “Lorde triste”, mas com uma melancolia pesada que é resultado das suas vivencias e um tino sempre apurado para construção de momentos realmente inspirados e esteticamente pop como, por exemplo, o verso “Got a memory of waiting in your bed wearing only my earrings”” e, por fim, a inspirada e climática Fallen Fruit. Apesar de tudo, a Lorde mostra que consegue criar algo acima da média até mesmo quando erra a mão.

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